“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mosteiro de São Gregório - Monte Atos

O mosteiro de São Gregório fica entre os mosteiros de São Dionísio e o de Simonospetras a 20 m do nível do mar, sobre uma rocha na parte sudoeste do Monte Atos. O mosteiro é dedicado a São Nicolau, entretanto possui o nome de seu fundador São Gregório do Sinai, que depois de muitas experiências na Ásia Menor seguiu para o Monte Atos..

Entre as relíquias do mosteiro conserva-se: madeira da Cruz de Cristo, as tíbias direita e esquerda assim como a mão direita de Santa Anastácia de Roma, partículas de pele de São Caralampo, osso da face e outras relíquias de São Dionísio, o Aeropagita, Santa Júlia e de São Cosme e Damião.




sexta-feira, 27 de junho de 2008

Oração

Ó Amor, Amor divino, cuja paz e o amor não têm limites.
Ó Amor, divino Amor, que por amor pelo homem criaste o universo visível e invisível, que tudo manifesta, tudo mostra, tudo canta, tudo glorifica, tudo celebra, dia e noite, por toda parte e sempre a Tua presença invisível, dulcíssima e jubilosa:
A infinidade da Tua sabedoria,
A infinidade do Teu amor,
A infinidade da Tua misericórdia,
Com o seu silêncio, sua beleza, seu perfume, seu hino de louvor secreto.
Ó dulcíssima e odorante, secreta e silenciosa doxologia que as criaturas dirigem ao Seu Criador.
Ó meu Deus, meu Deus! Abre os olhos da minha alma afim de que eu possa ver, eu também, a grandeza da Tua natureza. Abre os ouvidos de minha alma para que eu ouça, eu também, esta salmodia, esta melodia que Te é destinada.
Ó Amor, divino Amor, que nos ofertaste gratuitamente os Teus Sacramentos por amor pelo homem.
Gratuitamente a graça do Batismo,
Gratuitamente a Crismação,
Gratuitamente o Teu Santo Corpo e o Teu Santo Sangue,
Gratuitamente até o Teu Paraíso.
Ó Amor, Amor divino, que por amor pelo homem deixou o céu e veio para levar uma coroa de espinhos e ser pregado na Cruz.
Ó Amor, divino Amor, que por amor espera que venhamos nós para junto de Ti, e que vieste Tu-Próprio entre nós. Tu vieste entre nós e Te manifestaste de maneira diferente a cada um de nós.
Tu Te tornaste visível, Te deixaste tocar, foste sacrificado; nós Te comemos, nós Te bebemos.
Ó Amor, Amor divino, deixe-me aproximar para provar um pouco deste amor que é o Teu, ele que sem cessar arde em mim a tal ponto que não posso encontrar o repouso e saciar um pouco de minha sede.
“E a lembrança de Deus estava em meu coração, como um fogo devorador que penetra até dentro dos meus ossos”.
Ó sêde, sêde, minha doce sêde; quando serei eu desalterado? Pois quanto mais eu bebo, mais tenho sêde de Ti; tenho sede e não posso ser saciado nem desalterado, antes ainda ardo mais desta minha sêde.
Ó Amor, divino Amor, mais tento eu Te provar para ser saciado de Ti, quanto mais me aproximo de Ti, mais longe me encontro.
“Aqueles que Me comem terão ainda fome, aqueles que Me bebem ainda terão sede”.
Ó Amor, divino Amor, que por nós homens exclamou e não deixa ainda e clamar: “Eu sou a Luz do mundo; Eu, Luz vim ao mundo”.
Ó Luz, Luz de toda eternidade. Luz, minha dulcíssima Luz, ilumina também as minhas trevas, dissipa a minha insensibilidade, a minha vertigem.
Ó Luz, Luz, quando ver-Te ei?
Vem Luz, Luz de minha alma; eu não tenho mais paciência, não a tenho mais.
Ó minha alma, minha alma, até quando guardarás os olhos fechados?
Fui eu quem os fechei por esta desobediência.
Ó minha alma, minha alma; como fui injusto para contigo; ao me recordar choro amargamente como um outro Pedro, eu deito lágrimas mui amargas.
Mas, vem tu também para a Luz, posto que estás cego e Ele que é a Luz Te abrirá os olhos. Verás então novamente e tal como um outro Tomé, exclamarás: “Meu Senhor e meu Deus!”.
Ó Verdade eterna...
Amém.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Incêndio na floresta de Platina na Califórnia ameaça o Mosteiro de São Herman do Alasca

Pedido de oração

O Reverendíssimo Bispo Maxim da Diocese americana Ocidental, do Patriarcado da Sérvia pede a todo povo ortodoxo orações pela proteção do Mosteiro Ortodoxo de São Herman.

O fogo está se aproximando ameaçadoramente do Mosteiro e são grandes as possibilidades de ser inteiramente destruído.

A comunidade monástica foi evacuada para a cidade próxima de Redding, onde encontraram abrigo nas casas de paroquianos da Igreja de Santo André.




terça-feira, 24 de junho de 2008

OrtoFoto

Metropolita Basílio ( 1914-1998), Biała Podlaska - Polônia
autor:Tadeusz Żaczek

“Testemunhar em uma Sociedade Secularizada”

A Igreja ortodoxa conheceu no século XX a confrontação com o mundo secularizado sob diversas formas. A dispersão dos ortodoxos pelo mundo inteiro, por razões econômicas e políticas, teve por efeito levar culturas de países tradicionalmente ortodoxos à existência minoritária nos países ocidentais em vias de lenta secularização – fenômeno iniciado já há algum tempo, mas fortemente acelerado no século XX.

É a secularização que conhecemos todos em nossos países industrializados, em particular da Europa ocidental. Trata-se deste estado de sociedade onde o ser humano é mais ou menos consciente e implicitamente definido pelas suas dominantes necessidades de base econômicas e sexuais.

Resultado, a necessidade de transcendência, a nostalgia de Deus, nas sociedades “tolerantes” tornou-se uma das múltiplas facetas da existência, reconhecidas como um dos “direitos” que o ser humano pode reivindicar. Trata-se, cada vez mais, de um direito “privado” para um ser humano fortemente compartimentado, sem grande relação com os outros compartimentos que sobressaem da vida social e política, únicos aspectos verdadeiramente “sérios” da vida humana.

Conhecemos todos estes tipos de secularização que caracterizam nosso mundo livre, fundada sobre o bem-estar material e sobre uma concepção implicitamente materialista do homem, onde a transcendência é uma opção “a mais”. É uma secularização mais ou menos inconsciente, resultado de certo desenvolvimento cego, em partes, de um humanismo fechado: o homem é um ser auto-suficiente, fechado em si-mesmo, divinizado em si-mesmo. Não tem mais lugar ou razão de ser. Ele (o humanismo) não serve mais, ou melhor, a rigor, para revelar o quê ainda permanece, pelo momento, inexplicável cientificamente.

A Igreja Ortodoxa, quanto a ela, conheceu ao curso deste século e nunca conheceu em outros tempos, uma secularização dum outro tipo: uma secularização totalmente consciente, ideologicamente fundamentada, um ateísmo ativo cujo objetivo confessado era a erradicação, a termo, da dimensão religiosa do homem, torná-lo um ser inteiramente social, sem transcendência alguma. Tratava-se de uma secularização que tornou-se religião de Estado.

Eu gostaria de falar, poderíamos melhor compreender, da Igreja Ortodoxa Russa da qual faço parte. Não é pelo espírito de paróquia que o faço, mas antes porque tenho a convicção de que o quê a Igreja russa vive desde a Revolução bolchevista de 1917 afetou a Igreja ortodoxa inteiramente, e não por ser por lá: o quê ela viveu, e o quê ela vive, concerne a outros cristãos do mundo e, ainda mais longe, a todos os homens.

Em efeito, o quê se passou em 1917 na Rússia foi o fim brutal e sangrento de uma situação multi-secular. Parece-me importante não esquecer que a queda do Império russo não passou de um acontecimento puramente político. Tratava-se da supressão repentina, e talvez para sempre, duma situação na e da Igreja, vista por muitos, como quase que perfeita: o império cristão.

Depois da queda de Constantinopla em 1453, aos olhos de muitos ortodoxos o archote de Bizâncio foi retomado, pouco tempo depois, pelo que devia vir a ser o Império da Rússia. Ora, ainda uma vez, aos olhos de muitos ortodoxos, a célebre “sinfonia” bizantina é a existência ideal para a Igreja daqui de baixo: o casamento perfeito entre a Igreja e o Império cristão, onde o Imperador, enquanto primeiro leigo da Igreja (leigo no sentido nobre, ativo), é tão responsável pela fé e pela vida da Igreja como o patriarca e o episcopado.

Isto é a tal ponto a convicção íntima de muitos ortodoxos, sobretudo russos, para os quais o Império é uma realidade perfeitamente recente, que não somente consideram esta situação político-religiosa como uma imagem do Reino celeste, mas como sugeria um teólogo ortodoxo falecido recentemente, o Padre Alexandre Schmemann, eles invertem a proposição e pensam, quase que conscientemente, que o Reino dos Céus será necessariamente à imagem do Império sinfônico de tipo bizantino. (Os ortodoxos que conhecei aqui não são, a este respeito, representativos).

Foi o desabamento repentino desta situação, considerada como imutável e representando como espécie de garantia, a perenidade do ideal bizantino, que a Igreja ortodoxa do mundo inteiro assistiu.

A Igreja ortodoxa russa, de sua parte, se encontrava repentinamente desapossada de uma situação que instalou-se havia um pouco mais de 200 anos: Igreja do Estado, mais ou menos funcionalizada. Seu Santo Sínodo tornara-se um ministério do Estado dentre os outros, tendo um ministro leigo na maior parte do tempo. O clero era uma classe social à parte (era-se geralmente padre de pai a filho); devia-se ser membros nominalmente da Igreja (com obrigação pelos funcionários de realizar um mínimo de dever religioso). Em outros termos, presenciava-se a uma situação mais ou menos secularizada, no sentido da secularização lenta, questionada mais acima.

Com certeza, só evoco aqui aspectos negativos de uma situação da Igreja russa que tinha outras coisas a dizer. O período dito “sinodal” da Igreja russa viu outras coisas positivas: o resplandecer de um São Serafim de Sarov, o renascimento do pensamento religioso e dos estudos patrísticos, a Filocalia, o concílio de 1917, a vinda para o cristianismo de socialistas marxistas ou marxizantes – Serguei Bulgakov, Nicolas Berdiaev, Georges Fedotov – que trouxeram com eles, do socialismo, a preocupação social e então política.

De um dia para o outro, a Igreja se encontrou privada de todos os seus privilégios e, sobretudo confrontada com uma questão crucial: a Igreja estava ligada até a identificação com o Estado “cristão” que acabava de desaparecer? Se sim, ela não pode mais existir sob o novo regime ateu e perseguidor. (Alguns o pensaram e continuam ainda a pensar).

Todavia, dentre os responsáveis da Igreja russa que sobreviveram às execuções, aos emprisionamentos e à deportação, muitos compreenderam que não somente, a Igreja da Rússia, não estava identificada ao Império, o quanto cristão que ele fosse, mas se lembraram e descobriram que a Igreja, em todos os tempos e em todos os lugares não pode se identificar com nenhum regime sócio-político, porque ela não é deste mundo. Em contrapartida, compreenderam que ela pode e deve existir sob não importa qual regime sócio-político (que seja até anticristão) porque ela é chamada a existir para a salvação do mundo, e não para o seu bem-estar interno.

A respeito disto, é interessante constatar que um dos bispos que tomaram em mãos os afazeres da Igreja após a morte do Patriarca Tikon, o futuro Patriarca Sérgio, havia dito a seus estudantes desde 1905 que a Igreja não podia em caso algum se identificar a uma situação sócio-política qualquer e, por conseguinte, “se instalar” nela. É ele também que diz com nitidez, pouco depois de 1925, que o marxismo e o cristianismo eram filosoficamente incompatíveis (antropologia), mas que um cristão podia ser um cidadão leal de seu próprio país, sendo este marxista ou ateu.

Em seguida, a Igreja na Rússia pagava a preço de sangue dos mártires e também, é necessário dizer, o preço dos compromissos da parte dos responsáveis (geralmente contrários e forçados a discursarem mentiras). E portanto esta Igreja reduzida ao silêncio, por um regime que prega uma sociedade totalmente secularizada, encontra (em seu silêncio) um papel profético no seio desta sociedade. O admirável trabalho que fazem um grandíssimo número de pastores (bispos e padres) por detrás das cortinas da mentira traz frutos: cada vez mais as pessoas vêem pedir o batismo nesta Igreja, num momento onde nos perguntamos acerca da morte e do verdadeiro sentido da vida. A educação recebida, o marxismo-leninismo não tem nada a oferecer.

A partir do exemplo da Igreja russa, os outros ortodoxos quase todos tiraram uma lição vital: o lembrete, sem dúvida, quisto por Deus, que a Igreja não é identificável a nenhuma situação sócio-política e que ela é, por conseguinte, chamada a esclarecer todas as situações sócio-políticas: que o esclarecimento, ou o testemunho pode ter formas diversas, segundo as situações sócio-políticas (e segundo também a vocação de cada um) indo da pregação sobre os telhados ao silêncio, onde somente o comportamento testemunha o Cristo.

No que concerne aos ortodoxos vivendo em minoria, geralmente enfermos, em países onde, com os outros cristãos, são confrontados à sociedade que se seculariza, de maneira menos militante que nos países do Leste, foram eles também obrigados a tomarem algumas lições de história. Desraigados de partida, minoritários em seguida, tiveram a escolha entre a vida fechada em um gueto, bem protegido no meio de um mundo no qual participamos (ou recusamos participar), “por outro lugar” (quer dizer, fora de seu cristianismo ortodoxo) e o encontro com os outros cristãos (e os não cristãos), o que implica a questão fundamental: o que faz a própria essência íntima do cristianismo ortodoxo?

Se a resposta é uma identificação nostálgica deste cristianismo com uma situação geográfica, política, étnica e cultural, então não há verdadeiro encontro: existe somente uma confrontação comparativa. Se a resposta não é esta identificação, então ela conduz à necessidade de distinguir o secundário do fundamental. Ela leva a uma redescoberta, por um processo de humildade, de despojamento, de kenosis da Igreja a partir de sua natureza mais profunda: o anúncio da Boa Nova do Cristo morto e ressuscitado que oferece a todos os homens a participação à vida nova. A Igreja, o Corpo de Cristo, é o local (não geográfico) onde esta participação já é possível. Consequentemente, seu lugar no mundo é aquele do coração desta vida nova, já invisivelmente e misteriosamente presente. Seu papel é o de descobrir no senso profundo do “uncover”, de desvendar, em todas as situações, em todos os sofrimentos humanos o esclarecer divino.

O papel profético da Igreja não é o de predizer o porvir (prometendo um mundo melhor para amanhã). Um bispo da Igreja da Inglaterra do século XVII, Lancelot Andrewes, grande pregador, dizia que no Antigo Testamento, quando o Espírito Santo falava aos profetas, Ele anunciava o Cristo; no Novo Testamento, a profecia, é o Espírito Santo que fala pelos pregadores (todos aqueles que de uma maneira ou de outra anunciam a Boa Nova) e não é mais a predição do porvir, mas a abertura, a descoberta, de cada situação em sua dimensão divina, em seu esclarecimento divino. Pois que toda situação é susceptível de ser transfigurada quando nós (a Igreja) nos lembramos pelas nossas palavras e pela nossa vida (por vezes pelo preço de nossa vida) que o homem é à imagem de Deus e que por conseqüência, ele responde, a cada instante, enquanto sacerdote e rei, por tudo o que Deus criou. Em primeiro lugar, pelos homens, nossos contemporâneos.

Nosso papel na sociedade secularizada, não é antes de tudo o de mudar as estruturas para que elas mudem o homem. Nosso papel é o de buscar deixar Deus falar a cada ser humano que encontramos para que em sua situação, em seu sofrimento, em sua alegria, ele descubra que ele é à imagem de Deus e amado de Deus, e que se ponha também a difundir o resplendor desta descoberta em torno de si. Assim então as estruturas podem, elas também, melhorar, em conseqüência de uma maior consciência dos seres humanos.

Quanto as nossas estruturas na Igreja, no estado atual do mundo secularizado, tenderiam pela fraqueza humana a se secularizarem, elas também, e a tornarem-se por ai mais um objeto de escândalo do que um instrumento de salvação. A nós cabe-nos lembrar, com uma memória ativa, que nossas estruturas devem refletir a natureza profunda da Igreja, Corpo de Cristo, imagem do Pai e portadora do Espírito Santo. Consequentemente, não podem elas ser carismáticas e jamais políticas. Não são estruturas de poder. Hierarquia não é dominação. Se na humildade, na kenosis, nossas estruturas de Igreja não deixam de tornar-se carismáticas, no próprio sentido, quer dizer, vividas como o exercício em Igreja dos dons do Espírito Santo, podem tornar-se um sinal profético para o mundo que crê.

Eu gostaria de acrescentar que para nós ortodoxos, a este respeito, o desafio ecumênico é particularmente precioso. Ele deveria nos forçar a nos recordarmos de maneira permanente e sempre renovada da verdadeira natureza da Ortodoxia, aquela que subsiste no melhor de nosso ensinamento e é nada além do que a fidelidade à fé católica e apostólica. Ele deveria, então, nos forçar a nos re-convertermos perpetuamente à pureza da Ortodoxia, em nossa existência histórica tanto quanto em nosso ensinamento.

Por Nicolas Lossky
Contacts – revue française de l´orthodoxie
XXXVIII année – nº136 / 4e trimestre 1986
Tradução do Manastir Sv. Apostola Petra i Pavla, BiH.
Boletim Interparoquial, junho de 2008

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mosteiro de Xenofontes - Monte Atos

O mosteiro de Xenofontes encontra-se na planície junto ao mar na parte sudoeste do Monte Atos. Segundo a tradição São Xenofontes fundou o mosteiro no ano de 520. Dados históricos testemunham, que o mosteiro foi fundado por outro São Xenofonte no século X. Em 1817 o mosteiro incendiou-se e o igúmeno Filoteo o reconstruiu.

Neste mosteiro preserva-se: madeira da Cruz de Cristo, a mão direita de Santa Macrina, partículas de relíquias de São Jorge, partículas do osso da face de Santo Estevão e ossos faciais de São Trifon.




sexta-feira, 20 de junho de 2008

OrtoFoto

Sérvia
autor: Milica D.

“Serão salvos os heterodoxos?”

Se a Fé ortodoxa é a única fé verdadeira, poderão os cristãos de outras confissões, serem salvos?

Poderá uma pessoa que tenha levado uma vida perfeitamente justa ser salva confiando na sua ascendência, mesmo não sendo batizada como Cristã?

Respostas às perguntas acima: “Pois diz Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm. 9, 15-16). Na Igreja Ortodoxa nós temos o caminho da salvação indicado a nós e nos são dados os meios pelos quais uma pessoa pode ser purificada moralmente e ter uma promessa direta de salvação. Nesse sentido São Cipriano de Cartago diz que “fora da Igreja não há salvação”. Na Igreja é dado aquilo do que o Apóstolo Pedro escreve aos cristãos (e só aos cristãos): “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência. E à ciência temperança,e a temperanca, paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pe. 1, 3-8). E o que é que se deve dizer daqueles fora da Igreja, que não pertencem a ela? Outro Apóstolo nos provê com uma idéia: “Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai pois dentre vós a esse iníquo” (1 Co. 5, 12-13).. Deus “compadece-se de quem quer...” (Rm. 9, 18). Só é necessário mencionar uma coisa: que “levar uma vida perfeitamente justa”, como expressa a pergunta do início do texto, significa viver de acordo com os mandamentos das beatitudes - o que está além das forças de alguém fora da Igreja, sem a ajuda da graça que é concedida dentro dela.

A pergunta: Poderão os heterodoxos, isto é, aqueles que não pertencem a Ortodoxia - a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica - serem salvos, tornou-se particularmente dolorosa e aguda em nossos dias.

Tentando responder essa pergunta, é necessário antes de tudo, lembrar que em Seu Evangelho o próprio Senhor Jesus Cristo menciona só um estado da alma humana que infalivelmente conduz à perdição: blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt. 12, 1, 32). O Espírito Santo é, acima de tudo o Espírito de Verdade, como o Senhor se referia a Ele. Consequentemente, blasfêmia contra o espírito Santo é blasfêmia contra a Verdade, oposição consciente e persistente a Ela. O mesmo texto deixa claro que mesmo blasfêmia contra o Filho do Homem, isto é, o Senhor Jesus Cristo, o Filho Encarnado do próprio Deus, pode ser perdoado, pois ela pode ser pronunciada em erro, e/ou ignorância, e subseqüentemente pode ser apagada por conversão e arrependimento (um exemplo de tal conversão e arrependimento de um blasfemo é o Apóstolo Paulo) - ver Atos 26, 11 e 1Tm. 1, 13. Se, no entanto, alguém se opõe à verdade que claramente aprendeu por sua razão e consciência, esse alguém torna-se cego e comete suicídio espiritual, pois com essa atitude ele iguala-se ao demônio, que acredita em Deus, mas tem medo d’Ele, ou melhor, odeia-O, blasfema-O e se opõe a Ele.

Assim, a recusa do homem em aceitar a Verdade Divina, e sua conseqüênte oposição, faz dele um filho da danação. De acordo com esse fato, mandando Seus discípulos pregar o Evangelho o Senhor lhes disse: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc. 16,16); esse último ouviu a Verdade do Senhor e foi chamado a aceitá-La, no entanto recusou-A, herdando por isso a condenação daqueles que “...não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts. 2, 12).

A Santa Igreja Ortodoxa é o repositório da Verdade divinamente revelada, em toda sua totalidade e fidelidade à Tradição Apostólica. Consequentemente, aquele que deixa a Igreja, que intencionalmente e conscientemente sai fora dela, junta-se ao rol de seu Oponente e torna-se um renegado em relação à Tradição Apostólica. A Igreja anatematiza terrivelmente tais renegados, de acordo com as palavras do Apóstolo Paulo (Gl. 1, 8-9), ameaçando-os com a condenação eterna e chamando-os para regressar ao redil Ortodoxo. É, no entanto, claramente evidente, que os cristãos sinceros que são Católicos Romanos, ou Luteranos, ou membros de outras confissões não-ortodoxas, não podem ser qualificados como renegados ou heréticos, isto é, aqueles que com conhecimento perverteram a fé... Eles nasceram, foram criados e seguem vivendo de acordo com o credo que eles herdaram, como o faz a maioria daqueles que são ortodoxos; em suas vidas não houve um momento de renúncia consciente e pessoal da ortodoxia. O Senhor, “que quer que todos os homens se salvem...” (1Tm. 2, 4) e que ilumina todo homem nascido no mundo (Jo. 1, 43) indubitavelmente os está conduzindo para a salvação no Seu próprio modo.

Com referência a pergunta acima, é particularmente instrutivo lembrar a resposta dada certa vez a um inquiridor pelo abençoado Teófano o Recluso. Ele respondeu mais ou menos assim: “Tu perguntas, serão os heterodoxos salvos... Porque te preocupas com eles? Eles tem um Salvador que deseja a salvação de todos os seres humanos. Ele cuidará deles. Tu e eu não deveríamos estar aflitos com essa questão. Estudai a ti próprio e a teus pecados.... te contarei no entanto uma coisa: se, sendo ortodoxo e possuindo a Verdade completa, traires a Ortodoxia e entrares numa fé diferente, então perderás tua alma para sempre”.

Sua Eminência, o Metropolita Filaret, de bendita memória
Publicado por The Saint John of Kronstadt Press
Boletim Interpároquial, julho de 2002

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Oração de São Basílio, o Grande - Ofício de Sexta

Deus, Senhor dos Exércitos e Artesão de toda criação, que na imensidão da Tua incomparável misericórdia enviaste Teu Filho Único nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação do gênero humano. Que pela Sua preciosa Cruz, rasgou a sentença de nossos pecados e triunfou sobre os principados e os poderes das trevas, Tu, Senhor, Amigo dos homens, aceita as nossas orações de reconhecimento e de súplica, pecadores que somos. Protege-nos contra toda queda funesta e tenebrosa e contra todos aqueles que procuram nos fazer mal, nossos inimigos visíveis e invisíveis. Perfura a nossa carne com os cravos de Teu temor e não incline os nossos corações para palavras ou pensamentos perversos, mas fere as nossas almas de Teu desejo. A fim de que todos os dias elevemos nossos olhos para Ti, guiados pela luz que vem de Ti, e com o nosso olhar posto em Ti, luz inacessível e eterna, Te louvemos e ofereçamos uma ação de graças incessante, Pai Eterno, assim como ao Teu Filho Único e ao Teu Santíssimo, bom e vivificante Espírito, eternamente, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Mosteiro de Stavronikita - Monte Atos

O mosteiro de Stavronikita situa-se na margem ocidental do Monte Atos numa rocha entre os mosteiros de Pantocrator e Iveron a 50 m de altitude. As primícias do mosteiro são bastante controversas. Mas provavelmentefoi fundado no século X. No ano de 1531 o mosteiro sofreu um período de decadência e foi vendido como kelia a Gregório Xeromeryt por 400 moedas de prata. Em 1533 o mosteiro novamente foi saqueado. Logo, em 1541, o Patriarca Jeremias I (1522-1545) o restaurou. O mosteiro de Stavronikita é o menor dos mosteiros no Monte Atos.

Entre as santas relíquias encontradas neste mosteiro pode-se cita: partícula do maxilar inferior de São João batista, óleo de São Nicolau, o Milagroso, partícula da mão esquerda de Santa Ana, partícula de Santa Macrina, irmão de São Basílio, partícula da mão de Santo Estevão, o primeiro mártir.







quarta-feira, 18 de junho de 2008

OrtoFoto

Agios Oros, Grécia
autor: Marin Hristov

Do mundo virtual ao espiritual

Escrito por Frei Betto
06-Jun-2008

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse 'tenho aula de meditação'! Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso, as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação! Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto'? 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite'!

Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse.

Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais. A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções - é um problema: a cada semana que passa temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose. Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los aonde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's. Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz'.

Enviado pela amiga e irmã em Cristo Anastácia do Recife.

terça-feira, 17 de junho de 2008

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Kosovo
autor: Marek Ławreszuk

Oração de São Simeão, o Metafrasta

Senhor, Tu que és puro e sem pecado, Tu que, na indizível compaixão de Teu amor pelos homens, assumiste a nossa natureza, inteiramente, tomando-a do sangue puro e virginal daquela que Te gerou de uma maneira sobrenatural, pela vinda do Espírito divino e pela benevolência do Pai eterno, ó Cristo Jesus, Sabedoria, Paz e Poder de Deus, Tu que, tendo assumido a nossa humanidade, dignaste sofrer a Tua Paixão vivificante e salutar, a Cruz, os cravos, a lança e a morte, mortifica as paixões do meu corpo que matam a minha alma. Tu, que pelo Teu sepultamento, despojaste o inferno de sua dominação, sepultas os meus maus pensamentos por meio de Tuas boas inspirações e dispersas os espíritos malignos. Tu que, pela Tua Ressurreição vivificante ao terceiro dia, ergueste nosso primeiro pai que havia caído, ergue-me também, imerso que estou no pecado, sugerindo-me as vias do arrependimento. Tu que, pela Tua gloriosa Ascensão, deificaste a carne assumida por Ti, cumulando-a de honra e fazendo-a assentar-se à destra do Pai, torna-me digno, pela comunhão aos Teus Santos Mistérios, de tomar parte à Tua direita entre os salvos. Tu que, pela descida do Espírito Consolador, fizeste de Teus Discípulos, vasos de honra, faz de mim um receptáculo digno de Sua vinda. Tu que deves vir ainda uma vez julgar o universo com justiça, permita que eu me apresente, também, diante de Ti, sobre as nuvens com todos os Santos, ó meu Juiz e meu Criador, para Te louvar e cantar infinitamente, bem como o Teu Pai sem-princípio e o Teu santíssimo, bom e vivificante Espírito, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

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Romênia
autor: Dan Zichil

Oração á Virgem Mãe de Deus

Ó Virgem Toda-Pura, sem mancha, nem pecado, Soberana Esposa de Deus, pelo Teu parto admirável, uniste aos homens o Verbo de Deus e guiaste até os céus a nossa natureza caída. Esperança dos desesperados, fortaleza única dos aflitos, seguro abrigo daqueles que recorrem a Ti, refúgio dos cristãos. Não desprezes o pecador que eu sou, cativo por pensamentos, palavras e ações vergonhosas e, tornado, pela leviandade de espírito, em escravo dos prazeres da vida. Tu, ó Mãe do Deus Amigo dos homens, concede o Teu amor ao pródigo que eu sou. Recebe a minha oração apesar de proferida por lábios impuros. Usando da Tua autoridade materna, roga a Teu Filho, nosso Mestre e Senhor, que revele a mim, também, os tesouros da Sua ternura e misericórdia. Conduz-me ao arrependimento e faz de mim um fiel cumpridor dos Seus divinos Mandamentos. Assiste-me sempre com Tua benevolência e compaixão. Sê, ao longo desta vida, meu amparo e proteção, guia-me ao porto da salvação e guarda-me dos assaltos do inimigo. À hora da partida, em Teu amor materno, tem compaixão da minha pobre alma e, afasta, para longe, as visões tenebrosas dos espíritos malignos. No dia temível do julgamento, livra-me da condenação eterna e torna-me herdeiro da glória inefável do Teu Filho e nosso Deus. Possa eu alcançá-la, ó Virgem Soberana e Santíssima Mãe de Deus, pela Tua mediação e proteção, e pela graça e amor pelos homens do Teu Filho Unigênito, nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo, a Quem pertencem toda a glória, honra e adoração, bem como ao Seu Pai sem-princípio e ao Seu bom e vivificante Espírito, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mosteiro de São Paulo - Monte Atos

O mosteiro de São Paulo situa-se a 140 m de altura, a 20 minutos a pé do litoral sudeste. Segundo a tradição o mosteiro foi fundado no século VII pelo igúmeno Paulo Xeroprotanita. No século XIV o mosteiro foi destruído provavelmente pelos Catalães. O rei da Sérvia Georgij Wrankowicz restaurou o mosteiro e construiu a capela de São Jorge. Em 1902 metade do mosteiro incendiou-se.

Entre suas relíquias encontra-se: a perna esquerda de São Gregório, o Teólogo, a mão direita de São Máximo, o Confessor, o osso da face de Santa Ágata, partículas de relíquias de São Basílio, São João Crisóstomo e São Pantaleão. Pertencem ao mosteiro as Skit romenas de Lakkoskete e a chamada Nova Skit.


quinta-feira, 12 de junho de 2008

OrtoFoto

Hajnówka, Polônia
autor: Rafał Stepaniuk

"Sexualidade e Espiritualidade"

As Mães do deserto viveram em um mundo, no qual o olhar para a sexualidade divergia, consideravelmente, do nosso. Hoje, compreendemos que, mente e coração, sexualidade e capacidade para o raciocínio lógico, os pensamentos e os sentimentos do coração podem se conciliar e precisam se integrar, na medida em que aproximamo-nos da cura e da unidade com Deus. Conhecemos Deus, só o tanto quanto conhecemos a nós mesmos: Deus, justamente assim, quis manifestar-se. Sexualidade e espiritualidade são duas faces da mesma moeda. A sexualidade expressa a espiritualidade; a espiritualidade expressa a sexualidade. Ambas são expressão da nossa saudade de Deus. Como, pois, desenvolvemos a consciência de nossas paixões? Será que manifestamos a nossa sexualidade de modo saudável? Será que procuramos pela retidão de coração, para ser fiel ao chamado que Deus dirige a cada um de nós?

As Mães ensinam que, não devemos temer o deserto, mas olhar para a vida, assim como para suas dádivas. Antes que tivesse escutado sobre os habitantes do deserto, eu tinha passado um período no deserto sem entender o que se passava e por que assim acontecia. Não me dava conta de que minha experiência tem sua finalidade.

A etapa inicial no caminho para o deserto pode provocar-nos sofrimentos e trazer desorientações, porque temos medo dessas experiências e tentamos fugir delas. Podemos temer a saúde psíquica – até que algum sábio desvele diante de nós possibilidades, às quais estão ocultas no deserto. Mas ele (o deserto) cria condições favoráveis para se poder analisar a nossa dificuldade em descobrir o sentido disso. As Mães mostram que, os esforços desprendidos na superação do deserto, levam através da integração, à autenticidade. Os frutos das lutas no deserto são vida em abundância, como também, profunda e permanente alegria.

Para muitos de nós o deserto acontece em um período de nossa vida que, frequentemente, chamamos “idade média”. Isto é, o tempo em que experimentamos a cacofonia e forças desconhecidas. Começamos a sentir solidão e depressão, mesmo em meio aos amados membros da família e dos amigos. Surgem perguntas concernentes às nossas escolhas e valores. As lutas parecem não ter fim, a esperança parece não existir, diante dos olhos temos sonhos não realizados. Fazemos perguntas para as quais não encontramos respostas.

Pouco a pouco nos conscientizamos da presença da dor em nossa vida: às vezes, ela é o silêncio, quando ele é, simplesmente, esmagador. Lamentamos relações rompidas, perda da saúde, mudanças inesperadas, chances perdidas. Os conceitos de Deus, com os quais estávamos acostumados na infância – e que quase não tínhamos consciência – já não nos satisfazem. O antigo conhecimento da tradição de nossa fé parece estar ultrapassado e separado da vida (os funerais acontecem, às vezes, não só pelo luto por pessoas mortas recentemente). Nisso tudo, as Mães do deserto encorajam, para que permaneçamos no deserto e deixemos que ele nos ensine. Elas entendiam que, é necessário aceitar o doloroso despojamento para alcançar a cura e vivenciar a alegria adulta (madura).

No princípio, o deserto pode parecer estéril, monótono e incolor, mas com o tempo começamos a percebê-lo diferente. As Mães ensinam que, convém durante algum tempo, permanecer nos deserto, porque somente então começa-se a perceber os contrastes e o caráter diferenciado da paisagem desértica. Este lugar, enfim, torna-se casa: nosso preferido e valioso lugar, o qual começamos a considerar.

A experiência do deserto nos mostra a dimensão do vazio e do contraste, no qual revelam-se e determinam-se valores, conceitos e paixões. Desembaracemo-nos disso, que constitui obstáculo no caminho para Deus. Nesse vazio encontramos com a espantosa presença de Deus. Podemos, entretanto, nos sentir apavorados e esmagados por esse encontro.

As Mães do deserto exemplificam que, o deserto é um lugar onde temos que aprender a viver com as perguntas, paradoxos e ambigüidades que a vida nos traz. O vazio ganha profundidade e significado. Escutamos o murmúrio, chamando-nos para a abundante, porém silenciosa, vida. Começamos a perceber a sutileza da nossa vereda espiritual e iniciamos a arrumação interior que nos aproxima do verdadeiro “eu”. No sentido figurado, o que tínhamos como abortado começa a manifestar-se, vagarosamente, dando sinais de vida.

O caminho do deserto é peregrinação que exige difícil esforço, perseverança e inflexibilidade. As Mães mostram que, o deserto se torna lugar onde acontece a contrição madura, conversão e mudanças, graças as quais podemos alcançar a verdadeira e radical liberdade.

As Mães reconheciam e respeitavam a variedade de chamados. Todos somos convidados para fazer deles, nossos guias. Cada um de nós pode manifestar isso de modo diferente. A Mãe Sinclética dizia às suas discípulas: “Nem todo modo de proceder é adequado para todas as pessoas. Cada pessoa deve confiar nas próprias inclinações, porque para muitas pessoas útil é a vida em comunidade. Entretanto, para outras ajuda mais ir para a solidão. Porque assim como algumas plantas desenvolvem-se em lugares úmidos, outras, entretanto conservam maior durabilidade em ambiente seco, assim também é em meio às pessoas: algumas alcançam um estado superior de vida, enquanto que outras alcançam a salvação num estado inferior.”

The Forgetten Desert Mothers
Paulist Press - 997 Macarthur Boulevard - Mahwah, New Jersey 07430.
Tradução para o polonês: Pawel Kazmierczak - WYdawnictwo Wam - Kraków 2005.
Tradução para o português: Mosteiro da Dormição da Santa mãe de Deus, Penedo-RJ

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Oração

Nós Te bendigamos, ó Deus Altíssimo e Senhor de misericórdia, que realizas, em todo tempo, grandes e insondáveis, gloriosas, numerosas e inauditas maravilhas, Tu que nos concedeste o sono para o repouso de nossa fraqueza e alivias as penas que abatem a nossa carne. Nós Te damos graças por não nos haver aniquilado com nossas iniquidades, antes em Teu amor pelos homens nos ergueste a nós, que inconscientes jazíamos, para a glorificação do Teu Poder. Eis porque nós imploramos a Tua bondade sem medida: ilumina os olhos do nosso entendimento, arranca o nosso espírito do pesado sono da indolência, abre a nossa boca e preenche-a com o Teu louvor, afim de que, sem cessar, possamos cantar, salmodiar e confessar-Te a Ti, Deus glorificado em tudo e por todos, Pai sem-princípio, com o Teu Filho Unigênito e o Teu santíssimo, bom e vivificante Espírito, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

terça-feira, 10 de junho de 2008

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Acatiste, Brasil

Oração de São Basílio, o Grande

Senhor Todo-Poderoso, Deus das Potestades e de toda carne, que habitas nas alturas e lanças o Teu olhar, Tu que sondas os corações e os rins conhecendo claramente os segredos dos homens, ó Luz sem princípio e eterna, na Qual não há alteração nem sombra de mudança alguma, Tu-Próprio, Rei Imortal, acolhe a nossa oração que neste tempo presente, confiando em Tua imensa bondade, Te dirigimos de lábios impuros; perdoa os nossos pecados, que cometemos em ações, em palavras e em pensamentos, consciente ou inconscientemente, purifica-nos de toda mancha da carne e do espírito e faz de nós templos do Espírito Santo. E concede-nos de que com um coração vigilante e um intelecto sóbrio passemos toda a noite da vida presente, esperando a vinda do dia luminoso e resplandecente de Teu Filho Unigênito nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, o Qual virá em glória como Juíz atribuir a cada um segundo as Suas obras. Que Ele não nos encontre caídos e nem adormecidos, antes retos e vigilantes na prática dos Seus Mandamentos, prontos a entrar juntos com Ele no júbilo da câmara divina de Sua glória, onde ressoam sem cessar os clamores festivos e o gozo inexprimível daqueles que contemplam a inefável beleza da Tua Face. Pois Tu és a luz verdadeira, que ilumina e santifica tudo e todos, bem como toda a criação Te canta pelos séculos dos séculos. Amém.

Mosteiro de Simonos Petras - Monte Atos

Em umas das rochas das altas escarpas à noroeste do Monte Atos, a 230 m do nível do mar, situa-se o Mosteiro de Simonos Petras.

Segundo a tradição, São Simão fundou o mosteiro por volta da metade do século XIV. Durante a guerra de independência da Grécia (1821-1831) o mosteiro foi ocupado por 60 soldados otomanos. Os monges não puderam detê-los e foram obrigados a destruir o mosteiro. Mais tarde passou por vários incêndios altamente danosos. Em 1902 o arquimandrita Neofit várias vezes viajou para a Rússia, onde arrecadou o dinheiro necessário para a reconstrução do mosteiro.

Entre as relíquias do mosteiro encontra-se: pedaço de madeira da Cruz de Cristo, a mão esquerda de Santa Maria Madalena, que ainda conserva a temperatura natural do corpo humano, relíquias de São Paulo – Patriarca de Constantinopla e a mão direita de São Dionísio, o Aeropagita.




segunda-feira, 9 de junho de 2008

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Grécia
autor: Marin Hristov

Oração à Toda Santa Mãe de Deus

Eu glorifico a Tua graça, ó Soberana e peço-Te que cumules de graças o meu entendimento. Ensina-me a andar no reto caminho dos Mandamentos de Cristo. Revigora-me a mim afim de que possa vigiar em oração e afasta para longe a acedia e o torpor. Enlaçado que estou pelas amarras dos pecados, ó Esposa de Deus, liberta-me pela Tua intercessão. Preserva-me de noite como em pleno dia e guarda-me dos inimigos que combatem contra mim. Tu que geraste o Autor da Vida, torna a dar-me aquela que as paixões me tomara. Tu que geraste a Luz sem ocaso, ilumina a minha cega alma. Ó esplêndido Palácio do Mestre e Senhor, faz de mim um habitáulo do Espírito Divino. Tu, que geraste o Médico das nossas almas, vem curar as paixões que transtornam a minha alma, desde há tantos anos. Dirige-me na via do arrependimento, pois que em mim agitam-se as torpes torrentes da vida. Preserva-me do fogo eterno, do verme que ruge assim como da chama infernal, afim de que não me torne o escárnio dos demônios, eu que por tantos pecados me sinto acusado. Faz de mim, envelhecido pelo ignóbil pecado, ó toda irrepreensível, um homem novo. Implora junto do Mestre de todos para que se afaste de mim todo tormento. Torna-me digno de desfrutar, com todos os Santos, da alegria celeste. Ó Virgem Toda-Santa, atende o clamor do Teu inútil servidor. Concede-me, ó Toda Pura, deitar uma torrente de lágrimas, afim de que purifique as impurezas da minha alma. Aceita, ó Soberana, os gemidos de meu coração que sem cessar Te apresento; acolhe minha suplicação, dirigindo-a ao Deus de misericórdia. Tu que estás acimas dos Anjos, faz-me então superar todos os afazeres mundanos. Ó Portadora de Luz e Nuvem Celeste, faz descer sobre mim a graça do Espírito. Eis que apresento ao Teu louvor, ó Toda-Imaculada, meus lábios e minhas mãos. Livra-me dos males que ameaçam a minha alma, suplicando a Cristo em todo tempo, a Ele convém honra e adoração, agora e sempre e pelos séculos. Amém.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Celebração da Festa da Ascenção de Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo na Catedral da SSma. Virgem Maria – Rio de Janeiro, 2008

Recebemos , na Catedral da Santíssima Virgem Maria, para concelebração da Festa da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pe. Vasily Gelevan, Reitor da Paróquia Ortodoxa Russa de Santa Zenaide, acompanhado de um seminarista e um grupo de fiéis. A visita de nossos irmãos em Cristo trouxe júbilo e alegria a todos os presentes. Após a celebração, presidida pelo Sr. Dom Chrisóstomo, nos confraternizamos numa refeição agápica.





quinta-feira, 5 de junho de 2008

Ascenção de Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo

Essa festa já se encontrava instituída e era celebrada em Jerusalém no século IV. Tem por objetivo o triunfo do Salvador que, corporalmente, adentra aos céus para, Ele próprio, assentar nossa humanidade sobre o Trono Divino.

É portanto, para nós também, um dia triunfal: por nossa união com o Cristo, na unidade de Seu Corpo místico, fazemos igualmente nossa entrada no céu, pelo menos em direito, esperando que o Senhor venha novamente para julgar o universo e chame seus eleitos, para introduzi-los em Seu Reino.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Mosteiro Philotheo - Monte Atos

O Mosteiro Philotheo situa-se nas escarpas norte do Monte Atos, a 533 m de altitude. Conta a tradição que o nome do mosteiro é devido a um certo monge eremita de nome Filoteo, que ai teria vivido nos anos 970-972.

Entre os objetos sagrados do mosteiro encontram-se: partícula da madeira da Cruz de Cristo e o milagroso ícone da Mãe de Deus chamado “Glikofilussa” (doce beijo) pintado segundo a tradição pelo evangelista Lucas. Também em u relicário confeccionado em ouro e prata conserva-se a mão direita de São João Crisóstomo, na qual os dedos estão posicionados como se estivessem dando uma bênção. Esta mão conservou-se com a pele e as veias intactas.





terça-feira, 3 de junho de 2008

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Sérvia
autor: Aleksa Stojkovic

"A Oração do Gêtsamani"

A oração de Cristo no Gêtsemani é, sem dúvida alguma, a mais elevada de todas as orações pelo seu valor e sua força redentora por todo o mundo. Ao mesmo tempo, ela é uma das revelações mais preciosas acerca de Deus e acerca do homem. Oferecida a Deus Pai no espírito do amor divino, eternamente presente na existência do mundo, ela age como uma luz que jamais diminui. Enquanto acontecimento histórico, ela não durou muito tempo; enquanto que ato espiritual do amor divino, começou desde antes da criação do mundo (ver I Pe. 1, 20), e não cessou de agir até este dia presente. Provamos a presença de sua força quando oramos pelo mundo inteiro e, sobretudo, no momento da celebração litúrgica. Sua santidade e sua grandeza atraem o coração daqueles que em si guardaram a imagem do Deus Vivo.

Nesta oração, o Senhor abraçou tudo o que se desenvolveu desde a criação do primeiro Adão até o último homem a nascer de uma mulher. É assim que temos aprendido a pensar em nossa Igreja (ver Jo. 1, 29: I Jo. 2, 2). Privados da experiência existencial de tal amor, nos é impossível conceber esta energia infinita que ilumina desde os séculos todo homem sedento por acolher este dom. “O céu e a terra passarão”, mas a obra realizada por Cristo (ver Jo. 17, 4) “não passará” (ver Mt. 24, 35). Esta oração se insere no incessante louvor celeste com seu conteúdo essencial. Ela não deixa de cumular nossa alma, de engendrar em nós o desejo de lhe corresponder com um mesmo amor total, “até o fim”, no presente século e no século que há de vir.

Em seu estado de queda, o mundo inteiro está em processo com Deus, acusando-O de Seus próprios sofrimentos. Em sua enfermidade – conseqüência do abandono do amor divino – o mundo acusa Deus com paixão. Eu isto conheço por experiência própria. Todavia, no Gêtsemani e no Gólgota, Jesus que é o Deus sem princípio, “justificou” o Deus-Criador. Lá, o “Homem-Cristo Jesus” (I Tm. 2, 5) também justificou o homem-humanidade diante do tribunal de Deus-Pai.

Do ponto de vista dos homens: se Deus é tal como Cristo O revelou; que Lhe convenha então a glória, honra e adoração por todos os séculos. Do ponto de vista de Deus Pai: se o homem é tal como o Cristo era: que o Pai então O acolha como o Seu igual, que Ele Lhe dê o trono “à Sua direita nos Céus”, acima de todo Principado, Poder e Domínio, e de todo outro nome que poderá ser nomeado não somente neste século, mas ainda no vindouro (ver Ef. 1, 20-21).

Vitorioso na eternidade, o amor de Cristo é submetido – sobre o plano terrestre – a provações extremamente penosas. Ninguém nunca sofreu tanto como Ele. A profundidade do sofrimento está diretamente relacionada com o nível de sensibilidade de cada um. Entre os homens, existem tantas diferenças como entre um rinoceronte e um verme: esmurre violentamente o primeiro e ele não sentirá; basta somente tocar o verme que ele começa a se contorcer em virtude da dor. O ouvido afinado do músico é dolorosamente incomodado por uma dissonância imperceptível aos outros; o olho do pintor remarca diferença de tons nas cores, lá onde outros – apesar de todas as explicações que poderíamos dar – continuam a não verem nada. O homem espiritualmente sensível percebe o estado moral daquele que ele encontra enquanto que a maioria das pessoas nada (re/pres) sentem.

O mesmo é válido para os homens, quem poderá então compreender o Cristo, Criador do Universo? “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn. 1, 31). O Criador da harmonia divina não podia deixar de Se afligir ao encontrar por toda parte deformações intoleráveis trazidas à beleza original do mundo pelos atos degradantes e criminosos dos homens. Nós o sabemos todos: mais nós amamos profundamente, mais ressentimos dolorosamente o menor dos conflitos. O que Ele, o Amor Eterno, provou quando os homens repeliram com tanta raiva o testemunho que Ele dava do Pai? Ele que a Igreja chama de Sol de Justiça foi entregue no julgamento iníquo daqueles que O condenaram à morte. Ele, a Verdade hipostática, foi caluniado, desonrado, cruelmente batido: cuspiram-No insolentemente, Ele que estava sem pecado (ver Jo. 8, 46), Ele tomou sobre Si os pecados do mundo, como se Ele próprio fosse o culpado desta tragédia. “Aquele que nos amou até o fim” (Jo. 13,1), suportou as perseguições causadas pela raiva insaciável daqueles que O mataram, “cuidando fazer assim um serviço a Deus” (Jo. 16, 2).

A fim de poder, mesmo que seja um pouco, aproximar nossa consciência da compreensão daquilo que se passou naqueles dias – os mais trágicos em toda a história do mundo – a fim de poder contemplar de uma maneira existencial, mesmo que seja “por espelho, em enigma” (I Co. 13, 12), o caminho percorrido por Cristo, devemos todos passar por inumeráveis provações. Quando se abatem sobre nós todas as espécies de golpes e de males, voltamos então nosso espírito à contemplação dos tormentos de todos aqueles que sofrem sobre a Terra; os incluímos – pelas nossas próprias dores – na oração de nosso coração. Nosso coração alargar-se-á, desta maneira, e abraçará todos os irmãos e todas as irmãs esmagados por tantos desastres, tal como uma mãe abraça seus filhos doentes no impulso dum amor doloroso.

Que a nossa oração se torne o clamor da terra inteira a Deus, nosso Pai! Tal oração, pela ação do Espírito Santo nos torna participantes da paixão redentora do amor divino do Senhor. Ninguém dentre nós chega à imensidão do Seu amor, todavia, é já algo de grande, que a Sua vida se revele a nós, mesmo que seja parcialmente, mas numa certeza irrecusável. “Tornados conformes (espiritualmente) à Sua morte”, nós somos julgados dignos de conhecer o Cristo de uma maneira existencial (ver Jo. 17, 3) assim como a “virtude da Sua Ressurreição” “(Fp. 3, 10). “Porque se formos plantados juntamente com Ele na semelhança da Sua morte, também o seremos da Sua Ressurreição” (Rm. 6,5). Pelos choques que se nos abatem, nossa natureza – tornada insensível pelo pecado – nasce novamente à uma oração que reflete, em certa medida, a oração do Gêtsemani. Antes de atingir a idade madura, nos é dado geralmente de experimentarmos mortes parciais, nós nos tornamos, na medida desta experiência, ainda mais capazes de contemplar o Cristo dirigindo-Se ao Jardim do Gêtsemani, e em seguida ao Gólgota.

As dores físicas de Cristo – suportadas durante a crucifixão sobre a Cruz ou durante a flagelação – não ocupam a parte primordial, mas antes tornam completos os Seus sofrimentos sobre todos os planos. Até nós, bem o sabemos que a alma pode, em sua própria esfera, receber feridas mais dolorosas do que o corpo. Se tal é o caso da alma em sua condição terrestre, o que quer dizer então da alma – espírito que acolhe a eternidade? “Quanto maior é o amor, maior é o sofrimento da alma. Quanto mais profundo é o amor, mais imensa é a dor” (ver Starets Siluan). E qual homem ousaria dizer que o seu amor ultrapassa aquele de Cristo? Nós apenas sonhamos aqui nesta esfera do Ser, à qual atingimos unicamente pelo poder do amor espiritual dado do Alto.

É impossível desenhar uma imagem dos sofrimentos de Jesus Nazareno. Toda a Sua vida conosco não passou de um tormento incessante. O Gólgota não passa de um ato final, no qual tudo se uniu, como que em um ponto culminante: dores físicas, aflições da alma e em seguida à recusa dos homens em acolher a Boa-Nova do amor do Pai, morte infame como aquela de um malfeitor, riso cínico daqueles que se vingavam por terem sido acusados de injustiça... Todos O condenaram: o Estado Romano com o seu direito, a Igreja da Antiga Aliança, fundada sobre a revelação do Sinai. Mesmo até o povo que havia recebido d´Ele tantos benefícios, exclamava: “Crucificai-O”. Adicionemos a tudo isto a fuga dos Discípulos, a traição de Judas, o renegar de Pedro, o abandono de Deus – “Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?” – a descida ao inferno daqueles que cumulavam este lugar tenebroso. O inferno de Cristo, é claro, não poderia ser o inferno da raiva; mas antes o contrário, o inferno mais doloroso, aquele do amor. Era necessário adicionar ainda muitas outras coisas, as quais o nosso espírito não pode compreender, pois que não conhece o amor devido a Deus e ao próximo.

O Senhor não orou até suar de sangue pelos Seus próprios pecados, mas antes em virtude de nossa perdição. Isto sobressai claramente de Suas palavras às mulheres que choravam sobre Ele: “Não choreis por Mim; chorai antes, por vós mesmas e por vossos filhos” (Lc. 23, 28). Todavia, era também necessário que o Cristo – em Sua humanidade – passasse pela provação da kenosis total, tal como já havia se realizado nos Céus – segundo a Sua divindade – em relação ao Pai. É enquanto homem que Ele orou a propósito do “cálice”. Ele nos revelou o caráter do Deus amor. A perfeição consiste no fato de que este amor é humilde, o que quer dizer que ele se dá sem reserva. O Pai Se esvazia completamente na geração do Filho. Quanto ao Filho, Ele rende tudo ao Pai. É precisamente este ato de kenosis total que o Senhor realiza em Sua Encarnação, no Gêtsemani e no Gólgota. É precisamente este amor que Cristo ordena: “Se alguém vier a Mim e não aborrecer o seu pai, e mãe, e mulher e filhos, e irmãos e irmãs, ainda também a sua própria vida (alma), não pode ser Meu discípulo” (Lc. 14, 26), ele “não é digno de Mim” (Mt. 10, 38). Assim, somente aquele que – no movimento de todo o seu amor, à semelhança dos mártires – perder a sua vida neste mundo por causa o Cristo, “entrará no próprio céu, a fim de aparecer” diante da Face de Deus para “uma vida que não perece” (ver Hb. 9, 24; 7, 16).

O sentido do sacrifício de Abraão é o seguinte: em sua velhice, Abraão havia se ligado a Isaac, o “filho da promessa”, a tal ponto que o seu amor por Deus havia perdido sua plenitude. A fim de que o amor por Deus torne-se de novo a “pedra angular” de sua vida, Abraão deve oferecer um sacrifício: imolar seu filho bem-amado. Quando este ato é realizado interiormente, a morte de Isaac torna-se inútil: ele podia permanecer junto de seu pai.

Fatos semelhantes se repetem na vida do cristão. Quando uma ou outra paixão o separa de Deus, ele deve estar pronto a muitos sacrifícios. E se o ato interior do sacrifício é realizado com perfeição, as paixões se retiram e a “imolação” torna-se inútil.

A situação de Cristo era diferente. Interiormente, o Senhor realizou Seu sacrifício no Gêtsemani. Mas, em vista da “obra” (Jo. 17, 4), era necessário que Ele sofra “até o fim”, mesmo exteriormente; senão ninguém poderia ter compreendido o mistério da redenção. Eis porque, no Gólgota – e não no Gêtsemani- que Cristo exclama: “Tudo está realizado”.

Na pessoa do primeiro Adão, a humanidade sofreu uma terrível alienação, que iria principiar todas as seguintes. A queda do nosso Antepassado constituiu uma catástrofe de dimensão cósmica. É indispensável tomar conta disto, para compreender o processo orgânico (para não dizer lógico) da evolução que se manifesta em formas políticas, mas que é, na realidade, espiritual: “De morte morrereis” (Gn. 2, 17) pelo fogo já preparado a tudo devorar. As gerações seguintes adicionaram quantidade de outras doenças àquelas de Adão, de sorte que o corpo inteiro da humanidade está “desde a planta do pé até a cabeça, coberto de feridas e inchaços, e chagas podres não espremidas” (Is. 1, 6). O esqueleto, ele próprio, está fraturado por toda parte. Tocar um organismo que se encontra em semelhante estado significa lhe fazer provar dores insuportáveis. Quando trata-se de doenças físicas, nos dirigimos habitualmente, com confiança as mãos dos médicos, e esperamos com paciência sua ajuda. No plano espiritual, observamos o fenômeno inverso: toda tentativa de recolocar os ossos em suas posições corretas, de lavar as feridas – realizados inevitavelmente acompanhado de dores – é acolhido com hostilidade, como se o médico fosse a causa das dores.

Eis o quê se passa com Cristo: Ele, o único verdadeiro “Médico” capaz de curar, afligiu todos os homens, pois fez ver a toda humanidade a sua doença mortal. Para os filhos caídos da humanidade, nada nem ninguém é mais terrível do que o Cristo – Verdade. O mundo inteiro O teme. Quão numerosos aqueles que, animados por uma raiva inexplicável, lançam sobre Ele – e somente sobre Ele – todas as sortes de censuras e infâmias. Quanto àqueles que O acolhem verdadeiramente como Verdade primária, em virtude da atração espontânea dos homens pela Verdade – eles não podem recusar de segui-Lo. Isto significa tornar-se portador de Seu amor e logo, inevitavelmente, ser crucificado de diversas maneiras.

A revelação – mesmo parcial – da vida interior de Cristo tem um valor inestimável para nós. Por meio de uma longa ascese, penetramos pouco a pouco o sentido eterno e o caráter especial de Seus sofrimentos. Compreendemos que eles ultrapassam – não somente qualitativamente, como também por seu poder – tudo o quê o mundo conhece. Não atingiremos de maneira alguma a primazia eterna sobre todos os planos. Apesar disso, devemos, enquanto crentes, aspirar a conhecê-Lo da maneira mais completa possível. É na medida em que nós conhecemos os Seus sofrimentos redentores que a Sua glória repousará sobre nós também: “E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste” (Jo. 17, 22). Por Ele, nos tornamos filhos do Pai sem princípio. Nós sabemos agora que “ninguém vai ao Pai senão por Ele” (ver Jo 14, 6). Nós acolhemos estas palavras de Cristo em seu senso absoluto. Em efeito, se não houvesse desde a origem o princípio da paternidade e da filiação no seio da divindade, nenhuma ascese humana poderia chegar a mudar substancialmente o próprio Ser primário.

Cristo é um prodígio que ultrapassa toda inteligência. Ele é a mais perfeita revelação do Deus de amor tri-hipostático; Ele nos revelou o homem em suas possibilidades ilimitadas. A um dado momento, conhecido de Deus somente, seremos conduzidos à fronteira invisível que se encontra entre o tempo e a eternidade que nos espera: seja estar com o Cristo em Sua semelhança, seja estar separado, longe d´Ele. Depois desta escolha – livre e decisiva – a semelhança tanto quanto a dessemelhança tomarão um caráter atemporal (eterno). Preparando-nos em nossa vida cotidiana para tal acontecimento, duma importância capital para cada um de nós, iremos mais de uma vez hesitar: cumprir os Mandamentos ou agir segundo as nossas paixões?

Nesta ascese que dura toda a nossa vida, o mistério de Cristo se nos revelará progressivamente, contanto que, por amor por Ele, façamos de Sua palavra a única Lei de nossa existência. O momento virá em que a visão da santidade do humilde Cristo-Deus consumirá o nosso ser tal como um fogo, transformando-o completamente num impulso de amor. Desgostados de nós próprios em virtude do mal que se esconde em nós, seremos repletos do desejo de nos assemelharmos ao Cristo em Sua humildade. Este desejo manifestar-se-á como uma sede mortal. As primícias da santidade já se encontram neste lancinante desejo de lá chegar. Quando ele aumenta, eis que então o nosso amor pelo Senhor nos torna de uma maneira natural mais próximos d´Ele, nos movimentos profundos do coração e nas intuições do intelecto. Uma visão se abre diante de nós, que ultrapassa toda imaginação. Uma imensa tristeza pelo sofrimento dos homens oprime o nosso coração como que em espasmos dolorosos. Esquecemos o nosso corpo; somente o nosso espírito – na medida em que ele está acessível – entra na corrente da oração do Cristo no Gêtsemani. Assim, nasce em nós o conhecimento do Senhor Jesus (Jo. 17, 3), que é a vida eterna. Para adquirir tal conhecimento, o Apóstolo Paulo considerou “como uma perda [...] todas estas coisas” (a justiça e a Lei). Ele “renunciou a tudo, [...] a fim de ganhar o Cristo [...] e o poder da Sua Ressurreição, e a comunhão aos Seus sofrimentos, se tornando-lhe conforme na morte, a fim de alcançar a Ressurreição”. Paulo falou desta maneira, não porque “já havia alcançado o alvo, [...] mas esquecendo-se das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão adiante, [...] pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp. 3, 7-14).

O grande Apóstolo Paulo dizia que ele “não tinha ainda chegado ao alvo”. Como, então, ousaríamos pretender nos igualar a Cristo? Todavia, certo paralelo deve existir. É absolutamente indispensável que exista uma semelhança – mesmo que ela seja pálida – entre o Senhor e nós, para poder trazer com razão o nome de cristãos. Mais uma vez: aspirando a honra, Paulo chamava os Coríntios a imitarem-no (I Co. 4, 16), tal como ele próprio imitava o Cristo. É isto o quê fazemos neste presente, para tornarmos-nos co-herdeiros de Jesus na glória incorruptível (ver Rom. 8, 17).

Eu me esforço – apesar de minha incapacidade – em falar desta ciência, a mais grandiosa de todas aquelas que a Terra e o céu conhecem. Ela se assimila não por meio de alguns breves anos de estudos acadêmicos, mas por todo o nosso ser. O conhecimento real, existencial, não abstrato, se adquire pela participação no ser, por meio de um arrependimento ardente e a guarda no espírito dos Mandamentos, que esta benção temível nos é dada.

Quando certa sombra de semelhança com a oração do Gêtsemani o cobre, o homem destrói (quebra) as cadeias do individualismo egoísta e entra num novo modo de existência: uma existência pessoal, hipostática, à imagem da Hipóstase do Filho Único. Acolher o amor sofredor do Cristo é um dom inestimável do Espírito Santo; por meio de tal dom, o homem se aproxima espiritualmente da percepção da morte do Cristo sobre a Cruz e, ao mesmo tempo, do poder da Sua Ressurreição. Aquele que, numa oração profunda pelo mundo e numa sede inextinguível de salvação dos homens, se une ao Cristo, por uma semelhança à Sua morte, antecipada também é a semelhança à Sua Ressurreição (ver Rm. 6,5 ; 8, 11). Guiado por uma força que desce do alto neste novo modo de ser, ele atinge “o fim dos séculos” e toca de maneira sensível a eternidade divina

A Hipóstase-Pessoa é o princípio primário e a dimensão final, última, universal, no Ser Divino; o mesmo acontece para com o ser humano criado à imagem de Deus. Nada existe e nem pode existir fora deste princípio hipostático: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida”. (Jo. 1, 3-4). “Vivo eu, diz o Senhor” (Is. 49, 18); “Eu sou [...] o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro” (Ap. 22, 13); “Eu sou” (Jo. 8, 58).

Os dons de Deus são indescritíveis: eles fazem do homem portador da plenitude do ser divino-humano, pela união com o Cristo na oração que o torna semelhante a Ele. Um privilégio raro, que une os estados extremos do sofrimento, do amor e da vitória deste mesmo amor. Depois de tal experiência, através duma dor vivificante, o homem penetra lentamente numa percepção ativa da Ressurreição de sua própria alma. Ele vê claramente que o “Cristo ressuscitado dentre os mortos já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele” (ver Rm. 6, 9). A vitória na eternidade é certa. O espírito ora em nós:

Meu Senhor e meu Deus... Agora, Senhor Jesus Cristo, pelo dom do Teu insondável poder e pela Tua benevolência para conosco, eu também, ainda que pobre e miserável, passo da morte à vida... Agora – eu sou.

Pelo Arquimandrita Sofrônio de Maldon – Essex
Texto extraído do livro “Voir Dieu tel qu´Il est”
Les éditions du Cerf – le sel de la terre, 2004
Tradução: Manastir Sv. Apostola Petra i Pavla, BiH.
Boletim Interparoquial, Abril-Maio de 2008