“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 20 de junho de 2008

“Serão salvos os heterodoxos?”

Se a Fé ortodoxa é a única fé verdadeira, poderão os cristãos de outras confissões, serem salvos?

Poderá uma pessoa que tenha levado uma vida perfeitamente justa ser salva confiando na sua ascendência, mesmo não sendo batizada como Cristã?

Respostas às perguntas acima: “Pois diz Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm. 9, 15-16). Na Igreja Ortodoxa nós temos o caminho da salvação indicado a nós e nos são dados os meios pelos quais uma pessoa pode ser purificada moralmente e ter uma promessa direta de salvação. Nesse sentido São Cipriano de Cartago diz que “fora da Igreja não há salvação”. Na Igreja é dado aquilo do que o Apóstolo Pedro escreve aos cristãos (e só aos cristãos): “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência. E à ciência temperança,e a temperanca, paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pe. 1, 3-8). E o que é que se deve dizer daqueles fora da Igreja, que não pertencem a ela? Outro Apóstolo nos provê com uma idéia: “Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai pois dentre vós a esse iníquo” (1 Co. 5, 12-13).. Deus “compadece-se de quem quer...” (Rm. 9, 18). Só é necessário mencionar uma coisa: que “levar uma vida perfeitamente justa”, como expressa a pergunta do início do texto, significa viver de acordo com os mandamentos das beatitudes - o que está além das forças de alguém fora da Igreja, sem a ajuda da graça que é concedida dentro dela.

A pergunta: Poderão os heterodoxos, isto é, aqueles que não pertencem a Ortodoxia - a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica - serem salvos, tornou-se particularmente dolorosa e aguda em nossos dias.

Tentando responder essa pergunta, é necessário antes de tudo, lembrar que em Seu Evangelho o próprio Senhor Jesus Cristo menciona só um estado da alma humana que infalivelmente conduz à perdição: blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt. 12, 1, 32). O Espírito Santo é, acima de tudo o Espírito de Verdade, como o Senhor se referia a Ele. Consequentemente, blasfêmia contra o espírito Santo é blasfêmia contra a Verdade, oposição consciente e persistente a Ela. O mesmo texto deixa claro que mesmo blasfêmia contra o Filho do Homem, isto é, o Senhor Jesus Cristo, o Filho Encarnado do próprio Deus, pode ser perdoado, pois ela pode ser pronunciada em erro, e/ou ignorância, e subseqüentemente pode ser apagada por conversão e arrependimento (um exemplo de tal conversão e arrependimento de um blasfemo é o Apóstolo Paulo) - ver Atos 26, 11 e 1Tm. 1, 13. Se, no entanto, alguém se opõe à verdade que claramente aprendeu por sua razão e consciência, esse alguém torna-se cego e comete suicídio espiritual, pois com essa atitude ele iguala-se ao demônio, que acredita em Deus, mas tem medo d’Ele, ou melhor, odeia-O, blasfema-O e se opõe a Ele.

Assim, a recusa do homem em aceitar a Verdade Divina, e sua conseqüênte oposição, faz dele um filho da danação. De acordo com esse fato, mandando Seus discípulos pregar o Evangelho o Senhor lhes disse: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc. 16,16); esse último ouviu a Verdade do Senhor e foi chamado a aceitá-La, no entanto recusou-A, herdando por isso a condenação daqueles que “...não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts. 2, 12).

A Santa Igreja Ortodoxa é o repositório da Verdade divinamente revelada, em toda sua totalidade e fidelidade à Tradição Apostólica. Consequentemente, aquele que deixa a Igreja, que intencionalmente e conscientemente sai fora dela, junta-se ao rol de seu Oponente e torna-se um renegado em relação à Tradição Apostólica. A Igreja anatematiza terrivelmente tais renegados, de acordo com as palavras do Apóstolo Paulo (Gl. 1, 8-9), ameaçando-os com a condenação eterna e chamando-os para regressar ao redil Ortodoxo. É, no entanto, claramente evidente, que os cristãos sinceros que são Católicos Romanos, ou Luteranos, ou membros de outras confissões não-ortodoxas, não podem ser qualificados como renegados ou heréticos, isto é, aqueles que com conhecimento perverteram a fé... Eles nasceram, foram criados e seguem vivendo de acordo com o credo que eles herdaram, como o faz a maioria daqueles que são ortodoxos; em suas vidas não houve um momento de renúncia consciente e pessoal da ortodoxia. O Senhor, “que quer que todos os homens se salvem...” (1Tm. 2, 4) e que ilumina todo homem nascido no mundo (Jo. 1, 43) indubitavelmente os está conduzindo para a salvação no Seu próprio modo.

Com referência a pergunta acima, é particularmente instrutivo lembrar a resposta dada certa vez a um inquiridor pelo abençoado Teófano o Recluso. Ele respondeu mais ou menos assim: “Tu perguntas, serão os heterodoxos salvos... Porque te preocupas com eles? Eles tem um Salvador que deseja a salvação de todos os seres humanos. Ele cuidará deles. Tu e eu não deveríamos estar aflitos com essa questão. Estudai a ti próprio e a teus pecados.... te contarei no entanto uma coisa: se, sendo ortodoxo e possuindo a Verdade completa, traires a Ortodoxia e entrares numa fé diferente, então perderás tua alma para sempre”.

Sua Eminência, o Metropolita Filaret, de bendita memória
Publicado por The Saint John of Kronstadt Press
Boletim Interpároquial, julho de 2002