“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

"Sexualidade e Espiritualidade"

As Mães do deserto viveram em um mundo, no qual o olhar para a sexualidade divergia, consideravelmente, do nosso. Hoje, compreendemos que, mente e coração, sexualidade e capacidade para o raciocínio lógico, os pensamentos e os sentimentos do coração podem se conciliar e precisam se integrar, na medida em que aproximamo-nos da cura e da unidade com Deus. Conhecemos Deus, só o tanto quanto conhecemos a nós mesmos: Deus, justamente assim, quis manifestar-se. Sexualidade e espiritualidade são duas faces da mesma moeda. A sexualidade expressa a espiritualidade; a espiritualidade expressa a sexualidade. Ambas são expressão da nossa saudade de Deus. Como, pois, desenvolvemos a consciência de nossas paixões? Será que manifestamos a nossa sexualidade de modo saudável? Será que procuramos pela retidão de coração, para ser fiel ao chamado que Deus dirige a cada um de nós?

As Mães ensinam que, não devemos temer o deserto, mas olhar para a vida, assim como para suas dádivas. Antes que tivesse escutado sobre os habitantes do deserto, eu tinha passado um período no deserto sem entender o que se passava e por que assim acontecia. Não me dava conta de que minha experiência tem sua finalidade.

A etapa inicial no caminho para o deserto pode provocar-nos sofrimentos e trazer desorientações, porque temos medo dessas experiências e tentamos fugir delas. Podemos temer a saúde psíquica – até que algum sábio desvele diante de nós possibilidades, às quais estão ocultas no deserto. Mas ele (o deserto) cria condições favoráveis para se poder analisar a nossa dificuldade em descobrir o sentido disso. As Mães mostram que, os esforços desprendidos na superação do deserto, levam através da integração, à autenticidade. Os frutos das lutas no deserto são vida em abundância, como também, profunda e permanente alegria.

Para muitos de nós o deserto acontece em um período de nossa vida que, frequentemente, chamamos “idade média”. Isto é, o tempo em que experimentamos a cacofonia e forças desconhecidas. Começamos a sentir solidão e depressão, mesmo em meio aos amados membros da família e dos amigos. Surgem perguntas concernentes às nossas escolhas e valores. As lutas parecem não ter fim, a esperança parece não existir, diante dos olhos temos sonhos não realizados. Fazemos perguntas para as quais não encontramos respostas.

Pouco a pouco nos conscientizamos da presença da dor em nossa vida: às vezes, ela é o silêncio, quando ele é, simplesmente, esmagador. Lamentamos relações rompidas, perda da saúde, mudanças inesperadas, chances perdidas. Os conceitos de Deus, com os quais estávamos acostumados na infância – e que quase não tínhamos consciência – já não nos satisfazem. O antigo conhecimento da tradição de nossa fé parece estar ultrapassado e separado da vida (os funerais acontecem, às vezes, não só pelo luto por pessoas mortas recentemente). Nisso tudo, as Mães do deserto encorajam, para que permaneçamos no deserto e deixemos que ele nos ensine. Elas entendiam que, é necessário aceitar o doloroso despojamento para alcançar a cura e vivenciar a alegria adulta (madura).

No princípio, o deserto pode parecer estéril, monótono e incolor, mas com o tempo começamos a percebê-lo diferente. As Mães ensinam que, convém durante algum tempo, permanecer nos deserto, porque somente então começa-se a perceber os contrastes e o caráter diferenciado da paisagem desértica. Este lugar, enfim, torna-se casa: nosso preferido e valioso lugar, o qual começamos a considerar.

A experiência do deserto nos mostra a dimensão do vazio e do contraste, no qual revelam-se e determinam-se valores, conceitos e paixões. Desembaracemo-nos disso, que constitui obstáculo no caminho para Deus. Nesse vazio encontramos com a espantosa presença de Deus. Podemos, entretanto, nos sentir apavorados e esmagados por esse encontro.

As Mães do deserto exemplificam que, o deserto é um lugar onde temos que aprender a viver com as perguntas, paradoxos e ambigüidades que a vida nos traz. O vazio ganha profundidade e significado. Escutamos o murmúrio, chamando-nos para a abundante, porém silenciosa, vida. Começamos a perceber a sutileza da nossa vereda espiritual e iniciamos a arrumação interior que nos aproxima do verdadeiro “eu”. No sentido figurado, o que tínhamos como abortado começa a manifestar-se, vagarosamente, dando sinais de vida.

O caminho do deserto é peregrinação que exige difícil esforço, perseverança e inflexibilidade. As Mães mostram que, o deserto se torna lugar onde acontece a contrição madura, conversão e mudanças, graças as quais podemos alcançar a verdadeira e radical liberdade.

As Mães reconheciam e respeitavam a variedade de chamados. Todos somos convidados para fazer deles, nossos guias. Cada um de nós pode manifestar isso de modo diferente. A Mãe Sinclética dizia às suas discípulas: “Nem todo modo de proceder é adequado para todas as pessoas. Cada pessoa deve confiar nas próprias inclinações, porque para muitas pessoas útil é a vida em comunidade. Entretanto, para outras ajuda mais ir para a solidão. Porque assim como algumas plantas desenvolvem-se em lugares úmidos, outras, entretanto conservam maior durabilidade em ambiente seco, assim também é em meio às pessoas: algumas alcançam um estado superior de vida, enquanto que outras alcançam a salvação num estado inferior.”

The Forgetten Desert Mothers
Paulist Press - 997 Macarthur Boulevard - Mahwah, New Jersey 07430.
Tradução para o polonês: Pawel Kazmierczak - WYdawnictwo Wam - Kraków 2005.
Tradução para o português: Mosteiro da Dormição da Santa mãe de Deus, Penedo-RJ