“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

ok

sábado, 26 de janeiro de 2008

“O significado e a força da palavra”

Nossos relacionamentos, ocorrem principalmente através de palavras, e não é sem significado esta forma de relacionamento. Nossas palavras são o reflexo da Palavra que se tornou vida. Deus disse: “Que se faça a luz.” E o invisível através da palavra tornou-se vivo. A palavra tem uma força imensa no mundo. “Pela palavra do Senhor se firmaram os céus; e pelo espírito da sua boca (formou-se) todo o exército” (Salmos 32:6). Em cada um de nós a palavra oculta revela-se, o secreto torna-se evidente. Relacionando-se com os outros através da palavra nós procuramos para si o bem, pois queremos tê-lo dentro de nós. A palavra que tem dentro de si o bem, ilumina a nossa vida. Se numa conversa uma palavra boa trouxe força dentro de si, então por um longo tempo nós reteremos um sentimento de algo precioso, familiar a nós, divino. A palavra deve nos aproximar, trazer a união, e não a separação e o conflito. A palavra quando encontra um ambiente favorável, cria um resultado formidável, que tem um significado enorme em todo o plano de nossa vida.

Mas nós permanecemos em pecado. Nossas palavras se enfraquecem com os nossos pecados e não tomam vida com força. Somente as palavras desvinculadas do pecado surgem com plena força, pois aí elas unem-se à Palavra que criou o mundo. Nossas palavras, vindas de cantos remotos de nossa alma, não enfraquecidas pelos pecados, com plena força do bem existente em nós, vindas para a superfície, trazem o bem e a luz, pois estão ligadas com a Fonte de luz Deus-Palavra. Elas tornam-se vida.

Espalhando palavras sem dar a devida atenção a elas, nós não temos consciência que elas podem trazer conflitos e desunião na família, na sociedade, no mundo. Uma vez estando no meio de uma conversa nós normalmente começamos analisando algum fato qualquer e rapidamente passamos a julgar, esquecendo-nos que isto é pecado. Julgar é uma enfermidade que destrói as nossas vidas. Ela separa as pessoas, distanciando uns dos outros, e enfraquece aquilo de bom que existe em nós. A palavra deve ser criativa em nossas vidas, colher o bem, trazer união, concordância, e não a separação, fragilidade e morte. E como é importante que a palavra que espelha o Logos na Terra, traga para nós a luz e a alegria de viver no meio de uma atmosfera de agressividade e desunião onde nós vivemos. Com palavras nós freqüentemente descrevemos nas pessoas características que elas não têm e desconfiamos daquilo que na realidade não existe. Esta forma de uso da palavra somente semeia entre nós o conflito. A boa palavra quando encontra um solo adequado provoca uma enorme e positiva revolução no ambiente, move montanhas. Nós vemos isto freqüentemente na história da humanidade.

Nossos relacionamentos através de palavras não são indiferentes. A palavra pertence à eternidade, e nossas palavras não se perdem assim sem querer e dirigem-se à eternidade. Precisamos utilizar as palavras de tal forma, para não ter que responder por elas no Juízo Final, como foi dito: “Ora, eu digo-vos que de qualquer palavra ociosa que tiverem proferido os homens, darão conta dela no dia do Juízo” (Mateus 12:36). É necessário que nossas palavras não sejam a nossa sentença no dia do Juízo. “O que me despreza e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que eu anunciei, essa o julgará no último dia” — disse o Senhor (João 12:48). A luz veio à Terra e nós não a enxergamos. O bem não está fixo em nós. O bem desfocado não está nos iluminando e nós não estamos percebendo aquela força que está dentro dele. Nós precisamos no relacionamento com os outros procurar o que existe de comum, se desligando de tudo o que nos afasta uns dos outros. No que diz respeito aos pecados que existem nas pessoas, o Senhor julgará e Ele próprio separará os pecadores e cobrará de cada um de acordo com seus atos. Nós somos nossos próprios juízes, pecando na Terra. O Senhor disse: “Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não julgo, porque não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” (João 12:47) Nós também precisamos nos esforçar para não julgar. Nós devemos procurar o bem na Terra. O Reino do Céu — luz e alegria — está aqui mesmo dentro de nós. Precisamos combater nossas atitudes inadequadas, essa escuridão, que é plantada pelo mal em nossos corações. Lutando com o pecado nós ajudamos ao Senhor consolidar Seu Reino dentro de nossos corações, e através de nós também na Terra.

É difícil combater o pecado. O orgulho, a crítica, a irritação e a vaidade — são todos espinhos que ferem a nós mesmos e aos que nos cercam. É necessário arrancar estes espinhos — mesmo que isto seja dolorido. Esta é uma cruz. Porém, reconstruindo nosso coração - lá dando espaço ao Senhor, nós sentimos alegria. A luz de Deus então ilumina o nosso coração. Não é à toa que se canta: “Através da Cruz vem alegria ao mundo.” A Cruz erguida constrói o Reino de Deus na Terra, para a saudação de Deus. O esforço no combate aos nossos pecados é a crucificação das nossas imperfeições e desvios de caráter. Esta é Cruz que todos nós temos tanto medo. Claro, a Cruz é pesada e mesmo Cristo caía sob o peso dela, mas através da Cruz é que se enxerga a alegria da salvação. A idéia da ressurreição é a idéia da vitoriosa força do bem. Através do combate do pecado chega nossa ressurreição: “Jesus ressuscitado, ressuscite nossas almas!”

Conversando, nós freqüentemente começamos a julgar e criticar, mas sentimos vergonha de falar sobre o bem. “Talvez as pessoas irão rir de nós!” E daí?: Por Cristo podemos tolerar. O mal tem medo de uma boa palavra e o ridiculariza. A nossa boa palavra é uma força criadora, pois ela tem a mesma raiz que tem o Verbo de Deus. Através da palavra, com força Divina, é vencido o mal que surge. A palavra existe até mesmo no silencio: é a palavra interna. Mesmo a palavra não dita, tem sua força. Freqüentemente a boa palavra passa pelo filtro da ridicularização e da falta de apoio, mas nós não devemos ter medo disto. Ela atravessa este filtro e brota como uma semente. Para brotar, a semente com a ajuda de Deus, atravessa o filtro de terra, cresce e brota na superfície. É assim que uma boa palavra tem um começo criativo. “Por quem tudo foi feito.” Não tenha medo de dizer uma boa palavra. A palavra que encontrar um solo adequado, poderá transformar-se em vida e trazer um fruto generosíssimo. Se à palavra une-se o mal, ela perde a sua força. Nós privamos a palavra de uma força poderosa, inserindo nela a morte. E a palavra no lugar da verdade traz a nós o conflito, a morte. Não lutando contra o mal, eu trago com a palavra o conflito, e ela irá a julgamento, no dia do Juízo Final.

Quando começa a surgir dentro de nós uma nova palavra nós devemos voltar-nos a Deus pedindo ajuda. Voltados a Deus, nós trazemos a luz do céu e ela penetra dentro de nós, então a palavra que está nascendo traz luz ao mundo torna-se criativa e une as pessoas. A escuridão tem medo da luz. Sem percebermos, através de uma ácida autocrítica nossa vontade diminui. Nós temos medo de pronunciar uma boa palavra, revelar-se, enquanto o mal se alegra de sua ação enfraquecendo-nos. A plenitude da energia do bem fica encoberta pelo medo da humilhação. Nosso desafio é afirmar que: nós rejeitamos a força do mal e acreditamos no bem.

O ser humano parece sempre estar esperando por alguma coisa. Neste momento, nós não podemos ficar esperando nada, é preciso agir. Nada de afirmar; eu não sou um lutador. Você é um lutador com as armas que você possui. É necessário fazer força para dizer sempre uma boa palavra. Esta é a missão que o Senhor dá para cada um de nós. O bem é corajoso. A boa palavra, que carrega o bem dentro de si, desperta a luz nas almas dos semelhantes e nas almas obscurecidas desmascara a escuridão. O pecado traz a nós uma vida de ilusões. O bem traz a vida real que se estende à eternidade. Quando dizemos uma boa palavra, é como se nós abríssemos o céu e penetrássemos na eternidade. E a boa palavra torna-se a pedra fundamental daquela habitação que é preparada para nós pelo Próprio Senhor, assim como Ele preparou a morada para o ladrão crucificado a Seu lado na hora final. A boa palavra traz por si só, o bem e a alegria desta vida e da próxima — na vida eterna nos dará a graça de podermos ver a Deus. Assim como a semente na parábola do semeador, exatamente assim a boa palavra, caindo sobre um solo receptivo, dará frutos, em trinta, sessenta, cem vezes mais.

Arcebispo Sergio Korolev de Praga (1881-1952)
Traduzido por Boris Petrovich Poluhoff
http://www.fatheralexander.org/