“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

ok

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

“A luta com o pecado”

Cada pecado é uma infelicidade para nós e para todos os que nos cercam. O pecado é o início do que nos separa, distancia e repele das pessoas. O pecado não expurgado está firmemente cravado em nosso coração e separa as pessoas uma das outras. Cada vitória sobre o pecado é a reconquista de si mesmo e dos outros para uma vida de compreensão mútua entre todas as pessoas. Na vitória sobre o pecado abre-se uma atração mútua e um sentimento de irmandade entre as pessoas de forma natural: vencendo o pecado dentro si, o ser humano ajuda aos outros, até mesmo sem consciência e vontade destes, ele abre as suas melhores qualidades da sua alma e quase que sem querer leva-os para o bem. Vencendo o pecado dentro de si, reavivando no íntimo de seu ser os melhores aspectos, o ser humano com isso mesmo abre o tesouro espiritual existente também dentro dos outros e ajuda-os a encontrar em si mesmos, aquilo que eles nunca perceberam antes.

O bem encontra eco no meio daquelas pessoas que o tem, mas que ainda não o perceberam. O ser humano enquanto sob o domínio do pecado, parece que tem medo de outras pessoas, mas a partir da vitória sobre o pecado, ele contamina com o bem o seu próximo e a todos os que o cercam. Isso é muito importante compreender e experimentar, porque normalmente em nós predomina um sentimento pessimista e nós temos a impressão que o mal dominou o mundo. Esse pessimismo impede a luta com o pecado e diminui a luta ativa contra ele.

Num contato superficial com uma pessoa, nós não vemos nada e não podemos perceber o tesouro do bem inaproveitado e que pertence a ela. Aquele que vence o pecado em si, desperta no outro essas forças do bem e estes aspectos da alma do outro, que são riquezas originadas pelo bem. Quando uma pessoa em pecado, percebe seu próximo fazendo atos bons, ele também adquire forças para uma atividade cristã. Enorme, incomparável é a alegria em procurar o bem em si e nos outros. Aumentando o bem no mundo é que se revela a força da graça de Deus que se revela ajudando aos nossos enfraquecidos esforços, a fazer aquilo o que sem ela seria completamente impossível. Freqüentemente na vida, o ser humano “comete um pecado que não deseja” (São Paulo). Este prisioneiro do pecado encontra no bem de outra pessoa, a força que o empurra para o bem em sua vida cotidiana.

Para uma real felicidade e não ilusória, é necessário vencer o pecado. É necessário permanentemente prestar atenção naquilo, o que move o ser humano externamente e no que o dirige internamente, examinando seu comportamento e vontades. Este esforço não é fácil, mas nos relacionamentos entre as pessoas — é a vida. É necessário iluminá-los com a luz da Verdade de Cristo, para que estes relacionamentos não sejam nocivos nem para nós e nem para as pessoas que se relacionam conosco. Se existe paz na alma, então esta alegria não será perdida nunca. O conflito sempre traz a infelicidade. Se o ser humano tem dentro de si a paz, então seu coração pacífico lança luz sobre tudo. A paz no coração é a principal conquista. As ações originadas por um coração assim, transformam todos os relacionamentos para o bem. O estado em pecado, através da irritação vinda de outros, se confrontado pela nossa irritação controlada, transforma-se para o nosso bem em algo que cria para nós e para os outros um bom estado de espírito, - pois com esta atitude nós congelamos a irritação dos outros. Aqui há também um benefício para aquele que se revelou modesto ou humilde e para quem estava irritado. Daqui é que vem a felicidade na vida. A vitória de um contra seus pecados e o esforço para a salvação — gera o bem comum a todos.

O bem, como força positiva, desenvolve e traz à vida o bem adormecido nos outros, fechado até o momento pela passividade e também pelo ataque do mal. O bem cria uma atmosfera que é uma forte ajuda no combate contra o mal na vida cristã. Às vezes parece que o esforço para eliminar o mal em nós é egoísta e que tal pessoa está preocupada apenas consigo mesma e desligada do bem comum. Mas isto não é assim. O ser humano, que não conseguiu ainda vencer seus pecados, não consegue gerar uma influência positiva sobre os que o cercam, não pode ajudar aos outros e nem comemorar em conjunto a vitória deles sobre seus pecados.

Ele não pode agir para o bem comum com aquele benefício e força, se tivesse vencido em si mesmo o pecado. A santidade é uma enorme benção e força. Decididos de fato a ajudar os outros, nós, antes de mais nada, devemos nos limpar de todos os hábitos e tendências de pecar, ficarmos limpos e levar uma vida de acordo com Deus. É na medida de nosso aperfeiçoamento que podemos ser úteis aos nossos semelhantes em seus problemas e dificuldades. Este é o único caminho para ajudar aos outros. Aquele que conquista a santidade, conquistou a máxima capacidade de ajudar aos outros. Basta lembrar os nomes de São Sergio Radonejsky e São Serafim de Sarov, para nos convencermos disso. Em direção a eles acorriam imensas quantidades de pessoas de todas as partes e eles sempre tinham capacidade de ajudá-los em todas as necessidades. Eles serviam à comunidade e serviam da melhor forma possível, trazendo ao mundo o bem verdadeiro: eles próprios sabiam através de sua experiência de vida, o que é o bem e por isso podiam ensiná-lo a todos. Os seres humanos aos olhos de Deus são organismos com objetivos. As diversas aparições de santidade limpam todo o organismo. Salvando a si próprio, nós introduzimos uma parcela da salvação na salvação de toda a humanidade.

A melhoria interna do ser humano acontece não apenas no instante de grandes desafios, mas principalmente na repetitiva vida cotidiana. O objetivo do ser humano — é o equilíbrio de sua vida interior e a construção em si mesmo do Reino dos Céus. Lutando com o pecado, consolidamos em nós e no mundo a vida de Deus. O combate com o pecado expõe também as verdades supremas e nós aprendemos a conhecer melhor a vida de Deus. Uma vida assim é a construção do Reino dos Céus em toda sua força. Tornam-se mais compreensíveis as palavras da oração ao Senhor “ Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade.”

Quando nós, vencendo o pecado e superando rupturas, voltamos a unir-nos, então os nossos pensamentos e vontades tornam-se comuns, nós pensamos de forma idêntica. Nessa identidade de sentimentos e vontades nós começamos a compreender a vontade de Deus e o que é esperado de nós. É aquela unidade pela qual orava Jesus Nosso Senhor. Essa identidade e união no amor — não são ideais distantes, mas o esforço fundamental para estabelecermos nossa vida. Nós conseguiremos nos aproximar dele, se nós descobrirmos nossas semelhanças espirituais. A questão da salvação da alma não é uma questão teórica, mas o caminho da ação. Infelizmente, nem todas as pessoas que freqüentam igrejas compreendem isto. Vencer o pecado é necessário para uma aproximação mútua e para a concretização de nosso esforço fundamental.

O pecado que mora em nós, nos obscurece e nos obriga a inventarmos desculpas perante nós mesmos. Este auto-engano vem a nós pelo demônio. Enquanto em nós não despertar a consciência, atenta não apenas a pecados isolados — raramente teremos consciência de todos nossos pecados. Com os nossos pecados em qualquer ambiente nós traremos conflitos, porém cada batida do coração dirigida para o bem, é a medida que faz a diferença. Nossas desculpas e justificativas pelos nossos pecados — são inimigos de nossa salvação. Somente a consciência do perigo que é o pecado desperta a vontade de lutar contra ele. Nós somos indiferentes ao pecado enquanto não tomamos consciência que ele nos retira a felicidade. Nós consideramos o pecado como nossa natureza. “Eu sou assim, assado e não posso ser de forma diferente” — “este é o meu caráter.” Mas o caráter não é algo, com o que nós não podemos lutar. Com a decisão para começar a lutar com o pecado, é necessário lembrar, que ele não é integrante de nossa natureza, mas que ele aderiu a nós. Nossos mais distantes antepassados foram criados sem pecado. O pecado é algo externo que penetra em nossa natureza, se adapta a nós, escolhe para se fixar naqueles aspectos mais convenientes a ele em nossa alma criada por Deus. O pecado nos aprisiona, penetra em nós, no início como uma forma desconhecida, mas que depois faz com que tudo seja misturado a ele. É muito importante estar atento ao fato que o pecado é um estranho ao nosso ser: isso ajuda a combatê-lo. O momento de iluminação vindo do Senhor, quando nós tomamos consciência de nossos pecados, inicialmente é ligado à nossa força de vontade, pois o pecado escraviza a nossa força de vontade. Uma “Vontade fraca” vem do demônio. Mas e se o que vem de nós está misturado com o pecado, como nós iremos vencer a nós mesmos? Para que dentro de mim surja a força de vontade para lutar com o pecado, é imprescindível ter consciência que o pecado não é parte de nós. Este conhecimento dá forças à vontade no combate ao pecado.

Arcebispo Sergio Korolev de Praga (1881-1952)
Traduzido por Boris Petrovich Poluhoff
http://www.fatheralexander.org/