“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Contato com a Ortodoxia

Silêncio, concentração, ascetismo, ênfase no trabalho espiritual interior — o que no Brasil, como «país do carnaval», não existe.

Mas é justamente isto que podemos encontrar na Igreja Ortodoxa. Até que ponto é oportuna uma conversa sobre a contribuição especial da Ortodoxia na cultura brasileira? Foi sobre isto que decidimos conversar com o ministro da cultura do Brasil, Gilberto Gil, depois de estar em uma celebração ortodoxa.

Senhor ministro, que conhecimento o senhor tem da Ortodoxia?
Devo reconhecer que foi a primeira vez na minha vida que estive em um templo ortodoxo e a primeira vez que presenciei uma celebração religiosa... Estou admirado! É até difícil exprimir meus sentimentos. Simplesmente, essa cerimônia foi para mim também uma espécie de batismo — foi como se eu mesmo estivesse diante do sacerdote, eu mesmo mergulhasse na pia batismal.

Como ministro da cultura, o senhor considera que a Ortodoxia pode dar alguma contribuição à cultura brasileira no aspecto espiritual?
Ocorre que o Brasil é um país muito novo, cuja cultura e tradição espiritual próprias estão apenas começando a se formar. Hoje a sua cultura é uma espécie de coquetel de várias tradições culturais e espirituais. Para uma tomada de consciência dos brasileiros isto é muito importante. Por isto nos alegramos com toda «tradição externa» que pudermos entrar em contato.

A Ortodoxia no Brasil pode ter um papel de destaque?
Por enquanto não estou preparado para falar com mais detalhe sobre a profundidade espiritual da fé ortodoxa. Mas, a julgar até pela impressão externa da celebração, penso que a Ortodoxia pode ter a sua contribuição especial — única — à nossa cultura. A estética ortodoxa, música, textos, organização do templo — por tudo isto a Ortodoxia pode ser intressante aqui no Brasil.

O que o senhor sente agora, depois de terminada a celebração?
Uma vez mais sinto que o ser humano tem um enorme valor — o serviço divino. Através do serviço a Deus podemos materializar na vida tudo o que temos de humano — a tentativa de ser firme, a consciência de que o tempo e a nossa vida não são sem sentido, a necessidade não é somente de «sobreviver» neste mundo, mas permanecer fiel à predestinação do homem.

Entrevista concedida a Konstantin Matsan, do Magazine "Tomé"