“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Faleceu o Patriarca de Todas as Rússias Alexis II

Alexis II, Patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia, morreu hoje na sua residência oficial na capital russa, anunciou o sacerdote Vladimir Viguiliansk, porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa (IOR).

A morte do chefe supremo da Igreja Ortodoxa Russa, a maior e mais influente entre os cristão ortodoxos no mundo, foi inesperada para a hierarquia desta Igreja cristã, visto que, na véspera, Alexis II tinha confirmado a sua participação numa conferência sobre "A língua russa e os valores da cultura nacional".

Alexis II, de seu nome Aleksei Mikhailovitch Ridiger, nasceu a 23 de Fevereiro de 1929 em Tallinn, capital da República da Estónia, país onde fez a sua carreira eclesiástica até 1947, ano em que ingressa no Seminário Superior de Leninegrado.

A 15 de Abril de 1950, foi ordenado sacerdote e regressou à Estônia, onde ocupou vários cargos até chegar a bispo de Tallinn e da Estônia.

A 14 de Novembro de 1961, Alexis regressa à Rússia para ocupar o cargo de presidente da Secção de Relações Internacionais do Patriarcado de Moscou. Três anos depois, passa a dirigir a Secção de Organização da mesma Igreja e torna-se membro do Santo Sínodo da IOR, órgão supremo.

Depois de ocupar outros cargos de topo na IOR, Alexis II foi eleito Patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia a 07 de Junho de 1990, substituindo Alexis I, que falecera poucos dias antes.

A sua eleição coincide com o período de transição do sistema comunista ateísta para a democracia na União Soviética, quando as confissões religiosas passam a ter total liberdade de culto e procuram ocupar um lugar de maior relevo na sociedade.

Alexis II foi um defensor acérrimo da devolução à IOR dos templos e bens confiscados pelo regime comunista, bem como tentou fazer que a Igreja Ortodoxa tivesse um estatuto especial na nova Rússia e nos países saídos da União Soviética, considerados por ele "territórios canônicos" da Igreja Ortodoxa Russa.

Esta última reivindicação esteve na origem de conflitos entre a IOR e a Igreja Católica de Roma, a quem o Patriarca Alexis II acusou de "proselitismo" e "missionarização" da Rússia e países vizinhos. Por esta e outras razões, o Papa João Paulo II ficou praticamente impedido de visitar a Rússia, um dos seus maiores sonhos.

Recentemente, foi anunciado um encontro de Alexis II com Bento XVI no próximo ano, mas a direção da IOR acabou por desmentir a notícia, considerando ainda não estarem criadas condições para isso.

O Patriarca falecido tentou também ter uma palavra na vida política e social da Rússia. Em Outubro de 1993, tentou ser intermediário no conflito entre o Presidente russo, Boris Ieltsin, e o Soviete Supremo da Rússia, tendo falhado nessa missão. A fim de impor as suas posições, Ieltsin recorreu aos canhões para acabar com a resistência dos deputados.

Alexis II foi acusado várias vezes de ter sido informador dos antigos serviços secretos russos, o KGB, acusação que o patriarcado de Moscou negou sempre. O religioso reconheceu, porém, que as autoridades religiosas chegaram a alguns acordos com o governo soviético e pediu perdão e compreensão a todos aqueles a quem a cumplicidade da Igreja pudesse ter causado danos, durante uma entrevista dada em 1991.

Na era de Vladimir Putin, a Igreja Ortodoxa Russa tornou-se num elo obediente do Kremlin, tal como acontecera na época dos czares, em troco de apoio por parte do poder.

Alexis II tinha fama de ser uma pessoa conciliadora e disciplinada, tendo reabilitado vários santos e mártires perseguidos pelo regime comunista. Em 2000 acabou por reabilitar religiosamente a figura do último czar russo, Nicolau II, e da sua família.