“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 17 de maio de 2008

"Ortodoxia e Ecumenismo"

I
Excelências,

A atitude da Igreja Ortodoxa face aos heréticos, quer dizer, face a todos aqueles que não são ortodoxos, foi fixada uma vez por todas pelos santos Apóstolos e santos Padres, em outros termos, pela santa Tradição una e imutável do Deus-homem. De acordo com esta atitude, torna-se proibido aos ortodoxos a participação a toda e qualquer oração, como a todo ofício litúrgico comum com os heréticos. Pois “que relação tem a justiça coma impiedade? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” (II Co. 6,14-15).

O 45º cânone apostólico estipula: “Se um Bispo, um Presbítero ou um Diácono tenha somente orado com os heréticos, que ele seja excomungado; se lhe tenha sido permitido realizar um ato qualquer enquanto clérigo, que ele seja então deposto”.

Este santo cânone não precisa a natureza da oração ou do ofício concernente ao crivo de tal proibição; ele proíbe toda a oração comum com os heréticos, mesmo se ela seja somente privada (“tenha somente orado com os heréticos”).

Não se produzem atos, aquando das celebrações ecumênicas, que atingem proporções bem mais extensas?

Citemos o 32º cânone de Laodicéia: “Não convém receber bênçãos (“evlogia”) da parte dos heréticos, que mais representam palavras ocas (“alogia”) do que bênçãos”. Os heréticos podem abençoar aquando das reuniões e celebrações ecumênicas: bispos e padres católico-romanos, pastores protestantes, administração de senhoras?

Todos estes cânones e tudo que lhes concerne, cânones dos santos Apóstolos e dos santos Padres, não eram somente válidos nos tempos anteriores, mas eles o são ainda hoje; permanecem plenamente em vigor para nós, cristãos ortodoxos contemporâneos. Eles permanecem indubitavelmente em vigor para nós em relação aos católico-romanos e os protestantes. Pois se o catolicismo é uma heresia múltipla, o que dizer então do protestantismo? Melhor seria nem falar? São Savas, primeiro arcebispo da Sérvia, não falava já em sua época, há sete séculos e meio atrás, da “heresia latina”? E desde este tempo quantas novas heresias o papa não deve ter inventado e dogmatizado “infalivelmente”? Não há dúvidas de que, pelo dogma da infalibilidade papal, o catolicismo-romano tenha se tornado pan-heresia.

Quanto ao Concílio Vaticano II, louvado em toda parte, nada mudou, no que concerne esta monstruosa heresia, mas, ao contrário, reforçou-a.

Por esta razão, se nós somos ortodoxos e se nós o queremos permanecer, somos então chamados a manter a atitude de São Savas da Sérvia, de São Marcos de Éfeso, de São Cosme de Etólia, de São João de Cronstadt e de todos os outros santos confessores, mártires e neo-mártires, em relação aos católico-romanos e aos protestantes, posto que nenhum dentre eles tem uma fé ortodoxa, ao considerarmos os dois dogmas fundamentais do Cristianismo: A Santíssima Trindade e a Igreja.

II
Vossa Santidade e santos Padres do Sínodo,

Até quando aviltaremos nós servilmente ainda nossa santa Ortodoxia e nossa Igreja de São Savas pela nossa terrível atitude contrária à Santa Tradição, para com o ecumenismo e o C.E.I (Conselho Ecumênico sdas Igrejas)?

Cada fiel cristão ortodoxo leal, cuja educação tenha sido guiada pelos Santos Padres, sacia-se de vergonha ao ler que os membros ortodoxos da 5ª conferência panortodoxa de Genebra (8-16 Junho 1968) decidem, acerca da participação dos ortodoxos nos trabalhos da C.E.I, “de exprimir que a Igreja Ortodoxa constitui um membro orgânico do Conselho Ecumênico das Igrejas”.

Esta decisão é terrível pela sua não-ortodoxia e sua anti-ortodoxia. Seria necessário que a Igreja Ortodoxa, este corpo e este organismo imaculado e teo-andrico (do grego theo/andros: “divino-humano”) de Cristo, seja humilhada a tal ponto, que seus representantes, teólogos e mesmo bispos, entre os quais, alguns Sérvios, peçam a participação e a incorporação “orgânica” no Conselho Ecumênico das Igrejas, que, desta maneira, torna-se um novo “organismo” eclesiástico, uma “nova Igreja”, acima das Igrejas, onde os ortodoxos e os não-ortodoxos constituem os “membros” (ligados “organicamente entre eles” !); é uma traição inaudita!

Nós rejeitamos a fé ortodoxa teo-andrica, o próprio vinculo orgânico com o Deus-homem, nosso Senhor Jesus Cristo, e Seu Corpo imaculado – a Igreja Ortodoxa dos Santos Apóstolos e dos Padres e dos Concílios Ecumênicos – e queremos nos tornar membros “orgânicos” da associação herética, humanista e antropólatra (do grego “idolatria aos homens” (mais enfático que o humanismo), que é composta de 263 heresias, tal como de mortes espirituais!

Enquanto ortodoxos, nós somos “membros de Cristo”. “Tomarei pois os membros de Cristo, e fá-lo-ei membros de uma meretriz?” (I Co. 6,15). No entanto, nós próprios o fazemos por meio de nossa união “orgânica” com o C.E.I, que não deixa de representar o renascimento da antropolatria ateia – da idolatria.

É verdadeiramente tempo, Excelências, para a nossa Igreja Ortodoxa, a Igreja dos Santos Padres e de São Savas, a Igreja dos Santos Apóstolos, dos Confessores, dos Mártires e dos Neo-mártires, de cessar toda a participação eclesiástica, hierárquica e litúrgica no C.E.I. e de recusar de uma vez por todas a participação às orações e aos ofícios comuns (ofícios que, na Igreja Ortodoxa, estão ligados organicamente ao seio de um todo e encontram seu coroamento na Divina Eucaristia) e, em geral, a todo ato que não contém em si mesmo e nem exprime o carácter único e irreproduzível da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, sempre Una e Única.


III
Ao recusar de se unir eclesiasticamente aos heréticos, onde quer que seja o seu centro, em Roma ou Genebra, nossa Igreja Ortodoxa, fiel em todo tempo aos Santos Apóstolos e aos Santos Padres, não renuncia, em contrapartida, sua missão cristã, nem seu dever evangélico: testemunhar diante do mundo contemporâneo, assim como ao mundo não-ortodoxo e ao mundo dos incrédulos, a Verdade da Pan-Verdade, humildemente mas com força, a respeito do verdadeiro Deus-homem e do poder salvador e transfigurante da Ortodoxia. Guiada por Cristo, nossa Igreja, pelo carácter e o espírito patrísticos de seus teólogos será sempre pronta a responder a quem quer que nos pergunte a razão da esperança que há em nós. (I Pedro 3,15). E nossa esperança, agora e sempre e em toda a eternidade, é una e única: o Deus-Homem Jesus Cristo em Seu Corpo Theândrico, a Igreja dos Santos Apóstolos e dos Santos Padre. Os teólogos devem participar não a estas “orações ecumênicas em comum”, mas a diálogos teológicos na Verdade e acerca da Verdade, o que fizeram, durante séculos, os Padres santos e teóforos da Igreja. A Verdade da Ortodoxia e da verdadeira fé são “a partilha” somente “daqueles que são salvos” (7º cânone do 2º Concílio Ecumênico).

A boa-nova apostólica é plenamente verdade: “A salvação pela santificação do Espírito e pela fé na verdade”. (II Ts. 2,13). A fé divino-humana é “a fé da Verdade”. A essência desta fé é a Verdade, a única Pan-Verdade, quer dizer, o Deus-Homem, Cristo. E esta fé e este amor formam o coração e a consciência da Igreja Ortodoxa. Tudo isto só é guardado na sua plenitude e sem alteração na Ortodoxia mártir dos Santos Padres, pela qual os cristãos ortodoxos são conduzidos a testemunhar diante do Ocidente, diante de sua falsa fé e seu pseudo-amor.
Eu peço as santas orações de vossa Santidade
e dos Bispos do Sínodo.
Arquimandrita Justin Popovitch

Teólogo ortodoxo de renome mundial, o Padre Justin Popovitch marcou sua época, notoriamente como professor na Academia de Belgrado, na formação de diversas gerações de padres e de teólogos. Foi destinado à residência no Mosteiro de Tchélie, próximo à Valievo (Iugoslávia), onde torna-se capelão e Pai espiritual.

No meio da tormenta de idéias que ganham o mundo moderno e abalam perigosamente todo sector de actividade espiritual, o Padre Justin Popovitch afirmou-se, por diversas vezes, como o guardião da Ortodoxia, fazendo por vezes face àqueles que tem por missão defendê-la. A gravidade dos problemas postos ao mundo ortodoxo, e particularmente à Igreja Ortodoxa Sérvia, conduziram-no, em diversas ocasiões, a fazer apelo à consciência ortodoxa universal em cartas dirigidas ao Santo Sínodo dos Bispo de sua Igreja.