“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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domingo, 9 de março de 2008

Domingo da Tirofagia (O Perdão)

Este domingo é o quarto dos domingos de preparação para a Quaresma. Ele encerra o período de preparação. É o último dia. A partir de segunda-feira de manhã estaremos em Quaresma. A Tradição da Igreja diz que a partir daqui nos abstenhamos de laticínios.

O sábado que antecede esse domingo é dedicado à memória dos Santos que se dedicaram à vida ascética. Na abertura da Quaresma, os saudamos como inspiradores e intercessores na difícil via da penitência.

A Epístola de São Paulo aos Romanos (Rm. 13, 11-14;14, 1-4), lida na Liturgia de domingo, exorta-nos a sair das trevas, a revestirmo-nos com a armadura de luz, a caminhar em pleno dia, fugindo da embiaguez, das desonestidades, da dissolução, das contendas e da inveja. Paulo religa esse tema da carne ao tema do jejum. Um acha que pode comer tudo; um outro só come legumes. Aquele que come não despreze o que não come, e aquele que não come não julgue aquele que come. Quem é puro para julgar a outro? Tu mesmo e esse outro estão sob a dependência do mesmo Mestre.

O Evangelho da Liturgia, tirado de São Mateus (Mt. 6, 14-21), começa pelo preceito do perdão: “Se perdoardes aos homens suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”. O fato pelo qual a Igreja escolheu esta frase para introduzir o Evangelho do dia mostra que ela pretende fazer do perdão a idéia dominante desse domingo. É verdade que todo o resto do Evangelho do dia fala de jejum; mas a partícula grega que une os versículos relativos ao jejum aos versículos relativos ao perdão parece asinalar aos primeiros uma posição de dependência em relação ao segundo. O Sewnhor recomenda àqueles que jejuam a não se dar um ar sombrio e um semblante abatido, como falam os hipócritas, ara que vejam que jejuam. “Tu, quando jejuares, unge tua cabeça e lava o rosto. O Pai, que vê em secreto, te recompensará. Que teu tesouro e teu coração estejam não na terra mas no céu”

Os cânticos de Vésperas e de Matinas opõe a beatitude do Paraíso ao estado miserável do homem após a queda. Mas Moisés, pelo jejum, purificou seus olhos e tornou-os capazes da visão divina. Da mesma forma, que nosso jejum - que durará quarenta dias, como o de Moisés - nos ajude a reprimir as paixões da carne e permita-nos “avançar docemente pela via celeste”. Reforcemos essa palavra “docemente”. Nossa penitência não deve ser uma coisa pesada. Devemos atravessar essa Quaresma de maneira leve e sutil, que nos assemelhe, de alguma maneira, aos anjos.