Pela eternidade Deus é luz: a única verdadeira luz eterna, imaterial, infinita e absolutamente incompreensível. Ele repousa no segredo inacessível de sua Natureza única e goza da comunhão inexprimível de amor entre suas três Pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ele é bom e princípio de toda a bondade e de todo amor; é por isso que Ele não se contentou com a sua própria contemplação, mas na superabundância de sua bondade Ele quis que um outro participasse de Sua luz e trouxe do não-ser o mundo à existência. Antes de criar o mundo visível, Ele dá a vida ao seu Verbo por Seu Espírito Santo aperfeiçoa em santidade a natureza Angélica, fazendo dos Poderes celeste e incorpóreos seus zelosos servidores, ardentes como um fogo imaterial. Eles são luzes secundárias, que recebem pela Graça do Espírito Santo a iluminação de luz primeira e sem princípio e participam de sua imortalidade.
Deus os fez seus servidores e os envia (“anjo” significa “enviado”) a velar pela terra. Eles presidem aos povos, as nações e às Igrejas (segundo o Apocalipse, cada Igreja local possui um Anjo protetor), eles asseguram a marcha dos desejos da Providência em relação a nós: tanto em geral como em particular. Deus colocou invisivelmente junto a cada um de nós um Anjo da Guarda, que cuida constantemente de nós, sem deixar de estar perto de Deus. Ele nos sugere o bem pela voz de nossa consciência, ajuda-nos a evitar as armadilhas do Diabo e atiça em nós o fogo salutar do arrependimento quando pecamos.
Somente o Criador conhece o gênero e os limites da natureza Angélica. A tradição costuma agrupá-los em 9 ordens: primeiro, os Serafins (em hebreu “ardentes”), segundo os Querubins, terceiro os Tronos, em seguida as Dominações, as Virtudes e os Poderes, e finalmente as Potestades, os Arcanjos e os Anjos. É por estes últimos que Deus nos comunica os decretos de Sua Providência, e como eles são os mais próximos de nós, é a eles que Deus envia sob forma corpórea quando assim o deseja.
Quando Deus criou o mundo invisível, a plenitude inumerável da hierarquia celeste gozava da luz de Deus, e numa roda sagrada cantava com voz forte: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Sabaoth, o céu e a terra estão cheios da Tua Glória” (Isaías 6,3).
O espírito celeste mais próximo de Deus, Lúcifer, orgulhou-se dos privilégios que recebera e quis igualar-se ao Altíssimo (Isaías 14,14). Ele não era mau por natureza; mas por orgulho revoltou-se livremente contra Aquele que o havia criado. Por isso caiu de sua posição elevada e precipitou-se no inferno. Desta maneira, ele havia rasgado os céus, e puxou violentamente consigo uma multidão de Anjos de todas as ordens e tornou-se seu chefe. A vista deste espetáculo lamentável, o Arcanjo Miguel, chefe da milícias celestes, que por sua humildade e sábia submissão a seu Criador reforçou-se na luz, lançou-se em direção a fenda aberta, reuniu os Anjos que permaneciam fiéis e gritou: “ Estejamos atentos!”.
O muito glorioso e muito luminoso Príncipe dos Poderes celestes e incorpóreos, Miguel, aparece com freqüência nas Sagradas Escrituras. É a ele que Deus envia para anunciar aos homens os decretos de Sua justiça.
Em Deus a justiça não pode ser separada da misericórdia: “A misericórdia e a verdade encontram-se, a justiça e a paz abraçaram-se” (Sl. 84,11). Por isso não se pode comemorar Miguel, o Anjo da Justiça, sem associá-lo a Gabriel, o Anjo da Misericórdia. Ele é enviado por Deus aos homens para lhes anunciar as maravilhas de seu Amor e de sua benevolência quanto à Salvação. É ele que nutre com maná celeste a Mãe de Deus durante 12 anos no templo, e foi enviado por Deus a ela para anunciar-lhe a boa nova esperada desde a origem do mundo: quer dizer, que ela devia dar à luz a Deus pelo Espírito Santo.
Assim, desde a origem até a Ressurreição de Cristo e o fim dos tempos, o Santo Arcanjo Gabriel é o mensageiro enviado por Deus para anunciar aos homens as maravilhas de Sua misericórdia na Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”
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