“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 24 de novembro de 2007

“Do agradecimento pela graça de Deus”

Por que buscas repouso, se nasceste para o trabalho?
Dispõe-te mais para a paciência que para as consolações; antes para levar a cruz que para alegria.
Que homem mundano não aceitaria, de boa vontade, as consolações e alegrias espirituais, se as pudesse conseguir?
Na verdade, as consolações espirituais excedem todas as alegrias do mundo e todos os deleites da carne.
Porque todas as delícias do mundo são vãs ou torpes e somente as do espírito são suaves e honestas, geradas pelas virtudes e por Deus infundadas nas almas puras.
Mas ninguém pode, à medida de seus desejos, gozar dessas divinas consolações, porque a tentação não cessa por muito tempo.
Grande obstáculo às visitas celestes é a falsa liberdade de espírito e a demasiada confiança em si mesmo.
Deus faz bem, dando-nos a graça da consolação; o homem, porém, procede mal, não retribuindo tudo com ações de graças.
Não correm para nós, liberalmente, os dons da graça, porquanto, ingratos para com o seu dispensador, não atribuímos tudo à fonte original.
Com efeito, a graça é sempre concedida ao que sabe, dignamente, agradecê-la; tira-se do soberbo o que se costuma dar ao humilde.
Não quero consolação que me tire a compunção, nem desejo contemplação que me leve à soberba.
Porque nem tudo o que é elevado é santo; nem tudo o que é bom é doce; nem todo o desejo é puro, nem tudo o que nos deleita é agradável a Deus.
De boa vontade recebo a graça, que me torne mais humilde e timorato e me faça mais disposto à renuncia de mim mesmo.
O homem instruído pela graça e provado pelo castigo da subtração da mesma, já não ousará atribuir bem algum a si próprio; ao contrário, confessar-se-á pobre e desprovido de tudo.
Dá a Deus o que é de Deus e atribui a ti o que é teu.
Coloca-te sempre no último lugar e ser-te-á dado o mais elevado; porque não existe alto sem baixo.
Os maiores santos, diante de Deus, são os que, aos próprios olhos, menores se julgam e, quanto mais exaltados, mais humildes em si mesmo.
Com estão cheios da verdade e da glória celeste não cobiçam a glória deste mundo.
Os que estão fundados e confirmados em Deus, de nenhum modo podem ser soberbos.
E os que atribuem a Deus todo o bem que Nele receberam, não buscam mútuos louvores, mas desejam, somente, a glória, que Dele procede e aspiram, unicamente, que Deus seja louvado acima de todas as coisas, neles e em todos os santos e tendem sempre para Deus.
Agradece, pois, o mínimo benefício e tornar-te-ás digno de receber maiores bens.
Considera o pouco em grande conta e o menor dom como dádiva singular.
Se se considera a dignidade de quem dá, nenhuma dádiva te parecerá pequena ou de menor valor, porque não pode ser pouco o que é dado por Deus soberano.
Ainda que nos envie penas e castigos, devemos agradecer-lhe; porque é sempre para a nossa salvação quanto faz ou permite que suceda.
Quem, pois, deseja conservar a graça de Deus, seja reconhecido pela que lhe foi concedida e sofra com paciência, quando lhe for retirada. Ore para que se lhe restitua e seja cauteloso e humilde, para não a perder.