“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

“Da Privação de todo conforto”

Posto que a humanidade santa do Salvador gozasse por sua íntima união com o Verbo divino, de inalterável paz e constante alegria, não deixava ele, todavia, de ressentir muitas vezes na parte inferior da alma, as aflições e dores que são a triste herança de nossos primeiros pais. Quem se não lembra daquelas palavras do Salvador: “Minha alma está triste até a morte!” “Meu Pai! Meu Pai! Por que me abandonastes?” (Mt. 26, 38; 27, 46)

Assim a alma cristã, sem perder a paz é também provada pela tristeza e pelas atribulações interiores. Se ela gozasse sempre de consolações, seria para recear que caísse pouco a pouco na acedia; e que teria ela então a oferecer a seu divino esposo? “A virtude aperfeiçoa-se na enfermidade”, nos ensina o Apóstolo, e acrescenta: “Gloriar-me-ei, pois, em minhas enfermidades, para que habite em mim a virtude de Jesus Cristo” (2 Co. 12,9)

Esta espécie de desamparo, este desterro do coração, nos recorda vivamente nossa miséria, que muito facilmente esquecemos, exercita nossa fé, estimula nosso amor e nos mantém na humildade.

Nessas horas de míngua, em que Deus parece retirar-se de ti, guarda-te de fraquear sob o peso da provação, e não te abandones ao desalento. Se queres levar com ânimo a tua cruz, não te inquietes de seu peso; ele se tornará leve pela total conformidade com a vontade de Deus. Em vez de gemeres, e de te perturbares, consola-te e alegra-te; porque está escrito: “Os que semeiam nas lágrimas colhem com na alegria. Iam chorando quando deitavam a semente à terra, virão cheios de alegria quando trouxerem em suas mãos louras paveias” (Sl. 125(6),5 6)

Ò minha alma, quando por todos os lados te sentires atraiçoada na terra, eleva-te ao céu, porque Deus não está longe dos aflitos; a verdadeira doutrina lança raízes em nossas lágrimas e dá frutos de virtude para a vida eterna.