“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Sobre o sacerdócio e a hierarquia eclesiástica."

"Nós somos os colaboradores de Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que me foi dada, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode por outro diverso daquele que já foi posto — Jesus Cristo" (1Cor 3:6-11).

A instituição divina do sacerdócio
Uma particularidade que diferencia a Igreja Ortodoxa, assim como todas as igrejas antiquíssimas (a Armênia, a Católico-romana, a Copta, Nestoriana e outras), vem a ser a existência do sacerdócio e de missas. Apesar das sociedades cristãs surgidas após Lutero (1520) não reconhecerem nem um nem outro, o sacerdócio e as missas surgiram não por força de quaisquer motivos externos, humanos, mas foram instituídos pelo próprio Deus.

Claro que no plano espiritual-moral todos os homens são iguais perante Deus, Que com imparcialidade julga e perdoa a todos como Seus filhos. No entanto, de acordo com o apóstolo Paulo, de forma semelhante como diversas partes do corpo desempenham diversas funções de acordo com a sua finalidade, dentro da Igreja, há também necessidade de diversas funções. Não foram os homens, mas o próprio Jesus Cristo que "a uns constituiu Apóstolos; a outros profetas; a outros Evangelistas, pastores e mestres, para o aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho da tarefa que visa a construção do corpo de Cristo (Igreja)," porque "assim como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo" (Ef 4:11-13).

Pouco a pouco ocorria a seleção e o preparo dos primeiros servidores da Igreja. A partir de praticamente primeiros dias do seu trabalho social, o Senhor Jesus Cristo selecionava alguns do meio dos ouvintes, que Ele preparava para serem os Seus enviados e continuadores da Sua obra. A eles, Ele determinou por meio de ensinamento e batismo (Mt 28:19), atrair novos discípulos, celebrar a Eucaristia (Lc 22:19), perdoar os pecados (João 20:21-23), divulgar e fortalecer a Igreja fundada por Ele. "Como o Pai Me enviou, assim também Eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles, dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (João 20:22-23) e um pouco mais tarde: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi" (Mateus 28:19-20). Aqui, Jesus Cristo não apenas encarregou Seus discípulos eleitos para o sacrifício de serviço apostólico, mas também os reforçou com o dom especial de Espírito Santo. Esse dom em toda a sua plenitude eles receberam, após a Ascensão do Senhor ao Céu, no dia de Pentecostes (Atos, cap. 2).

Tudo que ocorreu com eles, os apóstolos aceitaram como orientação superior. Não foi sua própria decisão, nem a sociedade e nem as circunstâncias externas, mas foi Deus quem os encarregou da missão de serviço apostólico. "Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou Consigo por Cristo e nos confiou o ministério desta reconciliação" — escreveu o apóstolo Paulo sobre a sua vocação (2 Cor 5:18).

Inicialmente, os próprios Apóstolos ensinavam a fé cristã, batizavam os crentes, impunham as mãos para transmitir os dons da graça, realizavam a Eucaristia e guiavam as comunidades cristãs fundadas por eles. No entanto, como visto no livro de Atos, nas epístolas, e também nos escritos cristãos antigos, os apóstolos estavam sempre preocupados em atrair auxiliares "pastores e mestres" que eram preparados para sucede-los, e que eram ordenados como bispos, presbíteros e diáconos. Não era para todos que desejassem, mas as pessoas escolhidas pelos apóstolos eles designavam realizar tudo aquilo que inicialmente eles mesmos realizavam seguindo as ordens do Senhor. Além disso, não eram casos isolados, que tivessem caráter temporário, mas sim, era um plano definido que os orientava por toda a parte e por unanimidade. Agindo dessa maneira, eles lançaram as bases da estrutura hierárquica sólida e segura que deveria garantir a divulgação correta e o desenvolvimento da Igreja de Cristo por todos os séculos vindouros.

Sobre a necessidade de determinadas funções na Igreja, o apóstolo Paulo escreve: "Temos dons diferentes, conforme a graça que nos foi conferida... Aquele que é chamado ao ministério dedique-se ao ministério; se tem o dom de ensinar, que ensine; o dom de exortar, que exorte ... aquele que preside, presida com zelo" (Rom 12:4-8). Exortando as pessoas encarregadas de desempenhar com afinco as suas funções, o apóstolo proibia severamente as pessoas, assíduas acima da medida, apropriar-se por si de algumas funções na Igreja, já que "ninguém se apropria desta honra, senão aquele que é chamado por Deus, como Aarão" — ensina o apóstolo (Heb 5:4).

Dessa forma, não importam as qualidades morais elevadas ou úteis que a pessoa detenha, ela não pode, sem ser especialmente escolhida e ordenada pelas pessoas encarregadas da Igreja, dirigir os outros e nem exercer sacerdócio. O Apóstolo Paulo escreve sobre si mesmo que "não da parte de homens, nem por meio de algum homem, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai [ele tornou-se] Apóstolo" (Gal 1:1). "Que os homens nos considerem pois, como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis" (1 Cor 4:1-2).

A sucessão apostólica e a impossibilidade de apagar a marca do sacerdócio.
Comparando diversos textos das Escrituras Sagradas que falam sobre a seleção e a ordenação nas funções eclesiásticas, vê-se que nesse processo dois momentos entrelaçam-se intimamente: de um lado — a escolha de Deus, e outro — a concretização da escolha e uma ordenação especial do candidato por servidores autorizados da Igreja.

Assim, após a Ascensão do Salvador ao céu, os Seus apóstolos preencheram o lugar deixado vago por Judas, elegendo um novo discípulo para completar os doze. Tendo rezado a Deus, pedindo para indicar-lhes um candidato digno, eles deitaram sorte. E a sorte caiu sobre Matias (não Mateus, o Evangelista mas outro), que a partir desse momento foi declarado colaborador pelos apóstolos com plenos poderes (Atos cap. 1).

Como é visto do Evangelho e dos antigos documentos cristãos, a ordenação para servir na Igreja — seja bispo, presbítero ou diácono — sempre foi realizada por imposição das mãos (em russo — "rukoplojenie"), isto é pela formal colocação das mãos dos que ordenam sobre a cabeça do ordenado. Assim, lemos no livro de Atos dos Apóstolos sobre a ordenação de sete diáconos: "Apresentaram-nos aos apóstolos e estes, orando, impuseram-lhes as mãos" (At 6:6). A respeito da ordenação dos presbíteros em Listra, Iconio e Antioquia, o Santo Lucas escreve: Paulo e Barnabé "em cada igreja ordenaram presbíteros e após orações com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor, em Quem eles tinham fé" (At 14:23). O apóstolo Paulo lembra ao seu discípulo Tito, instituído como bispo da Ilha de Creta: "Eu te deixei em Creta para acabardes de organizar tudo e estabelecer presbíteros em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei" (Tito 1:5), mas "a ninguém imponhas as mãos inconsideradamente para que não venhas tornar-te cúmplice dos pecados alheios" (1 Tim 5:22) — evidentemente porque o que ordena tem a responsabilidade pelo que é ordenado.

É importante notar que a imposição das mãos dos apóstolos era tido não apenas como um sinal visível de designação para uma outra função na Igreja, mas era considerado como condutor da força divina real e perceptível, apesar de invisível. Apenas nesse plano tornam-se compreensíveis as palavras do apóstolo Paulo dirigidas ao Timóteo que ele ordenou bispo da cidade de Efeso: "Não negligencies o dom de Deus que está em ti e que te foi dado por profecia quando a assembléia dos presbíteros te impôs as mãos" (1 Tim 4:14) e um pouco mais tarde: "eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos" (2 Tim 1:6).

Além disso, ordenando pessoas escolhidas por eles para um determinado cargo na igreja, os apóstolos tinham a consciência que a causa primeira da eleição e da ordenação vem a ser não eles, mas o Senhor. "Que os homens nos considerem pois como servos de Cristo e administradores dos mistérios da fé" (1 Cor 4:1). Dirigindo-se aos pastores de Efeso, o apóstolo Paulo diz: "Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos para pastorear a Igreja do Senhor e Deus, que Ele adquiriu com o Seu próprio sangue" (At 20:28).

Já a partir do primeiro século do cristianismo se firmou a tradição, com certeza estabelecida pelos apóstolos, que somente bispos podem efetuar a ordenação. Além disso, para ordenação de um bispo são necessários dois ou mais bispos, sendo que, para a ordenação em funções inferiores basta um bispo. Eis trechos das orações que são lidas durante a ordenação sacerdotal: "A graça de Deus, que sempre cura os enfermos e preenche os que estão empobrecidos, eleva o reverendíssimo diácono ... a presbítero. Rezemos por ele, para que a graça do Espírito Santíssimo desça sobre ele." O coro, respondendo, canta lentamente: "Senhor, tenha piedade." Mais adiante, o bispo reza: "Deus, grande em força, insuperável na razão, admirável no conselho mais que os filhos dos homens, Senhor, preencha com o dom de Espírito Santo esse Teu servo a quem benevolentemente elevaste ao degrau de presbítero, para que ele seja digno perante o Teu altar, proclame o Teu Evangelho, leve a palavra da Tua verdade, faça os sacrifícios espirituais, renove as Tuas pessoas com a pia batismal do novo nascimento. Para que ele, tendo sido digno de encontrar Jesus Cristo, Deus e nosso Salvador, Teu Filho Unigênito na Sua segunda vinda, receba a recompensa de bom administrador de acordo com a missão que lhe foi confiada, pela Tua graça ... "

Desde os tempos mais antigos, a Igreja Ortodoxa zelava com muita severidade pela continuidade da sucessão apostólica, isto é, que cada novo bispo recebesse a sua ordenação dos bispos legítimos, cuja ordenação levasse ininterruptamente até os apóstolos. Sabemos da "História da Igreja" do bispo Eusedio do Cesarea (início do século IV), que todas as igrejas cristãs antigas locais conservam a lista de seus bispos, na sua seqüência ininterrupta. Isso dava a possibilidade de rejeitar os impostores.

"Nós podemos, — escreve o Santo Irineu do Lyon (meados do século III), — enumerar aqueles, que foram colocados como bispos nas igrejas, desde apóstolos até nós" e realmente cita na seqüência de sucessão os bispos da Igreja Romana até quase o final do século II. Também Tertulian (século III), manifestou-se a favor da importância da sucessão. Ele escreve sobre os hereges do seu tempo: "Que eles mostrem a origem de suas igrejas e anunciem a seqüência de seus bispos, tal que o primeiro de seus bispos tivesse antes dele algum dos apóstolos, ou homens apostólicos, que tenham tido muito contato com os apóstolos. Pois, as igrejas apostólicas mantém as suas listas de bispos exatamente assim: a smirna, por exemplo, apresenta Policarpo (início do século II), que foi colocado por João; a romana — Clemente, que foi ordenado por Pedro; assim também outras igrejas apresentam os homens que foram elevados a bispos a partir dos próprios apóstolos, tinham brotos da semente apostólica."

Se a corrente da sucessão apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados pela pessoas ilegalmente ordenadas — desprovidos da graça divina. Essa condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o bensino dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja desde o seu início.

Ao mesmo tempo, o sacramento da ordenação feito corretamente é indelével. Por isso é proibido ordenar duas vezes a mesma pessoa para o mesmo cargo.

O Sacramento de Ordenação, assim como os sacramentos de Batismo e da Cura, muda essencialmente o homem, dotando-o de direito e de força espiritual para ensinar os crentes, rezar missas. No entanto, esse poder e força somente atuam enquanto o servidor da Igreja encontra-se na Igreja e em total obediência a ela. Os sacramentos oficiados pelos sacerdotes proibidos — não são válidos.

Degraus de sacerdócio e as particularidades do episcopado.
Já que Cristo é o Primeiro Sacerdote (Heb 7:26-27), deve-se concluir que Ele deve ter sacerdotes. [Textos sobre esse assunto: Mt 18:17; Mt 28:19-20; Jo 20:21-23; At 8:14-17; At 14:23; At 20:28; Tg 5:14; 1 Pe 5:1-5; Rom 10:15; 1 Cor 3:9-12; 1 Cor 4:1-2; 1 Cor 4:15; 1 Cor 12:12-31; Gal 1:1; Ef 4:11-16; 1 Tes 5:12-13; 1 Tim 4:14; 1 Tim 5:17-18; 1 Tim 5:22, 2 Tim 1:6-7; 2 Tim 4:13; Tit 1:5-10; Heb 5:4; Heb 10:25; Heb 13:7 e 17.]

O Evangelho distingue 3 degraus de sacerdócio: bispo, sacerdote (presbítero) e diácono. Sendo sucessores dos santos apóstolos, eles, dentro dos limites de suas funções, continuam a obra dos apóstolos.

Sobre os presbíteros, lemos no livro Atos dos apóstolos. Apóstolo Paulo diz: "Tendo ordenado os presbíteros de cada igreja (para os cristãos de Listra, Iconio e Antioquia), orou em jejum e encomendou-os ao Senhor ao Qual eles tinham dado a sua fé" (At 14:23). O apóstolo Tiago encarregou os presbíteros de realizar o sacramento de unção dos enfermos: "Está alguém enfermo? Chame os presbíteros da Igreja e estes façam orações sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor" (Tg 5:14).

O apóstolo Paulo exortava os crentes a honrar os presbíteros, segundo o seu desempenho: "Os presbíteros que desempenham bem o encargo de presidir sejam muito honrados, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino. Pois, diz a Escritura: não atarás a boca do boi quando ele pisar o grão; e ainda: aquele que trabalha é digno da sua recompensa" (1 Tim 5:17-18). E em outro lugar, sobre isso: "Suplico-vos, irmãos que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor em vista do cargo que exercem. Conservai a paz entre vós," — ensina o apóstolo Paulo (1 Tes 5:12-13).

A função de presbíteros (mais tarde chamados de sacerdotes) era reconhecida abaixo da do bispo: os presbíteros (sacerdotes) batizavam, celebravam a Eucaristia, perdoavam os pecados aos que se arrependiam, mas não podiam ordenar outros.

A respeito do surgimento de diáconos (o nível inferior na hierarquia da Igreja), relata o livro de Atos. A razão para o estabelecimento da função de diácono foi a dificuldade que os apóstolos tinham em conciliar o servir à palavra de Deus com os cuidados com os pobres e as refeições que lhes eram servidas. "Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios de Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos desse ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra" (At 6:2-4). Com o passar do tempo, a função principal dos diáconos tornou-se ajudar os bispos e presbíteros durante a realização dos mistérios e pregação da palavra de Deus. Na epístola aos Filipenses, o apóstolo Paulo, juntamente com os bispos, saúda os diáconos (Fil 1:1). Ele também discorre sobre como devem ser os diáconos e suas famílias. (1 Tim 3:8-12).

O servir do bispo — é o superior. Os bispos da Igreja são sucessores diretos dos apóstolos e continuadores da sua obra. O apóstolo Paulo se dirige a eles com as seguintes palavras: "Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santos vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus que Ele adquiriu com o Seu próprio sangue" (At 20:28). Vê-se dessas palavras que a responsabilidade pela Igreja repousa sobre os bispos — pela pureza do seu ensino, pela perfeição moral dos seus membros e pela boa organização da vida na igreja.

Como exemplo de bispo do século I pode-se citar Timóteo, a quem são endereçadas duas epístolas do Evangelho. Ele era bispo em Efeso. São Tito era bispo na Ilha de Creta e também recebeu uma epístola.

O bispo, em primeiro lugar, é o principal mestre da sua igreja para os crentes comuns e também para os pastores. Isto é mostrado por:a) a epístola para Timóteo do apóstolo Paulo, onde o apóstolo com especial vigor, recomenda: "Olha por ti e pela instrução dos outros.." "Prega a palavra, insiste oportuna e importuntamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir" (1 Tim 4:16; 2 Tim 4:2-5). O apóstolo encarrega o Timóteo do trabalho de preparo de futuros bispos (2 Tim 2:2), que ele observasse os presbíteros em seu trabalho de ensino e os que pregam com fervor sejam muito honrados (1 Tim 5:17). A regra nr.58 dos apóstolos diz: "Bispo, que não é dedicado ao clero e às pessoas, que não as ensina a vida na devoção a Deus, que seja excomungado; caso permaneça nesta falta de dedicação e na pregiça — que seja expulso. "As orientações dos apóstolos, onde é dito ao bispo para observar que na Igreja se conserve a pureza da verdade e as regras dos Concílios que sucederam regem que os primazes das igrejas devem todos os dias e principalmente aos domingos ensinar o clero e o povo com palavras de devoção." Eis porque os antigos apologistas do cristianismo afirmavam contra os hereges que a tradição verdadeira e o ensinamento de Cristo se conservou na Igreja a partir dos apóstolos e exatamente através da ininterrupta sucessão dos bispos.

Em segundo lugar, o bispo, pela força do Espírito é quem primeiro atua nos ritos sagrados e quem oficia os sacramentos na sua diocese. Alguns ritos sagrados são exclusivos dele, hoje e na Antigüidade. Assim, somente o bispo tem o direito de ordenar sacerdote e outras funções baseado na Palavra de Deus (Tit 15; 1 Tim 5:22), nas regras dos santos apóstolos e dos santos Concílios, e segundo o ensinamento unânime dos santos mestres da Igreja, que chamavam a essa regra o privilégio mais importante do bispo sobre o presbítero e diziam: "O cargo de bispo foi criado principalmente para o nascimento de pais: pois a ele compete aumentar o número de pais espirituais na Igreja. O outro cargo (presbítero), faz nascer para a Igreja filhos pelo batismo, mas não pais nem mestres. Como é possível que presbítero ordene presbítero quando não tem nenhum direito de imposição das mãos? Ou de que maneira um presbítero pode ser chamado de igual a um bispo? Apenas o bispo tem o direito de benzer o óleo da crisma (miro), e o altar ou "antimenso," o que se vê das regras dos Concílios e dos ensinamentos da Igreja Ortodoxa."

O bispo, afinal, é o dirigente principal da sua igreja (At 20:28; 1 Tim 5:19). Ele deve zelar pelo cumprimento dos mandamentos de Deus e das leis da igreja, dirigir a vida das igrejas que se encontram na sua diocese, nomear os presbíteros para as igrejas.

As qualidades espirituais dos servidores eclesiásticos
Em suas epístolas "aos pastores" o apóstolo Paulo diversas vezes se depara com o tema sobre quais qualidades devem distinguir os servidores eclesiásticos. Por exemplo: "O bispo deve ser irrepreensível... firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder ser forte e exortar segundo sã doutrina e rebater os que a contradizem" (Tit 1:9). Apóstolo Pedro instrui da seguinte forma os bispos e os sacerdotes:

"Eis a exortação que dirijo aos pastores que estão entre vós; porque sou pastor como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e serei participante com eles daquela glória que se há de manifestar: velai sobre o rebanho de Deus que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação; não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos de vossos rebanhos; e quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível da glória" (1 Pe 5:1-5).

Apóstolo Paulo instrui Tito que o presbítero [ou bispo] nomeado por ele deve ser: "irrepreensível, casado uma só vez, tenha filhos fiéis e não acusados de má conduta ou insubordinação. Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante, nem insolente, nem cobiçoso. Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à doutrina tal como foi ensinada, para poder ser forte e exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem" (Tit 1:5-10).

Esperando qualidades morais elevadas do clero os fiéis devem levar em consideração que a graça de Deus recebida pelo sacerdote durante a ordenação, apesar de auxilia-lo na vida espiritual, não o torna perfeito. O sacerdote ou outro representante do clero é também um homem, com fraquezas humanas comuns a todos e também sujeito às mesmas tentações que os outros homens. Por isso, a Igreja sempre ensinou que o efeito dos sacramentos e da benção sacerdotal dependem não da estatura espiritual do sacerdote, mas da fé e da devoção de quem a recebe.

O Senhor e Seus apóstolos não recomendavam aos fiéis tornarem-se juízes de seus pastores porque eles são responsáveis perante Deus. "A quem muito foi dado, muito será cobrado." Por isso o Santo João Taumaturgo (século IV), dizia: "Eu não penso que muitos pastores vão se salvar."

Quando tão poucos estão dispostos a sacrificar-se pelo bem espiritual do próximo, deve-se pelo menos valorizar os que aceitam o encargo de servir a Deus e ao próximo.

"Lembrai-vos de vossos guias, — instruiu o Apóstolo Paulo — que vos pregam a palavra de Deus. Considerai como souberam encerrar a sua vida. E imitai-lhes a fé... sede submissos e obedecei aos que vos guiam pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta" (Heb 13:7,17). "Suplico-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos ao Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a paz entre vós" (1 Tes 5:12-13). "Os presbíteros que desempenham bem o encargo de presidir sejam muito honrados, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino" (1 Tim 5:17-18).

Assim, vamos valorizar o fato que a nossa Igreja conservou não somente o ensinamento de Cristo na sua pureza inicial, mas também o sacerdócio e os mistérios que foram passados à Igreja pelos santos apóstolos. A maioria das "igrejas" modernas já perdeu tudo isso faz muito tempo. Rezemos por aqueles que oficiam as missas na Igreja e nos ajudam a renovar-nos e fortalecer-nos espiritualmente.
Bispo Alexander Mileant
Tradução: Elga Drizul