“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

São Igúmeno e Míst., Savas, o Consagrado, da Palestina, Doutor da Vida Monástica (+ 532) - 05/18 dez

A desconhecida aldeia de Mutalasca, na província de Capadócia, tornou-se famosa por meio desse grande luminar da Igreja Ortodoxa. Sabas nasceu ali, de seus pais João e Sofia. Aos oito anos deixou a casa de seus pais e foi tonsurado monge numa comunidade monástica próxima, dedicada a Flaviano. Dez anos depois, transferiu-se para os mosteiros da Palestina e permaneceu por mais tempo no Mosteiro de Santo Eutímio, o Grande (20 de janeiro), e Teoctisto. O clarividente Eutímio profetizou que Sabas viria a ser um monge famoso e mestre de monges e que haveria de fundar uma laura [Nota do tradutor: laura é uma comunidade monástica de grande porte] maior do que todas as lauras daquela época. Após a morte de Eutímio, Sabas retirou-se para o deserto, onde viveu por cinco anos como eremita numa caverna que lhe foi indicada por um anjo de Deus. Posteriormente, ao tornar-se perfeito na vida monástica, ele começou a reunir ao seu redor, pela Providência divina, muitos que desejavam a vida espiritual. Em pouco tempo um número tão grande havia se reunido que Sabas teve que construir uma igreja e muitas celas. Alguns armênios também vieram a ele, e a estes ele providenciou uma caverna na qual poderiam celebrar os ofícios na língua armênia. Quando seu pai morreu, sua idosa mãe Sofia veio até ele e ele a tonsurou monja. Ele deu a ela uma cela localizada à distância de seu mosteiro, onde ela viveu uma vida de ascetismo até a morte. Esse Santo Padre suportou muitas investidas de todos os lados: dos que lhe eram próximos, dos hereges e dos demônios. Mas ele a todos sobrepujou: a seus próximos, através da amabilidade e da indulgência; aos hereges, por meio da inabalável confissão da Fé Ortodoxa; e aos demônios, pelo sinal da Cruz e pelo apelo à ajuda divina. Travou um combate particularmente grande contra os demônios no Monte Castélio, onde fundou seu segundo mosteiro. Sabas fundou sete mosteiros ao todo. Ele e Teodósio, o Grande, seu vizinho, são considerados as maiores luzes e pilares da Ortodoxia no Oriente. Admoestaram imperadores e patriarcas em matérias de Fé e a todos serviram de exemplo de humildade santa e do poder miraculoso de Deus. Após uma vida trabalhosa e muito frutífera, São Sabas repousou no ano de 532, aos noventa e quatro anos. Entre suas muitas obras boas e admiráveis, mencione-se ao menos que foi ele o primeiro a compilar a Ordem dos Ofícios para uso em mosteiros, agora conhecida como Típico de Jerusalém.

Hino de Louvor
O Venerável Sabas, príncipe dos monges,
Comandante espiritual dos heróis do Cristo,
Foi glorificado pelo jejum, pelas vigílias e mansidão,
Pela oração, pela fé e bendita misericórdia.
Ensinaste aos monges a não se preocuparem com o pão;
Confiaste-te aos Céus, com trabalho e oração.
Não buscastes a precedência, nem qualquer posição que fosse.
Rarissimamente provaste do azeite e do vinho.
Guardaste todos os ofícios, no tempo estabelecido.
"Que o ofício seja uma alegria e não um fardo pesado,"
Dizia São Sabas aos monges,
E o demonstrou a todos pelo seu exemplo.
Como um sábio jardineiro, cercou a sua horta,
E plantou com cuidado muitos jovens.
Os jovens cresceram e produziram fruto:
Um regimento de monges, para a glória de Sabas.
Quinze séculos se passaram,
E o jardim espiritual de Sabas ainda floresce:
Mil monges, cem mil,
Cresceram na comunidade de Sabas até hoje.
São Sabas, glorioso recluso,Ó servo de Deus, ora também por nós.

Reflexão
Um homem pode ser grande em alguma habilidade, como um estadista ou um líder militar, mas ninguém dentre os homens é maior do que o homem grande na fé, na esperança e no amor. Quão grande era São Sabas, o Santificado, na fé e na esperança em Deus é algo que se pode avaliar melhor pelo seguinte incidente: certo dia, o ecônomo do mosteiro veio a Sabas e informou-lhe que no sábado e no domingo seguintes ele não poderia tocar o semantro [Nota do tradutor: placa de madeira ou ferro suspensa, na qual se bate com um martelo, e usado no lugar dos sinos em certos mosteiros ortodoxos] , conforme a tradição, para convocar os irmãos para o ofício e a refeição comuns, porque não havia nem um vestígio sequer de farinha no mosteiro, e tampouco qualquer coisa que fosse para comer ou beber. Por essa mesma razão, nem a Divina Liturgia seria possível. O santo respondeu sem hesitação: "Não cancelarei a Divina Liturgia por falta de farinha; fiel é Aquele que nos ordenou que não nos preocupássemos com coisas corporais, e poderoso é Ele para nos alimentar em tempo de fome". E depositou toda a sua esperança em Deus. Nessa necessidade extrema, ele estava disposto a enviar alguns dos vasos ou paramentos eclesiásticos para serem vendidos na cidade, a fim de que nem os ofícios divinos e nem a refeição costumeira dos irmãos fossem suprimidas. Todavia, antes do sábado, alguns homens movidos pela Providência divina trouxeram trinta mulas carregadas de trigo, vinho e azeite ao mosteiro. "Que dizes agora, irmão?", perguntou Sabas ao ecônomo. "Não devemos tocar o semantro e reunir os padres?" O ecônomo se envergonhou de sua falta de fé e implorou o perdão ao abade. O biógrafo de Sabas descreve esse santo como "severo com os demônios, mas suave com os homens". Certa vez, alguns monges se rebelam contra São Sabas, e por isso foram expulsos do mosteiro por ordem do Patriarca Elias. Construíram eles mesmos umas cabanas às margens do rio Tecoa, onde suportaram a privação de tudo. Ao ouvir que passavam fome, São Sabas carregou mulas com farinha e as trouxe a eles pessoalmente. Vendo que não tinham igreja, construiu uma para eles. A princípio os monges o receberam com ódio, mas mais tarde responderam ao seu amor com amor e se arrependeram de suas anteriores más ações contra ele.