“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Santo Pontífice e Confessor, Nicolau, o Taumaturgo, Arcebispo de Mira – Lícia – Ásia Menor (+c.345) - 06/19 dez

Esse glorioso santo, celebrado até hoje no mundo inteiro, foi o único filho de seus eminentes e ricos pais Teófanes e Nona, cidadãos da cidade de Patara em Lícia. Uma vez que ele era o único filho que Deus lhes concedera, os pais devolveram o dom a Deus, dedicando a Ele o seu filho. São Nicolau aprendeu a vida espiritual com seu tio Nicolau, Bispo de Patara, e foi tonsurado monge no Mosteiro de Nova Sião, fundado por seu tio. Após a morte de seus pais, Nicolau distribuiu aos pobres toda a sua herança, não retendo nada para si. Como sacerdote em Patara, ficou conhecido por sua caridade, a despeito dele ocultar cuidadosamente suas obras caritativas, cumprindo as palavras do Senhor: Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita (Mt. 6:3). Quando se entregou à solidão e ao silêncio, pensando em viver dessa maneira até a morte, uma voz do alto lhe foi dirigida: "Nicolau, para o teu esforço ascético, vai trabalhar entre as gentes, caso desejes ser coroado por Mim". Logo depois disso, pela admirável Providência de Deus, ele foi escolhido arcebispo da cidade de Mira, na Lícia. Misericordioso, sábio e destemido, Nicolau foi um verdadeiro pastor para o seu rebanho. Durante a perseguição dos cristãos sob Diocleciano e Maximiano, foi lançado à prisão, mas mesmo ali ele instruiu o povo na Lei de Deus. Esteve presente no I Concílio Ecumênico de Nicéia (325) e, movido por grande zelo pela verdade, bateu com sua mão no herege Ário. Por esse ato ele foi afastado do Concílio e de suas funções arquiepiscopais, até que o próprio Cristo Senhor e a Santíssima Deípara apareceram a vários dos principais hierarcas e revelaram a sua aprovação a Nicolau. Defensor da verdade de Deus, esse maravilhoso santo foi sempre um valente defensor da justiça entre as pessoas. Em duas ocasiões, salvou três homens de uma injusta sentença de morte. Misericordioso, verdadeiro e amante da justiça, andou entre as gentes como um anjo de Deus. Mesmo ainda em vida, o povo o considerava um santo e invocava sua assistência nas dificuldades e tribulações. Ele aparecia tanto em sonhos quanto pessoalmente para aqueles que o invocavam, e facil e prontamente os ajudava, quer estivesse por perto, quer distante. Uma luz brilhava de seu rosto, tal como da face de Moisés, e ele, pela sua mera presença, trazia consolação, paz e boa vontade entre os homens. Na velhice ficou brevemente doente e, após uma vida cheia de esforços e trabalhos muito frutíferos, repousou no Senhor para o júbilo eterno no Reino dos Céus, continuando a glorificar a Deus e a ajudar os fiéis na terra com os seus milagres. Repousou em 6 de dezembro de 343.

Hino de Louvor
Santo Padre Nicolau,
Os quatro cantos do mundo te glorificam
Como um cavaleiro da poderosa Fé,
A Fé de Deus, a Verdadeira Fé.
Desde o berço foi devotado a Deus,
Desde o berço até o fim;
E Deus o glorificou –
Ao seu fiel Nicolau.
Famoso foi durante a vida,
E ainda mais renomado após a morte;
Poderoso na terra era ele
E ainda mais poderoso é nos Céus.
Espírito radiante, coração puro,
Um templo do Deus Vivo ele foi;
Por isso o povo o glorifica
Como um santo admirável.
Nicolau, rico em glória,
Ama os que o honram em sua "Krsna Slava" [Nota do tradutor: festa sérvia do onomástico da família];
Perante o trono do Deus eterno
Ele ora pelo seu bem.
Ó Nicolau, abençoa-nos,
Abençoa o teu povo,
Que perante Deus e perante ti
Apresenta-se humildemente em oração.

Reflexão
Nos ícones de São Nicolau, o Senhor Salvador geralmente é retratado de um lado com um Evangelho em Suas mãos, e a Santíssima Virgem Deípara é retratada do outro lado com um omofório [Nota do tradutor: faixa de seda bordada com cruzes, usada pelos bispos ortodoxos ao redor do pescoço e dos ombros, semelhante ao pálio usado por alguns bispos católicos] episcopal em suas mãos. Isso tem um duplo significado histórico: em primeiro lugar, significa a vocação de Nicolau ao ofício hierárquico; e, em segundo lugar, significa sua absolvição da condenação que se seguiu ao seu confronto com Ário. São Metódio, Patriarca de Constantinopla, escreve: "Certa noite, São Nicolau viu o nosso Salvador em glória, de pé ao seu lado e oferecendo-lhe o Evangelho, adornado de ouro e pérolas. Ao seu outro lado, viu a Deípara, que punha o pálio episcopal sobre seus ombros." Pouco depois dessa visão, João, o Arcebispo de Mira, morreu e São Nicolau foi designado arcebispo daquela cidade. Esse foi o primeiro incidente. O segundo incidente ocorreu ao tempo do I Concílio Ecumênico em Nicéia. Incapaz de impedir, pela razão, que Ário prosseguisse na blasfêmia irracional contra o Filho de Deus e Sua Santíssima Mãe, São Nicolau acertou Ário no rosto com a sua mão. Os Santos Padres do Concílio, protestando contra tal ação, expulsaram Nicolau do Concílio e o despojaram de todos os emblemas de seu posto episcopal. Naquela mesma noite, vários dos Santos Padres tiveram a mesma visão: o Senhor Salvador e a Santíssima Deípara estavam em pé ao lado de São Nicolau -- de um lado o Senhor Salvador com o Evangelho, e do outro lado a Santíssima Deípara com um pálio, entregando ao santo os emblemas episcopais que lhe haviam sido removidos. Vendo isso, os Padres ficaram perplexos e rapidamente restituíram a Nicolau aquilo que lhe havia sido removido. Passaram a respeitá-lo como um grande eleito de Deus e interpretaram suas ações contra Ário não como ato de fúria irracional, mas como expressão de grande zelo pela Verdade de Deus.