“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

História Resumida do Patriarcado da Sérvia

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas

O Cristianismo nos territórios da atual Sérvia começou a desenvolver-se já no primeiro século de nossa era. A Tradição fala que a Boa Nova trouxeram aqui os próprios apóstolos, durante suas viagens missionárias: Apóstolo André e o Apóstolo Paulo, que para os Bálcãs enviou seu discípulo Tito. No século IV nos Bálcãs já havia o arcebispado de Tessalônica e a Metropolia de Sirmijum. As posteriores invasões dos Awar quase totalmente destruíram a, então existente, estrutura da Igreja. No século VII a cristianização destas terras rivalizava entre si Roma e Constantinopla. Até o ano de 732 a Sérvia encontrava-se na jurisdição da Igreja do Ocidente. Em 732 o imperador Leão III, Isáurico realizou nova divisão do império, em conseqüência da qual a Sérvia passa para a jurisdição do Patriarcado de Constantinopla.

Posteriormente, o cristianismo fortaleceu-se com a atividade missionária dos irmãos Cirilo (826-869) e Metódio (820-885). Em 869 por recomendação do imperador Basílio dirige-se para a Sérvia um grupo de clérigos gregos. Em 879/880 sob o governo do príncipe Mutimir, ocorre o batismo oficial da nação sérvio. Foi aberto, então, o bispado com capital em Ras, subordinado ao patriarca de Constantinopla. Em conseqüência da conquista da Sérvia pelo rei búlgaro Simeão I, o Grande (893-927), a Igreja sérvia tornou-se parte da Igreja búlgara. No ano de 1018, depois da derrota da Bulgária pelo imperador bizantino Basílio II, o Matador de búlgaros o bispado foi anexado ao arcebispado independente de Ochrid do patriarcado de Constantinopla.

Significado decisivo na história da nação sérvia e da Igreja foi o governo do rei Estevão I Nemani (1159-1195). Ele facilitou a reconstrução tanto da independência do país quanto da Igreja. Ele apoiou o desenvolvimento da Igreja, fundou mosteiros, templos, hospitais e asilos. O rei Estevão em 1196 recebeu os votos monásticos com o nome de Simeão e estabeleceu-se no Monte Atos. O poder transmitiu a seu filho Estevão, o Jovem. Junto com ele no Monte Atos esteve seu segundo filho – São Sawa. Juntos construíram o mosteiro sérvio de Chilandar no Monte Atos. Depois de 20 anos de trabalhos no mosteiro, São Sawa voltou ao país para enterrar o pai, morto no ano de 1200.

Em 1219, São Sawa foi elevado à dignidade de bispo e tornou-se, de fato, o criador da Igreja Sérvia independente. Ele dirigiu a Igreja por 14 anos. Este é o período mais esplendoroso do desenvolvimento da cultura religiosa sérvia. Em 1221 no dia da Ascensão do Senhor, São Sawa coroou seu irmão Estevão, o Jovem como primeiro rei da Sérvia.

Em 1346, no concílio em Skopije com a presença de arcebispos búlgaros e de Ochrid assim como de monges do Monte Atos, foi criado o patriarcado sérvio com capital em Pecz. O primeiro patriarca eleito foi Joanicio II (1346-1354). A criação do patriarcado ocorreu sem negociações com Constantinopla e por isso Calisto, o patriarca de Constantinopla, não apenas não reconheceu a criação do patriarcado sérvio como também o excomungou em 1352. Somente depois de conversas e negociações, em 1353, as decisões do concílio em Skopije foram aceitas como canônicas.

O patriarcado sérvio usufruiu um período muito curto de independência. Depois da sofrerem derrota pelos turcos no Kosovo em 1389 a Sérvia praticamente deixou de existir em 1459 e tornou-se parte do país turco. A Igreja encontrou-se em situação muito difícil e ficou privada de seus direitos e da proteção do estado. A maioria das igrejas foram transformadas em mesquitas. Foram fechados mosteiros e as atividades educacionais e editoriais vinculadas a eles suspensas. A Igreja Sérvia tornou-se uma jurisdição subordinada ao patriarca de Constantinopla. Os cristãos ortodoxos eram compelidos a converterem-se ao islamismo à força ou com pressões administrativas.

Os sérvios não se renderam e lutaram pelo direito à independência política e liberdade de confissão da fé de seus antepassados. No tempo do patriarca Macário Sokolowicz (1557-1571) a Igreja Sérvia gradualmente revivifica-se e consegue independência. Foram feitas, também, tentativas no sentido de reinstalar o patriarcado. Os turcos entenderam que a fé é a força espiritual da nação e assim querendo lutar contra ela em 1594 queimaram nas proximidades de Belgrado as relíquias do primeiro arcebispo sérvio São Sawa. Entretanto, isto não refreou as aspirações de libertação nacional. Revoltas e insurreições explodiam a cada dezena de anos até metade do século XIX.

As autoridades turcas, todo o tempo, aspiravam destruir a independência religiosa sérvia. A liquidação final da autocefalia aconteceu a mando do sultão Mustafá III no dia 11 de setembro de 1766, no tempo do patriarca Samuel I de Constantinopla. O patriarcado de Pecz foi degradado ao nível das menores metropolias subordinadas ao patriarca de Constantinopla. Iniciou-se um tempo de dinâmica helenização da hierarquia, e posteriormente de toda a Igreja e nação sérvia. Os bispos sérvios ficaram privados de suas cátedras, e em seus lugares foram enviados gregos. A língua litúrgica passou a ser o grego. Foram proibidas as homilias em sérvio. As perseguições por parte dos turcos e fanariat 1 obrigou muitos sérvios emigrar.

Depois da guerra turco-russa (na qual os turcos foram derrotados) à força das decisões do Congresso de Berlim de 1878, a Sérvia obteve a independência política. O novo governo e as autoridades da Igreja enviaram moção ao patriarca Joaquim III solicitando a concessão da autocefalia. Em 1879 o patriarca concede a autocefalia à Igreja Sérvia, entretanto não para todos os territórios do antigo patriarcado. No ano de 1882 depois da formação do Reino Sérvio seguiu-se a reforma da lei interna. A finalização da formação administrativa da estrutura da Igreja Sérvia aconteceu em 1890. As novas regras não garantiam, entretanto, na medida do possível uma vida normal de Igreja, porque o país estava esfacelado politicamente. Diversas de suas partes encontravam-se sob o patronato de vários países (Turquia, Áustria, Hungria), e em conseqüência os bispados também, o que desfavoravelmente afetava a percepção da nova lei e condução da política de unidade da Igreja. Foram criadas metropolias distintas, por exemplo, Montenegro, e as Igrejas Autônomas na Bósnia, Herzegovínia e na Macedônia.

Na composição do patriarcado sérvio, então, entravam 21 dioceses. As dioceses foram divididas em três metropolias. Além delas a Igreja exercia proteção canônica sobre mais algumas poucas dioceses no Canadá, América do Norte e nos territórios da atual República Tcheca.

Em 1918, ocorre a unificação da Sérvia, Herzegovínia, Montenegro e Bósnia. Em 1919, uniram-se a esses países a Croácia e a Eslovênia. Assim surgiu o reino dos sérvios, croatas e eslovenos. O novo país recebeu o nome de Iugoslávia.

No dia 30 de agosto de 1920, no concílio em Sremsk Karlowca foi anunciada a restauração do patriarcado. O metropolita de Belgardo tornou-se o chefe da Igreja. Apesar do silêncio inicial o patriarca de Constantinopla ratificou este ato com decreto em 1921.

No ano de 1941os fascistas alemães atacaram e dominaram o território da Sérvia. Dominaram-na, aliados com as turbas croatas. O controle do país foi tomado por Ante Paveli. Este período foi para os sérvios o mais duro de toda a sua história. Os sérvios eram perseguidos pela sua fé e nacionalidade, porque a única fé permitida no país era a católica romana. Neste período sucumbiram um milhão e setecentos mil ortodoxos. Particularmente e ativamente combateram a hierarquia ortodoxa. O extermínio estava relacionado com a re-cristianização que foi conduzida com o uso da força. Freqüentemente a aceitação do batismo latino era a única saída para evitar a morte. O terror durou até a libertação da Iugoslávia.

Depois da guerra, as autoridades da Iugoslávia encontraram-se diante de um sério dilema, no território da Iugoslávia estavam em contato grandes grupos religiosos: ortodoxos, católicos romanos e mulçumanos. De modo a conduzi-los a uma convivência pacífica, já em 1946 foi registrado na constituição um artigo inteiro sobre as bases da Igreja no país.

O final dos anos oitenta foi um período de renascimento da Igreja. Os ortodoxos constituíam o mais numeroso grupo religioso na Iugoslávia. O número de ortodoxos ultrapassava os 10 milhões. A Igreja contava, então, com 21 dioceses no país e 10 na Europa Ocidental, USA, Canadá e Austrália. Em 3000 paróquias encontravam-se 4200 templos (no território do país), em torno de 200 mosteiros, nos quais viviam cerca de 1000 monges e monjas. A Igreja possuía 4 seminários (com capacidade para cerca de 600 alunos) assim como um departamento de teologia na universidade de Belgrado. Esta estrutura quebrou-se em 1991, quando explode na Iugoslávia a guerra civil. Ao longo das atividades de guerra, como também em conseqüência do fanatismo descontrolado, muitos templos foram destruídos. Quando a Croácia torna-se um país independente, a Igreja Ortodoxa não abandonou seus fiéis que permaneceram naquele território. A Igreja apelou para um perdão mútuo das culpas e a reconstrução de casas e igrejas.

Em 1999 explode novo conflito, desta vez entre a Sérvia e o os albaneses. Isto levou a uma intervenção da OTAN no Kosovo. Em conseqüência de ataques aéreos destruidores mais igrejas, templos, monumentos de arte sacra foram danificados ou totalmente destruídos. Depois da guerra a Igreja, novamente, renasce, entretanto, constantemente acontecem ataques de membros do Exército de Libertação do Kosovo em mosteiros e igrejas ortodoxas. Segundo dados da Igreja Ortodoxa Sérvia, no período de junho a outubro de 1999 foram danificados e saqueados 76 igrejas e mosteiros, 64 foram incendiados, 39 minados e o alicerce de 5 minados.

O patriarca atual da Igreja Sérvia é sua Santidade Patriarca Paulo, que é o 44o. patriarca na história da Igreja Sérvia. Nasceu em 11 de setembro de 1914, em Slavonia. Foi elevado à dignidade de bispo em 22 de setembro de 1957. Foi eleito, em 1 de dezembro de 1990, chefe da Igreja Ortodoxa Sérvia e a entronização ocorreu no dia seguinte.

O chefe da Igreja Sérvia tem direito a usar o título de oficial de: Sua Santidade Patriarca Sérvio, Arcebispo de Belgrado-Karlowac. A residência do patriarca e sua catedral dedicada ao Arcanjo Gabriel situam-se em Belgrado. Sua Santidade, Patriarca Paulo realizou visita à Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia em 2001.

Sua Santidade PAULO I
Patriarca da Sérvia,
Arcebispo de Belgrado-Karlovci