“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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terça-feira, 5 de agosto de 2008

História Resumida do Patriarcado de Antioquia

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas
O primeiro anunciador da Boa Nova no território do futuro Patriarcado de Antioquia foi o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Evangelistas Mateus e Marcos relembram como o Salvador tendo cruzado as fronteiras de Tiro e Sidônia cura a filha da mulher de origem sírio-fenícia, possuída por demônios (Mt 15, 21; Mc 7, 24). Entre os sete primeiros diáconos é citado Nicolau de Antioquia. Este fato testemunha que desde os primeiros momentos de existência do cristianismo atuava ali uma comunidade em expansão, da qual um de seus membros foi um colaborador dos Santos Apóstolos. Também está relacionada com Antioquia a atividade do Apóstolo Paulo, originário da cidade de Tarso não muito distante de Antioquia. Ainda como fervoroso perseguidor de cristãos, Saulo (o futuro Paulo) desejou ir a Damasco, a fim de perseguir os confessores de Cristo do local. Durante a viagem ocorreu a sua milagrosa conversão. Em Damasco aceitou o batismo das mãos de Ananias, superior da comunidade local. Deve-se lembrar também do apóstolo Pedro que significativamente contribuiu para a cristianização da cidade e é considerado seu primeiro bispo.

Os Atos dos Apóstolos falam muito da cristianização do território do atual patriarcado. Depois da morte do Arcediago Estevão cristãos em massa fugiram das perseguições: “... espalharam-se até a Fenícia, Chipre e Antioquia pregando a Palavra só aos judeus” (Atos 11, 19). Particularmente nesta última localidade a quantidade de convertidos foi tão grande que, “... a notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé a Antioquia. Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos de Cristo, pela primeira vez foram chamados de cristãos” (Atos 11, 22-26)

Antioquia nos primeiros séculos do cristianismo foi uma das mais importantes cidades da região. Cruzavam-se aqui duas vias comerciais e chocavam-se correntes filosóficas de regiões de todo o império. O ensino cristão local dinamizava a cidade. Existia nesta cidade uma escola catequética nos mesmos moldes da existente em Alexandria, que desempenhava um importante papel na formação ortodoxa do ensino da Igreja.

Hierarcas da igreja local opuseram-se ao arianismo – heresia que questionava a divindade do Filho de Deus e proclamada por um padre de Alexandria chamado Ário. O concílio local em 324 expressou este repúdio. Ativamente participaram também nos trabalhos do I Concílio Ecumênico, no qual os bispos de Antioquia, Damasco, Irenópolis, Selêucia, Sodoma, Sidônia, Tiro e muitas outras cidades do Oriente Próximo assinaram a decisão condenando a heresia do arianismo. As heresias que apareceram no século V – nestorianismo e monofisismo – violando a unidade da Igreja trouxeram muita confusão na vida da sociedade antioquina.

O período dos Concílios Ecumênicos foi um tempo de formação das fronteiras do patriarcado. No começo do século III o bispo de Antioquia era já, não apenas Metropolita, mas exarca de toda a Síria. O sexto cânon do I Concílio Ecumênico fala: “Que também sejam conservadas as prerrogativas da Igreja em Antioquia e outras eparquias” O lugar definitivo do patriarcado de Antioquia no díptico das igrejas foi determinado no 4o. Concílio Ecumênico (451) e no Concílio de Trullo (692).

No ano de 638 a Síria toda foi ocupada pelos árabes. Por motivos políticos a Igreja Jacobita (monofisita) os apoiou e os árabes perseguiram a Igreja Ortodoxa (Melquita), dificultando com isso a atuação do patriarcado. Havia chegado o tempo da intensificação da islamização. O idioma dominante passa a ser o árabe. Foi proibida a construção de novas igrejas cristãs e a realização de discussões religiosas com os mulçumanos. Limitações foram impostas à vida dos mosteiros. Seguiu-se, então, gradual enfraquecimento da Igreja de Antioquia.

Em 969 Antioquia foi resgatada por Bizâncio. Foi declarada a liberdade religiosa, revitalizada a vida espiritual dos cristãos e cresceu significativamente a importância do patriarcado. Infelizmente, já em 1084 Antioquia foi novamente conquistada pelos árabes. Seu poderio foi de curta duração desta vez e não causou à Igreja grandes prejuízos.
Em 1098 foi conquistada pelos cruzados, o que contribuiu para uma significativa influência da Igreja Ocidental no território do patriarcado.Os cruzados fundaram aqui um bispado latino com o patriarca Bernardo a frente do mesmo. Nesta época os patriarcas antioquinos orientais permaneciam em Constantinopla. De lá, também, sagravam os bispos e os enviavam para Antioquia. A situação se complicou ainda mais depois da ocupação de Constantinopla pelos cruzados em 1204. Dois anos mais tarde o governante de Antioquia Bohemund IV permitiu ao Simeão II voltar a Antioquia. Isto provocou ácidos protestos do papa e do patriarca latino Pedro. Apesar destes protestos o patriarca Simeão II permaneceu na sua cátedra até o ano de 1214. Finalmente, o patriarca ortodoxo foi obrigado a fugir e refugiou-se no reino de Nicéia onde morreu em 1235.

No ano de 1268 o sultão do Egito Mameluk Beibars el Bondogary (1261-1277) ocupou toda a Síria junto com Antioquia. Este cativeiro não foi, entretanto, tão incômodo quanto a liberdade sob o cetro dos cruzados. Nesta época, devido à destruição de Antioquia a sede do patriarcado foi transferida para Damasco. A Igreja pode, até certo ponto, desenvolver-se tranqüilamente.

Em 1517 o território da Ásia Menor foi dominado pelos turcos otomanos. Foi concedido ao patriarca local o direito de vigilância sobre a população cristã da Síria com a objeção de que com a vida ele deveria responder pela lealdade deles face às autoridades. Em troca poderia ter relativa liberdade em questões religiosas e a possibilidade de determinar os próprios impostos. Entretanto, a manutenção da paz não era devida a simples tarefas. Os gregos queriam lutar por sua liberdade, e isto significava perseguições. Outro grande problema da Igreja de Antioquia era as tentativas de forçar os ortodoxos à união com Roma. Isto teve lugar no período de declínio do império bizantino e intensificou-se após a queda de Constantinopla. Muitos esforços de propagação da união aconteceram em 1583 quando os jesuítas chegaram à Síria. Em resultado da atuação deles surgiu a Igreja Católico-Árabe Uniata na Síria. A atividade dos uniatas não arregimentou muitos confessores da Ortodoxia. Além disso, em 1846 muitos uniatas retornaram para a Igreja Ortodoxa (entre outros o bispo Amidy junto com seus fiéis). No tempo do patriarca Hieroteu este processo se intensificou ainda mais. Para a Ortodoxia voltaram milhares de fiéis do Egito e Síria. Em 1860 foi editada a encíclica dos quatro patriarcas do oriente, na qual aceitavam o retorno deles para a Igreja. O patriarcado contava, então, com 4 metropolias e 15 dioceses, mantinha 14 mosteiros e um seminário clerical.

Depois da I Guerra Mundial em 1918, parte da Síria foi anexada ao território do reino do Iraque. Na parte restante, no dia 25 de julho de 1922 foi ratificada pela Liga das Nações o mandato francês, o que de todo não contribuiu para a melhora da situação da Igreja Ortodoxa.

Depois da II Guerra Mundial foram tomadas iniciativas para a aproximação com as Igrejas Ortodoxas Irmãs. Foram aprofundados também os contatos com outros cristãos pela participação no movimento ecumênico. No final dos anos 40 o movimento de jovens revitalizou-se significativamente.

O número de fiéis pertencentes ao patriarcado, hoje, ultrapassa 3 milhões (não apenas na Ásia). Em sua maioria são árabes. O patriarcado compõe-se de 19 metropolias, das quais: 6 encontram-se na Síria, 6 no Líbano, 3 na Turquia, 1 no Iraque, uma em Bagdá, uma no Kwait, uma na Austrália assim como 5 nas Américas do norte e do sul. Paróquias independentes do patriarcado encontram-se no território: do Brasil, Argentina, Arábia Saudita, Austrália e Nova Zelândia. A Igreja possui ainda a Academia de Teologia São João Damasceno (desde 1988 ela constitui um departamento da universidade em Balamand).

A partir de julho de 1979 o patriarca de Antioquia é Inácio IV, que é o 166o patriarca de Antioquia. Nasceu em 1920 na Síria. Foi elevado a dignidade de bispo em 1961. No dia 2 de julho de 1979 foi eleito patriarca de Antioquia e sua entronização ocorreu a 9 de julho do mesmo ano. O título oficial do patriarca é: “Sua Beatitude Patriarca da Grande Antioquia, Síria, Cilícia, Mesopotâmia e todo o Oriente”


A residência do patriarca e sua catedral dedicada à Dormição da Santíssima Virgem Maria encontram-se em Damasco.

Sua Beatitude INÁCIO IV
Patriarca de Antioquia e Todo o Oriente