“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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domingo, 3 de agosto de 2008

História Resumida do Patriarcado de Alexandria

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas

Os primórdios do cristianismo em Alexandria estão relacionados com a pessoa do Santo Evangelista Marcos. Que pregou no Egito e na província Sirenaica ( atualmente Líbia). Ele organizou a Igreja Cristã em Alexandria e tornou-se seu primeiro bispo. Ordenou os primeiros presbíteros, ente eles Milaios, Sabino e Kerdon, assim como 7 diáconos. Encontramos também testemunhos que afirmam que em Alexandria São Barnabé pregou ( aqui encontrou e batizou Clemente o futuro bispo de Roma) assim como São Lucas, Evangelista (fala sobre isso, entre outros, o cronista do século XIII Salomão de Bássora, afirmando que justamente aqui São Lucas morreu sob martírio). O desenvolvimento do cristianismo em Alexandria é quase rival do ocorrido em Jerusalém.

No final do século II em Alexandria surgiu importante centro de estudo teológico cristão, a Escola Alexandrina de catequese. Sua fama e influência rapidamente cruzaram as fronteiras do Egito. A escola desempenhou importante papel na formação dos dogmas cristãos e abrigou muitos defensores da Ortodoxia.

O período das perseguições levou à divisão do cristianismo egípcio. O critério da divisão apoiava-se na nacionalidade. A elite cristã concentrava-se em torno do bispado e da escola de catequese e constituía-se de cristãos de procedência grega. Os cristãos procedentes da nação egípcia, chamados coptas, concentravam-se na devoção prática. A atmosfera entre ambos os grupos tornou-se várias vezes desagradável e frequentemente não amistosa.

O lugar de Alexandria na hierarquia das Igrejas ortodoxas foi determinado nos Concílios Ecumênicos. O 1º Concílio Ecumênico teve para a Igreja de Alexandria importância significativa – com o 6º cânon foi ratificada sua habilitação jurisdicional. O bispado de Alexandria foi elevado ao 2º lugar na hierarquia entre as Igrejas, logo após Roma. O 2º Concílio Ecumênico concedeu o segundo lugar a Constantinopla. Os alexandrinos a princípio não quiseram concordar com isso. O 4º Concílio Ecumênico com o cânon 28 ratificou a atual ordem das cátedras patriarcais. Infelizmente, neste concílio muitos cristãos de Alexandria não aceitaram o dogma sobre as duas naturezas de Cristo e pronunciaram-se a favor da heresia do monofisismo. Disputas dogmáticas por muitos anos consumiam a comunidade egípcia. Dividiram-se no momento em que mais precisavam se unir em face ao iminente perigo vindo do oriente.

Um período muito difícil da história do patriarcado de Alexandria foi o do domínio árabe nos anos 642-1517. Todos os cristãos independentemente do grupo a que pertenciam, sejam os ortodoxos ou heréticos, foram englobados no chamado “Sistema de Omar”. Este sistema dizia que os cristãos constituíam uma camada inferior da nação e que eram elemento estrangeiro no Egito. Foram determinados para eles impostos fixos e pesados, e eram ainda obrigados a pagar diversos tipos de impostos adicionais. Foram confiscados deles vários templos e foram privados da liberdade civil. Foram fechadas escolas, bibliotecas e até mesmo hospitais. Bizâncio não pode acomodar-se com a perda do seu celeiro (o Egito). Foram organizadas várias expedições com o objetivo de libertação do Egito, que terminavam sem sucesso e com novas sansões para os cristãos. Os cruzados também não conseguiram libertar o norte da África.

Depois do domínio árabe seguiu-se a dominação turca. Em 1517 o exército turco do sultão Selim I, o Magnífico (1512-1520) subordinou a si todo o Egito. Para os cristãos isto implicava em muitas mudanças. O califa turco concedeu ao patriarca de Alexandria, Joaquim (1487-1567) acordo reconhecendo sua dignidade e privilégios, assim como assegurando aos cristãos liberdade de desenvolvimento sob a condição de que os cristãos se tornassem súditos fiéis. Graças a essas mudanças e atividade do próprio patriarca, a Igreja começou a desenvolver-se. Foram construídas novas igrejas e reformadas as antigas. As estruturas administrativas da Igreja sofreram reformas. Foram restabelecidas as atividades educacionais e editoriais. Não significava, entretanto, que a vida dos cristãos na África tornava-se totalmente segura. Já em 1517, quando as forças reunidas de Veneza, Espanha e Roma derrotaram a frota turca, nos quadros da repressão revanchista foram fechados a maior parte dos templos, aumentados os impostos, limitados os direitos da população, o próprio patriarca temporariamente teve que mudar-se para Jerusalém.

Em 1590 Melecius Pigas tornou-se patriarca (até 1600). O endividamento junto aos turcos (cada patriarca tinha que pagar pesado imposto pela permissão para o exercício da atividade patriarcal) forçava-o a voltar-se para a Geórgia, Creta e Rússia com pedido de ajuda. Com objetivo de estabelecer relações de amizade com a Rússia, participou no sínodo endymus em Constantinopla, que concedeu o status de patriarcado à Igreja Russa.

O maior problema interno que o patriarca Melecius Piga teve que eliminar foi a atividade da ordem dos jesuítas, que foram convidados a Alexandria pelos coptas (monofisitas). O patriarca copta Gabriel VIII, a princípio contra qualquer contato com Roma em 1594 aceitou o primado do papa Clemente VIII. Os jesuítas tinham que apoiar os esforços coptas visando à conversão dos ortodoxos. Entretanto, os jesuítas rapidamente começaram a introduzir uma política própria. O patriarca Melecius conseguiu, então, estabelecer um acordo com os coptas, na força do qual os coptas desistiriam da atividade missionária com relação aos ortodoxos (não conseguiu, entretanto, realizar a unificação dogmática com os coptas, para que o patriarca envidou todos os esforços).

Em 1798 o Egito foi dominado pelo exército francês de Napoleão Bonaparte. Porém, já em 1805 os turcos novamente dominavam o leste da África. Neste mesmo tempo ocorreu o cisma entre os cristãos ortodoxos. Depois da morte do patriarca Hieroteu I, os cristãos do Egito, contra a tradição do século XVII de aceitação de novo patriarca indicado por Constantinopla, independentemente elegeram como patriarca o arquimandrita Hieroteus, aceito pelas autoridades locais. Os colonos gregos opuseram-se a tal comportamento. A pedido deles o patriarca de Constantinopla nomeou para a posição Artemius. Só depois de vários anos encerrou-se o litígio. Constantinopla aceitou a escolha de Hieroteus (Artemius desistiu da pretensão ao trono). O novo patriarca mostrou-se um bom pastor. Colocou muito esforço na elevação da importância da Igreja de Alexandria. Criou novos bispados e conduziu a abertura de representações da Igreja de Alexandria em outros países, por exemplo, Rússia e Romênia.

No ano de 1886 ocorreu a reforma organizacional a administrativa da Igreja, de maneira significativa aumentou a participação do laicato na vida da Igreja, por exemplo, a escolha do patriarca começou a ser decidida por uma assembléia geral do país. A segunda metade do século XIX trouxe também para o patriarcado de Alexandria uma série de outras mudanças. Depois da insurreição árabe de 1882 – sob o mote “Egito para os egípcios” – a cidade foi ocupada pelo exército inglês. O governo egípcio convocou-o com a participação de grande parte da população de origem árabe. Isto visava facilitar a “arabização” do patriarcado. Até, então, os gregos tinham maior influência na escolha do patriarca e na tomada de decisões. Os árabes começaram a exigir que fosse aceita e considerada também a opinião deles. O governo também queria ter influência na escolha do patriarca. Finalmente, foi decidido que a Igreja iria escolher três candidatos e as autoridades designariam um entre eles como patriarca. O primeiro patriarca escolhido desta maneira foi Melecius Metaksatis (1926-1935). Ele criou uma série de instituições, que melhoraram o trabalho do patriarcado: proibiu a ordenação de candidatos a sacerdote que não possuíssem formação teológica, fundou o seminário de Santo Atanásio, regularizou os direitos e privilégios do patriarca e aumentou-os, em 1934 e submeteu-os à aprovação nacional com o documento: “Regulamento do Patriarcado Grego-Ortodoxo de Alexandria”, dinamizou a atividade missionária e educacional. Tentou fazer de Alexandria o centro africano da ortodoxia. No tempo do patriarca Nicolau V(1936-1939) finalmente foi decidido a questão da escolha do patriarca. Ficou decidido, então, que a realização da escolha seria feita por um grupo composto, em igual número, de representantes do clero, leigos de origem grega e leigos de origem árabe (tinha por objetivos tornar a eleição independente da indulgência do governo).

A mais importante obra do patriarca Cristóvão (1939-1967) foi a dinamização da atividade missionária do patriarcado. Foram abertas duas novas dioceses fora das fronteiras do Egito. Foram enviados missionários ao Zaire, Quênia, Camarões e Gana; igrejas ortodoxas foram construídas em Uganda. Alexandria tornava-se a coordenadora da cristianização da África. Seus sacerdotes enfrentaram muitas dificuldades (várias vezes pagavam com a vida por seu fervor religioso) ao levar a luz espiritual a diversas tribos africanas.

O patriarcado de Alexandria atualmente constitui-se de 15 dioceses e aproximadamente 300.000 fiéis. A jurisdição estende-se por toda a África e Malta. O Santo Sínodo composto por 12 metropolitas auxilia o patriarca.

Desde outubro de 2004 o patriarca de Alexandria é Theodoros II. É o 116º patriarca de Alexandria, eleito em 09 de outubro de 2004.

O título oficial do patriarca de Alexandria é: “Sua Beatitude Papa e Patriarca da Grande cidade de Alexandria, Líbia, Etiópia, Todo o Egito e toda a África, Pai dos Pais, Pastor dos Pastores, 13º apóstolo e Juiz do Mundo”.


S. Beatitude THEODOROS II,
Papa e Patriarca de Alexandria e toda África.