“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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domingo, 27 de julho de 2008

História Resumida do Patriarcado de Constantinopla

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas

O fundador da primeira comunidade cristã em Bizâncio (pequena cidade junto ao estreito de Bósforo, no local onde o Imperador São Constantino, o grande construiu no século IV a cidade-capital de Constantinopla) foi o apóstolo André. Como cita o texto “Milagres de Santo André” de autoria de São Gregório de Tours (538-594) ele sagrou como bispo seu discípulo Eustáquio e seguiu para o norte para os lados das terras da futura região de Kiev.

As regiões do posterior patriarcado foram cristianizadas, também, por outros apóstolos. Por lá seguiram os caminhos missionários da viagem apostólica de São Paulo e Barnabé. A Igreja de Éfeso por vários anos foi dirigida pelo apóstolo João , o teólogo. Para o desenvolvimento da Igreja contribuíram, também, fatores de natureza político-econômica. No século IV Constantinopla tornou-se a capital do império, graças a isso cresceu também significativamente o papel da Igreja local e seu bispo. A nova capital era chamada “Nova Roma” e no 2° Concílio Ecumênico (381) foi concedida ao bispo de Constantinopla a primazia de honra depois do bispo de Roma.

A Igreja de Constantinopla conquistou no mundo cristão daquele tempo ampla autoridade graças a notáveis personalidades que ocuparam sua cátedra.

Foram bispos de Constantinopla, entre outros: São Gregório de Nazianzo (379-381), São Nectário (381-397) e São João Crisóstomo (398-404).

No tempo do patriarca Nectários foram tomadas as primeiras iniciativas com o objetivo de concessão ao bispo de Constantinopla autoridade jurisdicional sobre um território maior, porque até este tempo sua jurisdição abrangia exclusivamente a região da cidade de Constantnopla,. Foi criado um sínodo fixo junto à cátedra patriarcal chamado sínodo endymes. Em sua composição entravam bispos presentes, no momento, na capital do império sem importar qual a sua jurisdição.

No 4º Concílio Ecumênico em Calcedônia (451) ratificaram finalmente o lugar da Igreja de Costantinopla entre as outras igrejas locais. Os padres do concílio com o cânon geral, deliberaram: “...reunidos no Concílio do tempo do piedoso imperador Teodósio decidimos quanto aos privilégios da Santa Igreja de Constantinopla, Nova Roma e deliberamos o mesmo. Visto que os Padres concederam privilégios à cátedra da antiga Roma, porque era a cidade do imperador. Por estes mesmos motivos 150 bispos concederam privilégios iguais à cátedra da Nova Roma, justamente tendo ponderado, que a cidade, que elevou-se em dignidade ser cidade do imperador e do Conselho Superior, assim como possui os mesmos privilégios que o antigo império romano, ficará também elevada em questões eclesiásticas de igual modo a Roma, e será a primeira imediatamente após ela...”. Este cânon provocou forte oposição da parte dos bispos de Roma, que não queriam aceita-la vendo nele ameaça à Igreja de romana. O imperador Justiniano querendo regularizar a situação entre os patriarcados (Roma e Constantinopla) e definir sua hierarquia emitiu um édito especial: “Em concordância com as decisões (dos concílios) decidimos que Sua Santidade o Papa da antiga Roma é o primeiro entre todos os bispos, enquanto o Santo Arcebispo de Constantinopla, Nova Roma, ocupa a segunda capital em hierarquia, depois da santa capital apostólica em Roma, mas que tenha primazia ante todas as outras capitais”. Finalmente afirmaram, então, que alegrando-se com a mesma honra que Roma nos dípticos eclesiásticos, Constantinopla passa a ocupar o lugar após ela.

No século VII na composição do patriarcado de Constantinopla entravam 418 bispados, 33 metropolitas e 34 arcebispos. Importantes papéis na vida da Igreja desempenharam, também, os monges. Em 536 somente em Constantinopla havia 68 mosteiros, enquanto em Calcedônia (parte da cidade do lado asiático do Bósforo) havia em torno de 40. De igual modo aconteceu em todo o território do patriarcado.

Constantinopla desenvolveu-se como centro cristão de ciência, cultura e arte, aqui ocorreram os debates do 2º, 5º e 6º Concílios Ecumênicos.

Infelizmente, também, em Constantinopla tiveram lugar os mais tristes acontecimentos da história da Igreja. No dia 16 de julho de 1054 representantes do papa Leão IX – o cardeal Humberto, o arcebispo Pedro de Analfia e Frederico de Lotaríngia excomungaram o patriarca Miguel Celulário e a Igreja do oriente. O sínodo patriarcal respondeu com igual decisão. Este cisma do ano de 1054 não foi ainda a separação definitiva da Igreja oriental e ocidental. A separação definitiva ocorreu depois da 4ª cruzada, que ao invés de libertar a Terra Santa, em 1204 invadiu e saqueou Constantinopla. Seus templos foram profanados. Milhares de moradores sucumbiram, outros tiveram que fugir da cidade. De parte do império bizantino criaram o “Império Latino do Oriente”, com patriarca latino subordinado ao papa.

O patriarca ortodoxo e autoridades civis do império transferiram-se para Nicéia. O imperador Miguel VIII Paleólogo em 25 de julho de 1261 derrotou os cruzados e recuperou Constantinopla. No renovado patriarcado foram criadas 35 metropolias, 7 arcebispados e dezenas de bispados. Havia chegado o tempo chamado de “Renascença dos Paleólogos”, que caracterizou-se não apenas por excepcional desenvolvimento da vida monástica (hesicasmo) mas também por sua influência na cultura, arte e mesmo na política. Os mais eminentes nomes deste período foram São Gregório Palamas, São Gregório, o Sinaíta, e São Nicolau Cabasilas. Não foram, entretanto, anos felizes para o império. DE todos os lados os inimigos ameaçavam-no. Os imperadores tentando salvá-lo voltavam-se com pedido de ajuda até mesmo para a cavalaria do ocidente. Em suas tentativas até mesmo concordaram com o conteúdo das decisões dos Concílios Uniatas (visavam a reunificação da Igreja) de Lion (1274) e de Florença (1431). Além da confusão religiosa e intranqüilidade interna não trouxeram nenhum efeito.

No dia 29 de maio de 1453 os turcos ocuparam Constantinopla e Bizâncio deixa de existir. A Igreja, entretanto, não foi destruída, pois as autoridades turcas permitiram às minorias religiosas conservar sua autonomia interna, e isto abrangia também os cristãos. O sultão Maomé II passou a autoridade patriarcal às mãos de Genádio II. Os patriarcas pessoalmente responsabilizaram-se pela lealdade dos cristãos face às autoridades turcas e às suas decisões no território de todo o império otomano.

Depois da mal-sucedida insurreição grega em 1821, na noite de Páscoa enforcaram o patriarca Gregório V, 14 arcebispos – membros do Santo Sínodo, importantes fanares (gregos ricos do bairro de Fanar em Constantinopla), assim como limitaram os direitos do patriarca e a liberdade dos cidadãos cristãos.

Apesar de tais terríveis repressões as insurreições não eram raras. As autoridades turcas locais as provocavam porque muito frequentemente violavam os direitos dos cristãos. Felizmente, com o passar do tempo os cristãos conquistaram cada vez maior simpatia das potências européias. Em conseqüência da ação comum dos países europeus (particularmente a Rússia) e insurrectos em 1830.

A Grécia consegue a independência. Isto forçou o sultão a reformas nas relações internas dos países. Os cristãos conseguiram mais direitos e liberdade. Em 1920 termina a guerra grego-turca. Como resultado do acordo de Lausane em 1923 a população grega foi expulsa. O patriarcado perdeu em torno de 1,5 milhões de fiéis, o que levou à extinção de muitas dioceses asiáticas. A redução da Igreja de Constantinopla também estava relacionada com a independência de igrejas locais, que receberam o status de Igrejas autocéfalas - por exemplo, a Igreja da Polônia em 1925.

Os traços característicos do patriarcado de Constantinopla nos tempos atuais são a abertura para o mundo e o movimento ecumênico. Este processo foi iniciado pelo patriarca Atenágoras I. Em 1965 isto levou à remoção recíproca da excomunhão de 1054 (encontro do patriarca Atenágoras I e do papa Paulo VI em Jerusalém em 1964).

Atualmente o patriarcado compõe-se de 5 dioceses na parte européia da Turquia (aproximadamente 30 mil fiéis), 35 dioceses no norte da Grécia, ao nas ilhas gregas, assim como muitas fora da Europa, por exemplo, em ambas as Américas (acima de 2 milhões de fiéis), Austrália, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, França, Áustria, Bélgica e Suécia. O patriarcado também possui numerosos centros monásticos, por exemplo: Athos, Pamos. Em Chambes perto de Geneve possui um centro no qual executa atividades educativas e ecumênicas. O patriarcado possui suas próprias escolas teológicas (a maioria fora da fronteiras da Turquia), editora e centros eclesiástico-ecumênicos. No mundo todo existe em torno de 5 milhões de fiéis do patriarcado de Constantinopla. Sob sua jurisdição permanece também a Igreja Autônoma da Finlândia.

Os patriarcas de Constantinopla usam o tradicional título bizantino – “Arcebispo de Constantinopla, Nova Roma e Patriarca Ecumênico”. O patriarca atual é Bartolomeu I que é o 232º patriarca de Constantinopla. Nasceu a 12 de março de 1940 na ilha de Imbros (Turquia). No dia 25 de dezembro de 1973 ocorreu a sua quirotomia parta bispo. A eleição de Bartolomeu para chefe da Igreja de Constantinopla se deu em 22 de outubro e sua entronização no dia 2 de novembro de 1991.

A residência do patriarca e sua cátedra na Igreja de São Jorge, grande-mártir situam-se em Fanar (bairro de Istambul).

No ano de 1987 o patriarca Demétrio I realizou uma visita oficial à Igreja da Polônia. O atual patriarca ecumênico Bartolomeu I visitou a Igreja da Polônia duas vezes, em 1998 2 2000.



S. Santidade BARTOLOMEU I
Arcebispo de Constantinopla - Nova Roma
Patriarca Ecumênico