“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 25 de julho de 2008

História Resumida do Patriarcado de Jerusalém

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução Igúmeno Lucas
A Igreja de Jerusalém é a mãe de todas as Igrejas. Em Jerusalém foi realizada a obra de nossa salvação e no dia de Pentecostes nasce a Igreja de Cristo. Por primeiro bispo da Igreja de Jerusalém considera-se São Tiago, irmão de nosso Senhor Jesus Cristo.

O desenvolvimento local do Cristianismo não foi um processo tranqüilo, desde o começo foi acompanhado de perseguições – deram suas vidas por Cristo o santo Arcediago Estevão (At. 6,8 – 7,60) e o apóstolo Tiago. Em 51 teve lugar aqui o chamado Concílio de Jerusalém no qual foi resolvida a questão sobre a forma de recebimento dos pagãos na Igreja. No ano de 70, depois da insurreição judia contra o poderio dos imperadores romanos, Jerusalém é destruída e seus moradores são obrigados a abandonar as ruínas da cidade. As relações entre cristianismo e judaísmo são finalmente rompidas. Em 135 o imperador Adriano, sobre os escombros da antiga cidade de Jerusalém, constrói nova cidade chamada Aelia Capitolina. Para a cidade voltam os cristãos, sobre os quais o cuidado espiritual exercia o bispo Marcos. Os cristãos passam a proteger os lugares santos e a organizar missões entre as populações das redondezas. A Igreja de Jerusalém começa a desenvolver-se dinamicamente e a obter importância cada vez maior em toda a região.

O bispado de Aelia (Jerusalém) apesar do status particular e significância espiritual, administrativamente estava subordinado ao Metropolita da cidade de Cesárea Palestina, que era a capital da província.

Os primeiros séculos para os cristãos de Jerusalém assim como para os cristãos de todo o império romano, foi um tempo de perseguições da parte dos imperadores pagãos. As perseguições cessam apenas no governo de Constantino, o Grande que restituiu à cidade o seu nome e esplendor antigo. Limpou-a de todos os templos pagãos e construiu novas igrejas relacionados com a vida e atividade do Salvador. Destacava-se entre outros o templo da Ressurreição do Senhor, que junto com outras construções sagradas constituía o conjunto da Basílica do Túmulo do Senhor. Nestes tempos também surge o dinâmico movimento do monasticismo. Surgem vários mosteiros os mais famosos são o Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai e o mosteiro de São Sava, o iluminado. A Igreja de Jerusalém conseguia prestígio cada vez maior e fica elevada acima de todas as Igrejas locais das redondezas.

Os bispos de Jerusalém envidavam esforços para a concessão à Igreja Santa e a dignidade de patriarcado tanto no século IV como no século V. Isto foi causa de vários conflitos com o Metropolita de Cesárea Palestina a quem Jerusalém era subordinada. No III Concílio Ecumênico em 431, o bispo de Jerusalém, Juvenal, exigia o desligamento da Igreja de Antioquia: Palestina, Fenícia, Arábia e ainda subordinação deles ao novo Patriarcado com sede em Jerusalém. Opuseram-se a isso tanto, o então, Patriarca de Antioquia João como seus sucessores. Esta questão permaneceu sem solução até o IV Concílio Ecumênico em 451. Neste concílio o bispado de Jerusalém foi elevado à dignidade de patriarcado sendo concedido a ele o quinto lugar na hierarquia das Igrejas da antiguidade, depois de Roma, Constantinopla, Alexandria e Antioquia.

Heresias afligindo toda a Igreja Cristã da antiguidade não evitaram a Palestina também. Contra a heresia do arianismo foi convocado aqui, em 335, o Concílio de Tiro. O maior defensor foi, então, São Cirilo bispo de Jerusalém. No período de querelas monofisitas, em defesa da fé, participou ativamente o Santo Patriarca Juvenal e sofreu no exílio por seu fervor ortodoxo. Depois do retorno do exílio em 457 convocou um concílio, que ratificou as decisões do IV Concílio Ecumênico da Calcedônia. Do mesmo modo em fases posteriores da luta contra o monofisismo, o patriarcado de Jerusalém e seu patriarca Elias, inflexivelmente defenderam a pureza da fé. Opuseram-se aos pedidos de união dos imperadores Zenon e Anastácio. Continuaram a luta com a heresia monofisita os patriarcas de Jerusalém até o fim das querelas, o que ocorreu apenas no governo do Imperador Justino (518-527). Durante todo o período das desavenças dogmáticas, a Igreja de Jerusalém foi apoiada pelos monges palestinos. Grandes monges como Santo Eufêmio (+473) e São Teoctisto (+464) deram começo a uma linhagem de monges cultos e instruídos chamados “teólogos do deserto”.

No período das desavenças dogmáticas surge um significativo esfriamento das, até então, amistosas relações entre a Igreja de Jerusalém e a de Roma. Contribuiu para isso o Papa Hormisda (514-523), que desejou a exclusão dos dípticos das igrejas de todos os patriarcas de Constantinopla que (de Acácio a Timóteo) que assinaram a união com o Imperador Zenon. O Patriarca de Jerusalém, afirmou que tais patriarcas fizeram isto com o objetivo de manutenção da paz na Igreja e não porque fossem heréticos.

Depois do Imperador São Constantino, o Grande os seus sucessores protegeram Jerusalém. O maior período de florescimento da Igreja de Jerusalém deve-se ao Imperador Justiniano (527-565). Seu excepcional interesse pelo patriarcado mostra-se pela construção de templos e mosteiros, como por exemplo a Igreja da Mãe de Deus junto ao templo de Salomão (543). Com igual preocupação distinguiram-se imperadores de períodos posteriores. Heráclito, em resposta à ofensiva persa na Palestina no começo do século VII, não só organizou uma expedição, que em 614 libertou Jerusalém. Como também resgatou o Patriarca Zacarias raptado pelos persas, assim como reconstruiu templos destruídos por eles.

Em 637 Jerusalém foi conquistada pelo califa Omar. Oficialmente o patriarcado não perdeu os direitos sobre os lugares santos. Os soberanos reconheceram o estatuto interno e específico do culto do patriarcado. Apesar disso, a ocupação da Cidade Santa foi o começo de sua lenta queda. No período da dominação árabe a maioria dos califas desejava a islaminização das nações dominadas por eles. Grandes perseguições tiveram lugar na época do califa Omar II (711-720) e intensificaram-se ainda mais na 2ª metade do século X, quando o Patriarca João VII (964-966) foi assassinado. Neste período, na gestão do califa Al-Hakima (966-1020) foi incendiado o templo da Ressurreição do Senhor. Apesar de tão duro jugo a Igreja de Jerusalém permanecia o centro da Ortodoxia. Isto foi particularmente visível durante a luta iconoclasta, tempo no qual um dos mais famosos defensores do culto aos ícones foi São João Damasceno (+749).

A dominação árabe e as perseguições iconoclastas não foram, entretanto, as maiores atribulações do patriarcado. Seu destino tornou-se ainda mais amargo quando os turcos tomaram o poder sobre a Palestina em 1078. Eles praticamente não tinham idéia de tolerância religiosa e os tempos cristãos foram fechados. Cessaram todas as peregrinações. Isto levou à uma efervescência em toda a Europa e foi a causa direta da organização das cruzadas. Em 1099 os cavaleiros da primeira cruzada conquistaram Jerusalém e fundaram aí um estado latino. Simão o patriarca grego de Jerusalém foi exilado e morreu na ilha de Chipre. Para o trono patriarcal foram nomeados latinos, forçando o clero grego a submeter-se a eles. Os latinos também tomaram posse da maior parte dos lugares santos. Aos gregos restou o direito a apenas parte do templo da Ressurreição do Senhor, do túmulo do Senhor e de alguns mosteiros próximos ao rio Jordão. Nesta época os patriarcas de Jerusalém eram escolhidos e conduziam sua atividade pastoral em Constantinopla.

O período de dominação doa cruzados sobre os lugares santos, entretanto, não durou muito. Mamelucos, bárbaros de procedência turca, que assumiram o poder sobre o Egito por volta de 1254, e em 1268 assumiram o controle sobre a Palestina e Síria. Depois da expulsão dos cruzados de Jerusalém, os gregos novamente tomaram posse dos lugares santos. Lentamente foi verificada a tradição ortodoxa aqui. Ainda assim, neste período não faltaram perseguições.

Em 1517, assumiram o poderio sobre Jerusalém os sultões de Constantinopla (Selim I). Isto significava a diminuição da já limitada tolerância religiosa. Sério problema, também, constituía a falta de meios materiais para a reconstrução dos templos destruídos. Ajuda ocorreu procurar fora das fronteiras do império otomano. Foram estabelecidas, então, relações bastante próximas com a Rússia. Estas relações foram tão importantes, que neste período da história da Igreja de Jerusalém caracterizou-se por anos de disputas e lutas pela guarda dos lugares santos entre cristãos de diversas confissões. Diversas vezes tais disputas se agravaram a ponto de serem contestadas em fórum internacional. Apoio financeiro e diplomático de potências ortodoxas mostrou-se, então, indispensável. O problema foi resolvido, finalmente em Paris em 1856. Foi incluído então, um sistema tripartite entre a Turquia, França e Rússia, na força do quais todos os lados pretendentes do direito de guarda dos lugares santos, comprometeram-se com as reformas e reconstruções de templos destruídos. Tal sistema, com pequenas mudanças, mantém-se até hoje.

Em 8 de dezembro de 1917 os ingleses entraram na Palestina. Encontraram o patriarcado imerso em disputas entre ortodoxos de procedência árabe e grega. O problema árabe consistia das limitações ao acesso a funções eclesiásticas superiores. No ano de 1926 foi convocada uma comissão com objetivo de solucionar este conflito. A disputa entre os árabes e gregos foi amenizada pelo patriarca Timóteo (a partir de 1931). Lentamente ele aumentou a participação dos árabes no comando da Igreja. Já no seu tempo foram restaurados uma série de templos assim como foi organizada a solenidade dos 1500 anos de existência do patriarcado.

Em 1957 sobe ao trono o patriarca Benedito I. Em sua versátil atuação conseguiu grande reconhecimento por dois acontecimentos. Graças a seus esforços em 1958 o rei Hussein da Jordânia editou resolução que obrigava o seu governo a dar plena proteção ao patriarcado. Em 1964, em Jerusalém, ocorreu o encontro do patriarca de Constantinopla Atenágoras com o papa católico Paulo VI. Infelizmente, tais promissoras relações com a Igreja Católica Romana não foram duradouras. Em 1989 o patriarcado de Jerusalém afastou-se do movimento ecumênico em sinal de protesto em face o crescente proselitismo por parte da Igreja Católica Romana. Depois da morte do patriarca Benedito I, a partir de 1981 o patriarca de Jerusalém passa a ser Diódoros I.

O patriarcado de Jerusalém conta hoje com 16 metropolitas, dois arcebispos e dois bispos. A fraternidade do Túmulo do Senhor é um órgão colaborador do patriarcado. Sua composição compreende aproximadamente 130 pessoas; patriarcas, arcebispos, sacedortes, diáconos e monges. A Igreja de Jerusalém tem aproximadamente 300 mil fiéis. Parte deles vive na Jordânia, assim como na diáspora; na América, África e Austrália.

Oficialmente o título de patriarca é: “Beatíssimo Patriarca da Cidade Santa de Jerusalém e Toda a Palestina”. A residência do patriarca de Jerusalém situa-se em Jerusalém e a cátedra patriarcal é a catedral da Ressurreição de Cristo.

Em 22 de Agosto de 2005, o Santo Sínodo elegeu por unanimidade um novo patriarca, Theófilos III como novo Patriarca de Jerusalém. Pela primeira vez na história moderna do Patriarcado de Jerusalém um patriarca foi eleito de forma unânime".

Sua Beatitude THEOPHILOS III