“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

“Educar as Crianças na Honestidade”

“A mentira para o homem é uma nódoa vergonhosa, está sempre na boca dos mal-educados (Ec. 20:26). O hábito da mentira é uma abominação e a infâmia do mentiroso o acompanha sem cessar (Ec. 20:28)”.

Dentre as virtudes que devem ser (im)plantadas no coração das crianças com uma persistência particular, a honestidade ocupa um lugar importante e fundamental. Por “honestidade” compreendemos um sentimento de amor pela Verdade e uma repulsa pela mentira.

Depois da obediência esta virtude deveria ocupar o segundo lugar. Se a mentira é a raíz de todos os vícios, eis que a Verdade é o início e fundamento de todas as virtudes. Por esta razão, a maior parte da atenção dos pais deveria estar orientada na implantação e no cultivar desta honestidade em seus filhos.

De que maneira os pais devem nutrir esta virtude na alma de seus filhos?

O senso da Verdade e o desejo de atingi-la são inatos em cada um de nós e, consequentemente, em cada criança. É verdade que ele é enfraquecido pelo pecado, mas todavia não é completamente aniquilado. Esta busca da Verdade se manifesta na curiosidade da criança. A criança pergunta acerca de tudo e tudo aquilo que o adulto lhe diz, ela aceita como sendo a verdade única, isto até se decepcionar. A criança inocente e não corrompida não conhece a mentira e a hipocrisia, ao contrário, se espanta não somente quando, ela própria conta uma mentira por negligência, mas também quando ouve uma mentira. O sentido (senso) da Verdade é implantado no coração da criança por Deus, Ele-Próprio. Ao homem é reservado somente a necessidade de escutar esta voz natural – de alimentá-la e de consolidá-la. É sobretudo este o dever dos pais.

Como é que eles o podem fazer? Os pais devem, primeiramente, desde o berço, plantar um amor profundo e piedoso pela Verdade e, em seguida, nutrir na criança uma santa “raiva” profunda e uma aversão por toda e qualquer mentira.

  • a) A primeira tarefa chama os pais a ensinar seus filhos a amar a Verdade em uma óptica e sobre uma base religiosa, o que quer dizer, como resultado do amor dos pais por Deus, bem como sua submissão aos Mandamentos divinos e à providência. As crianças devem amar a Verdade porque Deus (que é a Verdade imutável) quer que nós digamos a verdade, e porque Ele próprio repugna toda mentira. Somente o amor pela Verdade, fundado sobre a fé em Deus e um profundo respeito por Ele prosperarão sobre todas as provações.
  • b) A segunda tarefa requer dos pais uma troca franca com seus filhos, e que possa lhes revelar confiança. Acreditai, dai crédito às suas palavras (das crianças), até observar uma mentira. Não exijais provas, juramentos, ou sermões; contentai-vos com a palavra do Evangelho que diz: “Que o teu sim seja sim e o teu não seja não”.
    Todavia, se tiverdes uma razão firme para duvidar de suas palavras, então, nesta primeira ocasião, não deixeis transparecer que não acreditais. Procurais estar plenamente seguro de que mentem. Quando estiverdes seguro de que não dizem a Verdade, chame-os, que seja o pai ou a mãe, e seriamente, com um certo tom de gravidade, mas com amor, olheis em seus olhos e dizei-lhes: “Deus proíbe a mentira. Ele está em toda a parte e conhece não somente todos os nossos atos, como também todos os nossos segredos e pensamentos. Os lábios mentirosos são abomináveis a Deus”. A vergonha que surgirá no semblante das crianças os levará a admitir suas mentiras e lhes servirá de lição para o futuro.
  • c) Os pais devem também velar em mostrar a seus filhos amor e devoção pela Verdade, por meio de seus próprios exemplos. Sede honestos e sem hipocrisisa em todas as vossas ações e palavras. Acima de tudo, mostrai-vos amigos das verdades divinas da religião e da fé. Evitai a indiferença na fé e, particularmente, estejai atentos em não demonstrar por exemplos, que a vossa vida privada não tem nada a ver com a fé. Infelizmente, nas conversações de nossos dias, ouvimos frequentemente o espírito da mentira. Se vós vos permitis exprimir tais pensamentos diante de vossas crianças, ireis banir não somente o amor, a piedade e a religião de seus corações, mas matareis também todo o senso (sentido) da Verdade neles. Se não importa verdadeiramente a Deus que compreendamos corretamente ou não Sua essência, ou que confessemos a verdadeira ou a falsa fé, então por que deveríamos nos preocupar com a Verdade na vida de todos os dias? E se aquele que voluntariamente se mistura a falsas religiões e rejeita a revelação de um Deus perfeito compraz a Deus como aquele que confessa a Fé verdadeira, então por que a Verdade deveria ter tanto valor? Se aqueles que dizem não existir uma religião divinamente revelada têm razão, e se o verdadeiro Deus acha que nos revelar a Verdade em nossas relações com as questões mais importantes da vida não vale a pena, então como podemos exigir de uma pessoa (e ainda mais de uma criança) que ela diga a Verdade nas mínimas situações? Porque, pais cristãos, para que as vossas crianças amem a Verdade vos é necessário lhes inspirar, antes de tudo o amor e o respeito pela divina Verdade. Fechai os vossos corações, bem como de vossas crianças, à indiferença para com os assuntos religiosos. Se vossa criança se apercebe que vos aproximai das verdades religiosas com um espírito superficial e que não credes no Verbo de Deus, que esperança tendes vós que tenham e revelem esta aproximidade à Verdade? Fazei provas, vós próprios, de um amor às verdades da religião. Alimentai-as no coração de vossos filhos.

Em todos os outros aspectos de vossa vida, sede verdadeiros e justos. Evitai toda mentira, mesquinharia, hipocrisia em vossas relações para com os próximos. Se as vossas crianças vêem que a malícia tem lugar em vossas relações com os outros, que recorreis a dissimulações, a pregar ciladas e armadilhas, que sois hipócritas, se eles observarem que pretendeis demonstrar a vossos amigos que os quereis diante deles, mas maltratai-os pelas costas, então rapidamente, vossa criança tornar-se-á nada melhor do que o vosso próprio exemplo. Se, ao contrário, em todos os aspectos de vossa vida, reveleis rejeição à falsidade e à hipocrisia e à mentira, eis então que vossas crianças trarão a Verdade em seus corações, e não mais a mentira em seus lábios.

Educar as crianças afim de que elas amem a honrem a Verdade não é uma tarefa fácil, pois devemos com persistência combater as mentiras e a falsidade. Eis quatro sugestões que poderão nos ser utéis, assistindo-nos neste prodígio:

  1. Ensinai às vossas crianças a falta de amor pela mentira, em uma perspectiva religiosa, dirigindo suas atenções a Deus. Vossas crianças devem fugir da mentira, não com medo de uma punição, caso sejam descobertos, mas como resultado de uma compreensão pessoal de que Deus proíbe a mentira e que cada mentira é um pecado diante de Deus (n.T.: acrescento que todo pecado é um distanciar-se de Deus). Mostrai às vossas crianças o quanto a mentira nos afasta de Deus, fazendo referência às palavras das Santas Escrituras. Ajudai-os a compreender que as mentiras foram obra do diabo desde os primeiros tempos, ao fazer cair Adão e Eva no Paraíso: Eis porque o Senhor, Ele próprio, diz: “Porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44) – o Diabo – ensinai, pois, às vossas crianças que ao mentirem eles o imitam, tornando-se tais como ele.
  2. Não permitais de vossas crianças nem a menor das falsidades. Se uma criança se engana e o admite imediata e honestamente, então perdoai-a sem hesitar. Se a falta é séria, então diminuais a punição, dizendo-lhe que a punição fora diminuída, em virtude de imediatamente ter sido admitido seu erro. Todavia não deveis ser muito indulgentes, porque se a criança têm uma tendência a mentir, a vossa indulgência não tira proveito em nada. Se, de um lado, a criança fez algo de malicioso e o nega, eis que deveis dobrar a punição, dizendo-lhe que não somente ela lhe é auferida em virtude da transgressão mas também pelas mentiras. Se a criança, por raiva ou vingança, pronuncia palavras abusivas em relação a alguém outro, caluniando-o, eis que por isto deve lhe ser dada não somente a punição habitual por uma ofensa, mas ela deve também admitir a ofensa diante de todos aqueles que a ouviram. A lei da moral cristã o ensina.
  3. É imperativo que os pais não mintam e nem os decpcionem no que quer que seja. Não deixais que as vossas crianças sejam decepcionadas por aqueles que são mais velhos do que elas e lhes servem de parâmetro, exemplo, sejam eles seus irmãos, irmãs, serventes ou amigos... muito geralmente acontece que os pais enganam, assustam ou fazem promessas (jamais cumpridas) aos seus filhos, afim de os impedir de chorar ou com o objetivo de acalmá-los, isto provoca grandes danos! A criança cedo compreende, primeiramente, que ela é centro de muita atenção e, depois, que foi enganada; sua credibilidade para com as palavras de seus pais bem como o sentido da Verdade sofrem e diminuem.
  4. Não criais situações onde a vossa criança é levada deliberadamente ou não intencionalmente a mentir. Isto acontece por inadvertência quando o pai ou a mãe, encontrado-se, por alguma razão, com raiva, e por vezes mesmo com um cinto na mão, aborda a criança nestes termos: “Dize-me quem fez isto!” ou “Vais apanhar se fizeste isto!”...é surpreendente que a criança assustada minta? O que dizer então destes pais que riem das mentiras de seus filhos, sendo seus cúmplices na mentira com tamanha malícia? Pior ainda: o que dizer destes pais que ensinam seus filhos a mentir diante dos inspetores e professores escolares, afim de serem liberados de suas tarefas, evitando as punições. Estes pais merecem ser chamados de tentadores de seus filhos. Ficaríamos surpresos que estas crianças, em virtude de sua educação, caluniem, enganem ou roubem? A experiência mostra que aqueles que dirigem pouca atenção à mentira não pensarão duas vezes se podem ou não trapacear ou roubar.

Eis então, meus leitores cristãos, algumas palavras que podem vos ser úteis no ensino e educação de vossas crianças, em um sentimento de piedade maior pela Verdade, tal como para desenvolver uma profunda repugnância para com a mentira! Ensinai às vossas crianças a amar a Verdade primeiramente pelo exemplo do vosso amor pela Verdade em todas as vossas ações e palavras.

Ensinai-os o quanto a mentira é vil e repugnante aos olhos de Deus. Não tolereis nem mesmo uma migalha de falsidade da boca de vossos filhos, não os decepcioneis e não permitais que os outros também os decepcionem.

Em guisa de conclusão, tomai guarda em não os conduzir à mentira intencionalmente ou não.

Periódico LA VOIE ORTHODOXE nº6 – Automne 1994
Pelo Hieromártir Vladimir, Metropolita de Kiev
Tradução do Manastir SV. Apostola Petra i Pavla
Bosna i Herzegovina (BIH)
Boletim Inteparoquial, fevereiro 2006