“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 19 de janeiro de 2008

Iconostase


Do grego είκονοστάσιον. Uma parede ornamentada com ícones separando o santuário do corpo da igreja, e aberta por três portas. Nos tempos primitivos, a Iconostase era provavelmente uma tela colocada na parede no extremo oriental da igreja (uma tradição ainda preservada na Rússia pelos velhos crentes ou velhos-ritualistas*), mas posteriormente foi trazida da parede para frente como uma barreira entre a Nave e o Altar, com a abertura de cortinas tornando o Altar visível ou invisível, anteriormente somente cortinas separavam o Altar da Nave, tais cortinas remontam ao templo de Jerusalém, quando estas separavam o Santo dos Santos do restante do templo. Somente bem mais tarde depois do 7º Concílio Ecumênico e do ano 843 quando cessaram definitivamente as polêmicas iconoclastas e, principalmente, depois da queda do Império Bizantino (século XV) é que a Iconostase toma a forma parecida com a atual.


Os Santos Padres da Igreja previram o prédio da igreja como consistindo de três partes místicas. Assim, de acordo com São Simeão, o Novo Teólogo “o vestíbulo, corresponde à terra, a nave corresponde ao céu, e o santuário, ao que está acima dos céus”. Seguindo estas interpretações, a Iconostase possui, também, um significado simbólico. É como se fosse o limite entre dois mundos: o Divino e o humano, o eterno e o transitório. Os santos ícones indicam que o Salvador, Sua Mãe e os Santos, de quem eles representam habitam tanto no Céu como entre os homens. Assim, a Iconostase, tanto separa o Mundo Divino do mundo humano, quanto une estes dois mundos num todo – um lugar onde toda separação é superada e onde a reconciliação entre Deus e o homem é conseguida. Situando-se no limite entre o Divino e o humano, a Iconostase revela, por meio de seus ícones, os caminhos para esta reconciliação.


As portas centrais, duplas, com uma cortina, são conhecidas como Portas Reais por que através delas é que saem e entram os Santos Dons, o Santo Cálice com a Eucaristia (o Rei da Glória) e a Santa Cruz. As portas laterais são chamadas de porta norte e porta sul, ou portas de diácono e são ornamentadas com os ícones dos arcanjos Miguel (porta sul) e Gabriel (porta norte).


Uma Iconostase típica (russa) consiste de uma ou mais fileiras de ícones. No centro da primeira, a mais baixa, onde estão as Portas Reais, nas quais estão colocados os ícones dos quatro Evangelistas que anunciaram ao mundo a Boa Nova – o Evangelho – do Salvador. No centro das Portas Reais está o ícone da Anunciação da Santíssima Theotokos, já que este evento é o prenúncio e o começo da nossa salvação. Sobre as Portas Reais é colocado um ícone da Última Ceia já que, mais adiante no Altar, o Mistério da Santa Eucaristia é celebrado em memória do Salvador que instituiu este sacramento na Última Ceia.


De cada lado das Portas Reais estão sempre colocados o ícone do Salvador (à direita) e o da Santíssima Theotokos (à esquerda). De cada lado das Portas Reais ao lado dos ícones do Salvador e de Sua Mãe, existem duas portas - as Portas de Diácono – onde estão representados Diáconos ou Arcanjos – que sempre servem no Altar Celeste ou como o fazem, os Diáconos, no Altar terrestre durante os Ofícios Divinos. Mais adiante do lado do ícone do Salvador é colocado o da igreja, isto é, o ícone do Santo ou evento em honra do qual a igreja foi denominada e dedicada. Outros ícones de significância particular local são também colocados na primeira fileira, por esta razão a fileira inferior é comumente chamada de ‘ícones locais’.


*Cisma ocorrido dentro da Igreja Russa na metade do século XVII, devido às reformas promovidas pelo Patriarca Nikon (1605-1681), parte do clero (bispos e padres) não aceitou as mudanças. Infelizmente, este cisma perdura até os dias de hoje.