“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A Unidade da Igreja

A reconciliação em Cristo e o restabelecimento da unidade perdida entre os cristãos foram sempre problemas que tocaram fundo o coração de todos os santos Hierarcas da Igreja Ortodoxa. Todavia, porque a unidade só é autêntica quando realizada na plenitude da Fé e porque um certo comportamento dos Fiéis perante estes problemas é, não raro, meramente uma posição humanista, convém, sem por barreiras ao Amor, por barreiras ao erro, pois este está fora do Amor. Estas, em suma, as razões da presente Exortação.

A UNIDADE DA SANTA IGREJA é unidade de todos os homens com Deus em Jesus Cristo pela Graça do Espírito Santo. Fora desta "táxis" (ordem) não poderá haver nem unidade entre os homens nem unidade entre as diversas Igrejas.

O centro desta unidade, porque força poderosamente unificadora da Igreja, é nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem. União feita a partir da vida de todos os cristãos que é espelho da Caridade Divina; a essência dessa vida na plenitude é união perfeita com Deus e em Deus, Trindade Santíssima, Pai, Filho e Espírito Santo.

Sendo a essência da vida cristã união com Deus, sendo a unidade em Deus união na Verdade porque Deus é Verdade, a unidade da Igreja cristã deve ser unidade na Verdade de Deus. Só Cristo é a Verdade porque Ele é a Luz e o Caminho; só o Espírito é Verdade - "enviar-vos-ei o Paráclito, o Espírito Santo, Espírito de Verdade, o qual procede do Pai" (Jo. 15,26); só o Pai é Verdade - "Aquele que Me vê, vê também o Pai " (Jo. 14,9); "o Meu alimento é fazer a vontade do d'Aquele que Me enviou a completar a Sua obra" (Jo. 4,34). Porque Deus é uno não há três Verdades mas a Verdade que reside inteira no seio da "TRINDADE". Esta Verdade em Deus fez-Se carne, fez-Se Luz e ícone de unidade e enviou os Apóstolos "fazer discípulos entre todas as nações, batizando-os em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt. 28,19). A Igreja a quem foi dada esta missão de pregar a Verdade é coluna e fundamento da Verdade e desta afirmação temos garantias, garantias dadas por Um da Trindade, o Verbo, quando disse: "Eis que Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt. 28,20).

Assim, não pode haver união dos cristãos fora da Verdade, porque fora da Verdade não há nem Igreja, nem salvação, nem vida eterna. "Deus, nosso Senhor, quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade" (1 Tm. 2,4); "Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo, não possui a Deus, mas aquele que permanecer na doutrina (pelo Espírito), este possui o Pai e o Filho" (Jo. 1,9). Esta Verdade em Deus é Deus, Verdade revelada aos homens, Verdade imutável e eterna porque Verdade da Trindade eterna e imutável - "Jesus Cristo é sempre o mesmo: ontem; hoje e por toda a eternidade" (Hb. 13,8). "Ao Rei dos séculos, ao único Deus imortal e invisível, honra e glória, pelos séculos dos séculos! Amén!" (1Tm. 1,17).

Os santos Apóstolos condenam toda e qualquer forma de cristianismo que não seja aquela que recebemos diretamente, na Verdade e em Igreja; do Senhor Jesus Cristo. O Apóstolo Paulo condena todas as religiões de origem humana, afirmando que aqueles que falseiam o Evangelho e fabricam por suas mãos outras doutrinas, se condenam a si próprios: "Repito mais uma vez o que já te disse: Se alguém pregar doutrina diferente da que recebeste, seja ele rejeitado!" (Gal. 1,9). "Depois de advertires até duas vezes o homem que fomenta a divisão, afasta-o, porque sabes que esse tal se perverteu e que, perseverando no seu pecado, se condena a si próprio" (Tm. 3,10-11). Como vemos, os Apóstolos interditam a "comunhão" com todos os que falseiam o Evangelho da Justiça, afastando-os da Igreja. Este ato de enorme gravidade é motivado porque as mutações na fé cristã ameaçam a salvação do homem e destroem a verdadeira unidade na medida em que se trata de "doutrinas humanas" que nada mais têm senão a "aparência de sabedoria" (Cf. Col.. 2,22-23). A Sagrada Escritura diz-nos que na Igreja nascerão sempre falsos doutores e falsos profetas mas que a Igreja fiel permanecerá até ao fim do mundo, até a gloriosa vinda do Senhor Jesus Cristo. Para os cristãos não há maior pecado do que trair o santo Evangelho de Cristo e de falsear os ensinamentos apostólicos. Tornar-se culpado deste pecado é tornar-se réu de traição para com Deus e para com toda a Igreja. A unidade da Igreja e a unidade dos cristãos não pode existir senão na unidade perfeita das doutrinas que os Padres da Igreja chamaram divinas. A maldição de Deus cairá sobre quem atraiçoar a Cristo que é a Verdade e a Vida.

Lá onde a verdade não anda misturada com o erro e lá também onde os ideais de perfeição cristã não estão misturados a falsos ideais do comportamento humano; lá onde homens perfeitamente conscientes das suas fraquezas e dos seus pecados dialogam com Deus na plenitude da Sua própria manifestação divina na Graça, lá está a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, que é a presença e a Força do Reino de Deus sobre a terra. Não pode haver senão nesta Igreja, que é a autêntica unidade dos cristãos, a unidade de todos os homens dada por Deus.

Metropolita Gabriel
Carta Pastoral de 13/06/1976