“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 22 de dezembro de 2007

"A luz que vem do céu"

Deus criou o mundo e disse: “E faça-se a luz.” Na nossa vida criativa nós somos um reflexo do Criador que criou o mundo. Quando nós estamos atentos e dirigimos nossa atenção para a esfera da luz, dentro de nós surge um pensamento bom, como reflexo natural do criativo pensamento de Deus. Um pensamento bom é a luz, pois Ele tem origem na Fonte de luz. Ele é o início criativo, Ele penetra no caos entre o bem e o mal existentes nos relacionamentos humanos e cria uma nova vida. Ele nos desperta para vencermos a escuridão. Foi dito: “Enquanto tendes luz, crede na luz para que sejais filhos da luz” (João 12:36). A luz de Deus permanentemente esparrama-se pelo mundo. A escuridão de nossa alma o afasta. Quando nós desvanecemos a escuridão, nós nos iluminamos. Existe até uma expressão: Eu tive uma idéia luminosa. É como se um raio de luz caísse do céu e iluminasse tudo dentro de nós e ao redor de nós. É assim que se manifesta a força de Deus. É como se o Senhor falasse através de nós: “Seja feita a luz.” E a luz surge e frente aos nossos olhos abre-se uma nova vida, de cuja existência nós nunca suspeitávamos. Nós podemos transformar nossa vida acinzentada numa nova existência, se fixarmos nossa atenção num pensamento bom. Um pensamento bom, como impulso de nossa vida, irá empurrar nossa vontade para vencer o mal, iluminar e criar para nós um novo caminho na vida. Para evitar isso, o mal de todas as formas luta para capturar nossa atenção. É necessário permanentemente estarmos em guarda e combatermos a aproximação do mal.


A luz da vontade de Deus ilumina tudo dentro de nós. Ela deve existir dentro de nós permanentemente. Porém nós escolhemos aquilo que nos parece mais fácil, aquilo que parece ser mais conveniente à nossa natureza. Nós freqüentemente nos deixamos seduzir e entregamo-nos ao pecado repetidas vezes em nossas vidas.


O principal desafio de nossas vidas — é expulsar a escuridão de dentro de nosso coração. “A noite está quase passada e o dia aproxima-se. Deixemos pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Romanos 13:12) fala o apóstolo Paulo. Trocando a escuridão de nossos corações pela luz, nós nos preenchemos com o Espírito Santo. O Espírito Santo cria uma nova vida, trazendo-a da não existência para a existência. É necessário fazer força para abrir nosso coração a Deus, o Qual entra dentro dele: “ Eis que estou à porta e bato.” (Apocalipse 3:20). É claro que o Reino dos Céus não é dado sem esforço, ele deve ser tomado à força. “...O reino dos Céus adquire-se à força...” (Mateus 11:12). O Reino dos Céus é o nosso bem, o bem comum e totalmente possível na Terra e não apenas atrás das nuvens. Para isso nós precisamos nos desafiar para a luta com o pecado. Este esforço trás junto de si uma nova vida, novas experiências, ainda não conhecidas por nós.


O esforço para a salvação freqüentemente é postergado para a velhice. O começo da salvação nós imaginamos empurrar para o futuro, esquecendo-se que talvez nós não iremos viver até a velhice. O futuro está sempre ao redor de nós, ele está ligado ao nosso arrependimento e a vontade de melhorar. O mistério da vida atual consiste em que a preocupação com a salvação não seja postergada para um futuro incerto, mas para que cada um de nossos passos seja iluminado pela luz da Verdade e Vontade de Deus e nessa luz esteja nossa melhoria. É indispensável lembrar-se que se nós vivemos pelo caminho do pecado, estaremos à beira da destruição, esta lembrança é fundamental para que a luz da verdade ilumine nossa vida.


Nós todos sempre estamos atentos a alegrias exteriores, mas aquilo que existe dentro de nós, nós desconhecemos. Por isso é que nós estamos envolvidos pela escuridão dentro e fora de nós. Em nossos corações está a escuridão do pecado e nós atribuímos às coisas e fatos significados que não são os verdadeiros. Nós nos embaraçamos em detalhes insignificantes, exaurimo-nos em situações sem nexo, o que deveria ser feito não é feito, e brigamos uns com os outros. Assim passa um dia após o outro, e determinados momentos passam e vão se embora sem aquele conteúdo divino que traz vida, e que poderia nos preencher. Nós não avaliamos o significado do tempo: os minutos, horas, dias, as coisas... Nós sentimo-nos como se estivéssemos cegos. Em nossa vida diária é exigida uma constante capacidade de ultrapassar obstáculos para termos bons relacionamentos, porém nós não temos consciência da importância disto. Nós caminhamos na escuridão e freqüentemente tropeçamos e por isso sofremos. Se nós tentássemos vencer a escuridão em nós mesmos, somente isso já iluminaria tudo em volta de nós. Se nós conseguirmos conquistar este momento de iluminação, então tudo muda, e todos os que nos rodeiam tornam-se subitamente muito familiares.

Arcebispo Sergio Korolev de Praga (1881-1952)
Traduzido por Boris Petrovich Poluhoff
http://www.fatheralexander.org/