“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Lucas (Lc 6, 29-30)

“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe a outra, e a quem te tomar o manto não lhe estorves o tomar-te a túnica. Dá a todo aquele que te pedir, e não reclames de quem te toma o teu”


O amor do inimigo não é fácil. Nós nos colocamos em posição de defesa contra a injustiça; queremos vingança, se sofremos injustiça; pela retribuição pretendemos colocar o mal em xeque. “Assim como me fazes a mim, eu faço a ti” (cf. Mt 5,38). Cristo exige que o mal não seja retribuído com o mal; pelo contrário, ao mal não se retribua com o mal; ao mal não se ofereça resistência; o mal seja vencido pelo bem.. Estas normas valem para a injúria pessoal que nos é feita. Ao que te ferir numa face... Valem também para o caso de sermos lesados em nossas posses. A quem te tomar o manto...


A alegria do discípulo de Cristo em orar deve desconhecer limites. Dá a todo aquele que te pedir, sem levar em consideração nacionalidade, comunhão de fé, pontos de vista diferentes, dignidade... Sempre de novo, dá. Cristo vai mais longe ainda: propriedade tirada dolosamente e à força nem deve ser reclamada. Quem sofrer tais prejuízos não se defenda, não procure recuperar sua propriedade. Porventura a injustiça deve se tornar justiça?


Podemos ficar tranqüilos ouvindo essas exigências de Cristo? Não se revolta algo dentro de nós? Não se levanta a resistência, porque temos nossas dúvidas? Não se sacrifica a personalidade com os seus direitos? Não se abrem todas as portas ao desenvolvimento dos mais baixos instintos de homens perversos?


Por que os homens agem entre si segundo regras totalmente diferentes, os exemplos soam tão espantosamente paradoxais e escandalosos. Eles revelam como é contrário a Deus o procedimento dos homens, caso o domínio de Deus não os tenha mudado e transformado. Nós imaginamos que o mal é exterminado, quando lhe opomos resistência, quando o mal é retribuído com o mal. Cristo, porém, anuncia que o mal é vencido pelo bem. Ele traz o Reino de Deus. E pela soma de todos os bens, que no Reino se desenvolvem, surge o triunfo de bem sobre o mal.


O modo pelo qual Cristo fala é plástico e vivo. Ele pretende inquietar, despertar, sacudir, transformar. Exemplos são exemplos para uma atitude para a qual Ele nos conclama. Cristo não dá uma preleção sobre deveres morais, preleção que esclareça todos os “se” e “mas”. Com Suas palavras não pretende anunciar novo código de Leis, contido em quatro parágrafos: 1) ao que te ferir... 2) a quem te tomar o manto... Isto seria deturpar o sentido das palavras de Cristo. Este procedimento Ele o quer. E o discípulo deve, na multiplicidade dos acontecimentos da vida, realizar tal procedimento e leva-lo à ação.