“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 17 de novembro de 2007

Sexualidade

O caráter sexual das pessoas humanas tem um papel positivo a desempenhar na espiritualidade humana. Como todas as coisas humanas, sexualidade precisa ser sancionada por Deus e inspirada pelo Espírito Santo, usada para os propósitos pretendidos por Deus. E como todas as coisas humanas, através do seu mau uso e abuso, a sexualidade pode ser pervertida e corrompida, tornando-se um instrumento de pecado muito mais que um meio de glorificar a Deus e consumar em si mesmo alguém que foi feito à Sua imagem e em conformidade com Sua semelhança.
O corpo não é destinado para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor pra o corpo... Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo? Devo eu, portanto, pegar os membros de Cristo e fazer deles membros de uma prostituta? Nunca! Vocês não sabem que aquele que se junta a uma prostituta torna-se um corpo com ela? Por isso está escrito: “Os dois devem tornar-se um”. Mas aquele que está unido ao Senhor torna-se um espírito com Ele. Afaste-se da imoralidade. Qualquer outro pecado que um homem cometa é fora do corpo, mas o homem imoral peca contra seu próprio corpo. Você não sabe que seu corpo é um templo do Espírito Santo dentro de você, o qual você recebe de Deus? Você não é sua propriedade, você foi comprado por um preço. Então glorifique a Deus em seu corpo (I Cor. 6:13-20).
Os ensinamentos de São Paulo sobre sexualidade são análogos aos seus ensinamentos sobre comer e beber e todas as funções do corpo. Eles foram dados por Deus por razões espirituais para serem usados para Sua glória. Eles são santos e puros neles mesmos. Quando mal usados ou adorados como um fim em si mesmos, eles tornam-se instrumentos de pecado e morte. O apóstolo especificamente diz que todas as perversões sexuais têm como sua causa direta a rebelião do homem contra Deus.
“Pelo que também Deus os entregou à concupiscência de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até suas mulheres mudaram o uso natural no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpezas e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém... Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem (Rom. 1:24-32)”.
O “que são dignos de morte os que tais coisas praticam” foi tirado literalmente da Lei de Moisés; então, adúlteros, homossexuais, pessoas incestuosas e aqueles que praticam atos sexuais com animais são ordenados de serem “postos à morte” (Lev. 20:10-16).
Seguindo estes ensinamentos, enquanto esperam a misericórdia de Deus e o perdão de Cristo para todos os pecadores, os escritos do Novo Testamento são até mais estritos em seus mandamentos em relação à pureza sexual. Jesus, que perdoou a mulher pega em adultério (João 8:7-11) e a prostituta arrependida que lavava Seus pés com seus cabelos (Lucas 7:36-50) deu os seguintes ensinamentos em Seu sermão da montanha:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mt. 5:27-32).
Também foi dito, “Aquele que se divorciar de sua mulher, deixe-o dar a ela uma carta de divórcio. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (Mt. 19:3-9).
O Apóstolo Paulo diz simplesmente que os não arrependidos adúlteros, fornicadores e homossexuais não entrarão no Reino de Deus (cfe. I Cor. 6:9-10, Gal. 5:19).
“Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará” (Hb. 13:4).
Então, de acordo com a revelação de Deus, as relações sexuais são santas e puras somente dentro da comunhão do casamento, com a relação ideal sendo aquela entre um homem e uma mulher para sempre. Aqueles que não são casados e aqueles que escolheram pela vontade de Deus não casar devem abster-se de toda relação sexual uma vez que estas relações não podem possivelmente cumprir a função dada ao ato sexual por Deus na criação. Isto não significa que não haverá nenhum caráter sexual na vida espiritual das pessoas solteiras, pois os homens e mulheres solteiras ainda expressarão sua humanidade em masculina e feminina forma espiritual. As virtudes e frutos do Espírito Santo em cada um, como naqueles que são casados, são idênticos, mas a maneira da sua encarnação e expressão será própria de uma forma sexual particular de sua humanidade comum, bem como a individual singularidade de cada pessoa.
A pessoa solteira que vive sua vida toda sem marido ou esposa é chamada à virgindade como uma testemunha neste mundo do Reino de Deus onde “porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu” (Mt. 22:30). É por esta razão que àqueles que seguem a vida monástica é dito que eles pegaram o “hábito angélico”. Isto não significa que eles tornaram-se desencarnados ou assexuados. Isto significa muito mais, que eles perpetuamente servem e louvam a Deus como Seus filhos, compreendendo, como eram, a universal família de Deus sem serem eles mesmos os líderes de famílias na terra. Neste sentido eles próprios expressam os pais e mães, irmãos e irmãs de toda humanidade em Cristo.
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”. E estendendo Suas mãos em direção aos Seus discípulos, Ele disse, “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto qualquer que fizer a vontade de meu Pai esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe” (Mc. 3:34-35).
“Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos mancebos como a irmãos. Às mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza” (I Tm. 5:1-2).
Estas palavras, certamente, são dirigidas para todos, casados e não casados, mas elas também, mais obviamente, têm significado especial para aqueles que, por causa de Cristo, vivem uma vida sem casamento. Aqueles que são casados têm a incumbência de viver suas vidas espirituais com os cuidados com a família, e dentro deste contexto com suas necessidades e demandas. O Cristão que é solteiro vive sua vida em Cristo sem estas condições.
“Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo (isto é, solteiro, diz o Apóstolo Paulo); mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um duma maneira e outro doutra... O solteiro cuida nas coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor, mas o que é casado cuida nas coisas do mundo, em como há de agradar à mulher, e seus interesses estão divididos. A solteira cuida nas coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém a casada cuida nas coisas do mundo, em como há de agradar ao marido. E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma” (I Co. 7:34-35).
Então aquele que casar... faz bem, e aquele que se abstiver do casamento fará melhor (I Co. 7:7-40).
O ensinamento aqui é claro. As pessoas podem servir a Deus e viver a vida espiritual em ambos: no casamento ou na vida solteira. E as pessoas podem pecar em ambas também. “Cada um tem de Deus o seu próprio dom” (I Co. 7:7). São Paulo acha, todavia, que entre aqueles que querem fazer tão perfeitamente quanto ele, aqueles que não se casam, “farão melhor” (I Co. 7:38-40).
A tradição espiritual da Igreja claramente concorda com o apóstolo. Isto não significa que o casamento de nenhum modo é menosprezado ou desdenhado. Ele é dado por Deus e é um sacramento da Igreja, a aqueles que o abominam por “razões espirituais” devem ser excomungados da Igreja (Leis Canônicas do Concílio de Gangra). Isto significa somente que, mais praticamente, alguém pode ser um maior servo de Deus e mais perfeitamente uma testemunha do Seu Reino infinito se ele deixar tudo neste mundo, vender tudo o que possui, e seguir Cristo em total desprendimento e pobreza.
A idéia, entretanto, de que uma pessoa solteira pode entregar-se às coisas deste mundo, inclusive sexualidade, e ainda ser servo de Deus em Cristo é totalmente rejeitada e condenada. Alguém pode renunciar ao casamento no corpo somente para uma maior liberdade das “preocupações mundanas” para se preocupar com “as coisas do Senhor... como ser santo em corpo e espírito”. A pessoa solteira que é “santa em corpo e espírito” não tem relações sexuais com ninguém.
"Boletim Interparoquial"