“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

“Como o homem de si mesmo nada tem de bom e de nada pode gloriar-se”

Se entro em mim mesmo e pergunto o que sou, que encontro, ó meu Deus? Uma razão incerta sempre pronta a extraviar-se, afeições inconstantes, uma mistura inexplicável de esperanças incertas, temores vãos, inclinações viciosas, inumerável multidão de desejos importunos que de contínuo me agitam e atormentam; por vezes uma alegria fugitiva, habitualmente um aborrecimento enfadonho, não sei que instinto do Céu e todas as paixões da terra; uma vontade fraca que a um tempo quer e não quer, grande orgulho e maior miséria: eis o meu estado qual fez o pecado, e sinto-me de mais a mais sem forças para levantar uma natureza tão profundamente abatida. Foi mister que o mesmo Deus viesse levantar esse peso enorme de degradação: se não fosse o Redentor divino, sobre as ruínas do homem pesaria a inexorável eternidade.

Apareceu, enfim, o Redentor e disse: “Eis-me aqui” e seu sangue satisfez à justiça divina, e sua graça reparou a rudeza do entendimento e a desordem do coração: por ela foi restabelecida a imagem de Deus em sua criatura decaída. Incompreensível mistério de amor! E como corresponder a um tal benefício? Reconheçamos ao menos a nossa fraqueza e nossa indigência; não nos atribuamos nenhum dos bens que nos são dados gratuitamente; demos a glória a quem ela pertence e entraremos com todas as potências de nossa alma nos sentimentos do Profeta: “Deus e Senhor meu, eu vos invoquei e vós me ouvistes. Tirastes minha alma do inferno e separaste-me dos que descem ao profundo abismo. Cantai louvores ao Senhor, vós que sois seus santos e celebrai a memória de sua santidade” (Sl. 29,3,5)