“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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domingo, 28 de outubro de 2007

“Uma Reflexão Ortodoxa sobre Verdade e Tolerância”

O Cristianismo Ortodoxo é comprometido com o chamamento à verdade da Fé Cristã. Este chamamento inclui a verdade Bíblica de que todo ser humano foi criado por Deus à Sua Imagem e Semelhança e de que Cristo é o único Salvador do mundo.

Conseqüentemente, a Ortodoxia é fortemente comprometida com Cristo como o Messias e com a tolerância com as outras expressões religiosas. Nestes dois comprometimentos repousa a fonte da tensão criativa para os Cristãos Ortodoxos envolvidos no diálogo entre crenças e atitudes das religiões não-Cristãs.

A Ortodoxia afirma continuamente a centralidade de Cristo na Igreja e no mundo. Ele é “o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb.13:8). Os Cristãos Ortodoxos estão comprometidos com o chamamento à verdade da Fé Cristã não como uma ideologia, mas como uma expressão de santidade. Por isso mesmo a Ortodoxia está comprometida com a tolerância com as outras expressões religiosas.

Os Cristãos Ortodoxos quase sempre vivem em sociedades de pluralismo cultural, lingüístico e religioso. Por esta razão, desenvolveu uma atitude de respeito pelos outros, e uma tolerância e entendimento para com as pessoas de outras crenças. A Igreja Ortodoxa não tem um pronunciamento “oficial” expressando uma atitude em relação a outras religiões. Entretanto, a Ortodoxia tem uma tradição duradoura mostrando respeito e tolerância por pessoas de outras religiões. Isto é bem exposto por um teólogo Cristão Ortodoxo, o Arcebispo, Anastasios Yannoulatos, da Albânia, que, “sendo criado à imagem de Deus, cada ser humano é nosso irmão e irmã”.

É uma firme visão Ortodoxa que nosso comprometimento com o chamamento à verdade Cristã deve afirmar um cenário pluralista-democrático para todas as pessoas viverem em paz e harmonia. A Ortodoxia abraça firmemente a verdade do Cristianismo e defende o direito de outras expressões religiosas coexistirem em harmonia num sistema democrático onde a lei protege todos igualmente.

A questão da verdade é da mais alta importância para a Ortodoxia. “O que é a Verdade?” Pôncio Pilatos perguntou (Jo. 18:38). Cristo permaneceu em silêncio. Os Cristãos interpretam este silêncio como Sua resposta de que a “Verdade” estava diante dele – Cristo é a “Verdade”. “Verdade” faz referência ao conhecimento do ser. Tolerância “implica numa relação certa da fé religiosa com a verdade em todas as manifestações concretas do mundo, sejam nacionalistas, políticas ou sociológicas” (Damaskinos Papandreou, “Verdade e Tolerância na Ortodoxia”). A fonte de toda a verdade é Deus o Criador, que dá existência a todo ser. Deus é a origem e o ser humano é o receptor.

Para a Ortodoxia há uma fusão entre o chamamento à verdade pelo Cristianismo e um mandato por tolerância. Podemos dizer que não se pode ser Cristão se não se abraçar à doutrina da tolerância como um mandamento do amor Cristão.

O mais significativo ensinamento de tolerância na Ortodoxia está contido em uma carta encíclica do Patriarca Ecumênico Mitrophanes III (1520-1580). Este documento foi escrito para os Gregos Ortodoxos em Creta (1568) depois de ouvir sobre os maus tratos aos Judeus. No documento ele afirma, “Injustiça, portanto, é e permanece ainda como injustiça, independente de quem a tenha feito ou sofrido”.

A pessoa injusta nunca está livre da responsabilidade desses atos injustos sob o pretexto de que a injustiça feita foi feita contra um heterodoxo e não contra um fiel. Como Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho disse, “Não oprima ou acuse alguém falsamente; nunca faça nenhuma distinção ou dê espaço para os crentes ferirem aqueles de uma outra crença.”

Eu encerro com o pensamento de que todos os seres humanos são filhos de Deus criados à Sua Imagem, e tolerância para com as outras pessoas que têm uma fé diferente é um mandamento imperativo dado pelo próprio Cristo. Estou também comprometido com as palavras de Nosso Senhor, “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida” (Jo. 14:6).
Rev. Dr. George C. Papademetriou
“Boletrim Interparoquial " – fev 2003