“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

"Do humilde sentir de si mesmo"

Todo homem, naturalmente, deseja “o saber”; de que vale, porém, a ciência sem o temor de Deus?
Melhor, sem dúvida, é o camponês humilde que serve a Deus que o filósofo orgulhoso o qual, de si mesmo esquecido, considera o curso dos astros.
Quem se conhece bem, despreza-se e não se compraz em humanos louvores.
Soubesse eu tudo no mundo, faltando-me a caridade, de que me valeria, diante de Deus que me julgará pelas minhas obras?
Abstém-te do desejo desordenado de saber, pela muita distração e ilusão que dele advêm.
Os doutos estimam ter tidos como sábios e que assim os considerem.
Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma.
E muito sensato é quem a outras coisas se aplica, indiferente à própria salvação.
A abundância de palavras não sacia a alma; uma vida santa, porém, refrigera a inteligência e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.
Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, a não ser que tenhas vivido mais santamente.
Não te desvaneças, pois, de qualquer arte ou ciência; antes teme pelas luzes que recebeste.
Se te parece que sabes muitas coisas e perfeitamente as compreendes, considera que muito mais é o que desconheces.
Não te presumas de alta sabedoria; antes, confessa tua ignorância.
Por que te preferes aos demais, quando há outros mais doutos e versados na lei?
Se queres alguma coisa saber e aprender, utilmente, estima ser ignorado e tido em nenhuma conta.
Não há melhor e mais útil ciência que o conhecimento e desprezo de si mesmo.
Ter-se por nada e julgar bem aos outros, é grande sabedoria e perfeição.
Ainda mesmo que visses alguém manifestamente pecar ou cometer faltas graves, nem por isso te deverias ter por melhor; pois não sabes o tempo em que perseverarás no bem.
Fracos somos todos, mas a ninguém tenhas por mais fraco que tu.