Nós, da EPARQUIA ORTODOXA DO BRASIL, sob a jurisdição e proteção canônica da IGREJA ORTODOXA AUTOCÉFALA DA POLÔNIA, temos a grata satisfação de apresentar ao povo de língua portuguesa este incomensurável tesouro da Tradição Cristã Ortodoxa. São os Ofícios Divinos da Eucaristia, segundo o Rito Bizantino.
Antes de tudo é preciso ter presente que para os cristãos ortodoxos o ritual da Sagrada Eucaristia é definitivamente o ponto alto de um diálogo entre o ser criado e o seu Deus Criador. Diálogo intenso e profundo, que revela teologicamente, ao longo de um certo tempo, todo o misterioso drama da sua existência.
Em seus dois milênios de existência, a vida da Igreja produziu, vários ritos, que foram elaborados a partir da vivência na fé e da cultura própria de cada povo. São os Ritos Caldeu, o Ambrosiano, o Latino, o Sírio, o Bracarense, o Napolitano, o Galicano, o Copta, dentre outros. Alguns destes Ritos ainda persistem, mas em grande parte estes rituais caíram em desuso. Hoje, entre as Igrejas Ortodoxas, o que é mais comumente utilizado é o chamado Rito Bizantino, surgido a partir da cidade de Constantinopla e que aqui apresentamos.
Esta Sagrada Liturgia foi elaborada ao longo de séculos, pelo povo santo de Deus e contando com a participação decisiva de grandes nomes da Igreja. Homens que, sob a inspiração do Santo Espírito, souberam traduzir e harmonizar o chamado de Deus e o anseio do fiel. Foram expoentes tais como São Sawa, o Consagrado (+532), São Romano, o Mélodo (+séc.VI), Santo Efrém, o Sírio(+373), São Sofrônio, Patriarca de Jerusalém (+640), São João Damasceno (+760) e ainda outros.
Mas a Tradição da Igreja creditou a três grandes luminares da Igreja, os três formatos de Ofícios que apresentaremos aqui: a de São João Crisóstomo, de Constantinopla (+407), a de São Basílio, o Grande (+379) e a de São Gregório, Magno (+604). Cada uma destas Liturgias tem características próprias e são celebradas em situações diferentes.
A chamada Liturgia de São João Crisóstomo é a mais utilizada, e é celebrada todos os dias ao longo do ano. A Liturgia de São Basílio é celebrada aos domingos da Grande Quaresma e no dia de São Basílio e a de São Gregório nos dias alitúrgicos (as quartas e sextas feiras) da Grande Quaresma.
Para nós, fiéis ortodoxos do Brasil, também houve uma espécie de processo de elaboração. Nosso primeiro contato com a Fé Ortodoxa foi a partir de Portugal.
Naquele tempo, eram ofícios ainda simples, mas com uma tradução para o português que já continha uma poética verdadeiramente rica. A música que utilizávamos era o conhecido retotom, monótono e simples, mas belo. Pouco depois descobrimos partituras com a polifonia eslava, uma música mais ricamente elaborada. Com o tempo fomos tomando conhecimento de outros detalhes que ignorávamos e pouco a pouco, principalmente a partir da união canônica com a Igreja Ortodoxa Autocéfala da Polônia, fomos nos definindo pela celebração na chamada tradição eslava. Também fomos traduzindo algumas orações desconhecidas e rúbricas litúrgicas, fomos depurando o linguajar lusitano para o português do Brasil.
Hoje, podemos dizer que os nossos ofícios estão, por assim dizer, ‘bem nossos’. Mas, o trabalho ainda não está definitivamente terminado. Já sentimos a necessidade de ajustarmos as melodias que cantamos em nossos ofícios a alguma coisa um pouco mais brasileira. Isso fará com que necessariamente, ajustemos uma parte do fraseado existente nas orações às melodias que encontrarmos.
Não temos pressa; afinal, isso não é uma tarefa meramente técnica. É antes de tudo, um desabrochar e um amadurecimento da nossa fé. Por hora, podemos dizer que é o melhor que conseguimos com estes poucos vinte anos de Igreja Ortodoxa no Brasil.
E consideramos que devemos partilhar esse tesouro da Fé Cristã com todos os que se interessam por Tradição, Espiritualidade, Teologia, Poesia e Beleza.
Mas, acima de tudo, que este nosso modesto trabalho sirva para manifestar uma maior glória de Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo e Sua Igreja, em terras do Brasil.