“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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terça-feira, 19 de maio de 2009

"A Dedicação Monástica."

Bispo Alexandre (Mileant).
Certas pessoas se dedicam completamente a ciência, artes, política ou qualquer outra atividade escolhida por eles. Porque ? Porque esta é a sua vocação. Estas pessoas contribuem para o progresso da arte ou ciência, a que elas se dedicaram. Por outro lado, existem pessoas, que não são atraídas pelo progresso intelectual ou material, mas sim pela aquisição de uma perfeição interior. Elas são atraídas por uma vida justa e por isso se tornam monges e freiras.

A vida dentro de uma sociedade secular pouco contribui para a perfeição, antes ela impede a atingi-la. O santo Evangelista João Teólogo diz, que a vida da sociedade é afetada por três males: "Porque tudo o que há no mundo — concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida." Portanto: "Não ameis o mundo, nem nada o que há no mundo," — ensina ele (1 João, 2:15). A vida monástica tem por finalidade livrar o homem do mal que reina no mundo: da concupiscência da carne — pela castidade e moderação, da inveja (i.e. desejo excessivo de riquezas e bens materiais) pela recusa de bens pessoais, e do orgulho — pela obediência ao superior. Desta maneira, a vida monástica está destruindo o mal na sua própria raiz e está colocando a pessoa no caminho certo, que leva à perfeição espiritual.

A palavra "monge" deriva da palavra grega "um." Ser monge significa que a pessoa vive na solidão. Os mosteiros surgiram como habitações solitárias e afastadas do mundo. A vida monástica difere da de outras pessoas, que vivem no mundo; daí o nome russo do monge: "inok" da palavra "inói" — outro, diferente.

Há muitos caminhos que levam ao Reino de Deus, e o Evangelho nos proporciona uma ampla escolha de como devemos proceder: o principal é evitar o mal e fazer o bem. Mas, para aqueles que sentem vocação para uma vida mais perfeita, dirigem-se as seguintes palavras do Nosso Senhor: "Se alguém quiser vir atrás de Mim, tome a sua cruz e siga-Me ... Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-Me ...Há impotentes que por si mesmos se tornaram tais por amor do Reino dos Céus. Quem é capaz de entender, entenda ... Qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo" (Mateus 16:24; 19:12-21; Lucas 14:26-33). Aqui são determinadas as principais condições, na base das quais são formulados os votos (promessas feitas a Deus pelas pessoas que entram para o mosteiro).

A tendência de seguir uma vida cheia de provações surgiu junto com o cristianismo. De acordo com o são Cassiano (século IV) os discípulos do Evangelista Mateus, que era o primeiro bispo em Alexandria (Egito), eram os primeiros monges. Eles saíam das cidades para os lugares mais afastados, onde levavam uma vida diferente, seguindo os preceitos elaborados pelo são Marcos. O historiador judeu Filós, morador de Alexandria contemporâneo dos apóstolos, escreve sobre uns certos Terapeutas, que se afastaram do centro da Alexandria até os subúrbios dela, e onde levavam uma vida austera, exatamente igual aquilo que mais tarde nos diz são Cassiano sobre os primeiros monges da Alexandria e chama as moradias deles de mosteiros.

Há notícias de que os monges apareceram na Síria ainda durante a vida dos apóstolos. Santa Eudoxia, que desde o ano de 96 d.C. viveu na cidade de Heliópolis na Síria, durante o reinado de Trajano, foi convertida para o cristianismo pelo santo Herman, abade de um mosteiro, onde havia 70 monges. Ela mesma, após a sua conversão, entrou para um convento, onde havia 30 freiras.

Não obstante a escassez de documentos, não há dúvida de que a instituição monástica surgiu ainda durante a vida dos apóstolos. É difícil admitir a falta de sede da perfeição espiritual naqueles tempos, quando os cristãos deixavam tudo para seguir o ensinamento do apóstolo Paulo sobre a virgindade, formulado na sua epístola aos Coríntios (1 Cor., capítulo 7). Para estas pessoas, o exemplo vivo sempre eram e serão o Próprio Senhor Jesus Cristo, a Sempre Virgem Maria, o profeta João Batista, o discípulo amado e celibatário apóstolo João Teólogo, o apóstolo Paulo, o apóstolo Tiago, irmão do Senhor e primeiro bispo de Jerusalém, e muitos, muitos outros. Eis os exemplos, tão sublimes, que serviram de modelo para os monges, onde nasceu a vida monástica, eis a sua fonte espiritual.

É desta forma que o são Doroteu explica o surgimento da vida monástica, dizendo: "Eles (os cristãos) entenderam que para as pessoas que vivem no mundo, é muito difícil se aperfeiçoar espiritualmente e portanto escolheram uma maneira diferente de viver, uma maneira diferente de passar o tempo, uma maneira diferente de agir — que é uma vida monástica e assim eles começaram a sair das cidades e passaram a morar nos desertos, levando uma vida cheia de privações, jejuando, dormindo muito pouco no chão sem nenhum cobertor por baixo ou por cima e suportando voluntariamente muitas privações e sofrimentos, renunciando a vínculos de parentesco ou da pátria, de todos os bens materiais. Por outras palavras, eles se crucificaram ao mundo."

Nas antigas comunidades monásticas a atenção principal era dada a ocupações espirituais: à oração, ao jejum e às reflexões sobre Deus e sobre o mundo espiritual. Mas, ao mesmo tempo, o trabalho físico era tido como indispensável para proporcionar uma diversificação das atividades, porque ele proporcionava meios de subsistência e de ajuda aos pobres.

No começo do século IV surge uma enorme tendência à vida monástica. Isto surgiu como conseqüência do enfraquecimento no rigor da vida cristã, enfraquecimento este que aconteceu porque eram batizados muitos pagãos que continuavam a se interessar exclusivamente por assuntos materiais. Este fato estimulou muitos verdadeiros cristãos a se afastar das cidades, vilas e aldeias e viver nos desertos para lá, longe da agitação do mundo, se aperfeiçoar espiritualmente, rezando, jejuando e refletindo sobre Deus. O primeiro lugar no meio destes grandes homens pertence ao Antônio Magno.

Santo Antônio nasceu nos meados do século III no Egito. Visando solidão e perfeição ele se estabeleceu numas ruínas de um forte antigo, na margem oriental do Nilo. Ali ele viveu durante 20 anos numa completa solidão, jejuando, rezando e se submetendo a diversas privações. Com o passar do tempo, muita gente ficou sabendo sobre ele e começou a visitá-lo. Alguns até começaram a se instalar perto dele para serem guiados por ele e desejando levar a mesma vida austera. Assim, aos poucos, em volta do Santo Antônio se formou um círculo de discípulos (ano 305).

Santo Antônio não estabeleceu nenhuma regra sobre a vida monástica, mas explicou em linhas gerais o caminho para atingir perfeição espiritual. Assim, baseado no próprio exemplo, ele ensinava a renegação dos bens materiais, uma plena devoção à vontade de Deus, uma contínua oração, uma reflexão solitária sobre Deus e trabalho físico. Conforme foi estabelecido por ele, tais pessoas se encontravam sob cuidados de um padre (um "starets," um "ancião," que era uma pessoa com uma grande experiência espiritual e que era plenamente responsável por seus discípulos), moravam separados um do outro em cabanas ou cavernas e se empenhavam no aperfeiçoamento espiritual. Estas comunidades eram chamadas de "lavra."

Mas, ainda durante a vida do santo Antônio apareceu uma outra forma de vida monástica — comunidades. Os que desejavam atingir a perfeição se reuniam numa comunidade, que era dirigida por um abade, viveram juntos, as vezes todos num mesmo compartimento, as vezes em celas individuais, mas todos seguiram as mesmas regras. Estas comunidades eram chamadas de "mosteiros" (cenóbios). O fundador desta forma de vida monástica era o são Pacômio Grande (348).

São Pacômio também nasceu no Egito. Ele era militar e durante uma campanha teve a possibilidade de conhecer a caridade cristã, e desde então teve um grande desejo de abraçar o cristianismo e realmente, após o término do serviço militar, ele foi batizado. Ele conheceu a vida austera no deserto da Tebaida e para si escolheu um lugar deserto na margem do Nilo, chamado de Tavenna. É aqui que surgiu a idéia à são Pacómio de instituir uma comunidade monástica e assim, numa das ilhas do Nilo ele fundou um mosteiro para todos aqueles, que desejassem viver numa comunidade.

A vida austera do são Pacômio atraiu à ele muitos discípulos, tantos, que no mosteiro construído por ele não havia mais lugar e ele foi obrigado a construir mais alguns mosteiros nas margens do Nilo, próximos um do outro. Também foi ele quem fundou um convento para as mulheres na outra margem do Nilo.

Nos mosteiros por ele fundados são Pacômio introduziu certas regras. Este é o primeiro estatuto de uma vida monástica. Todos os monges eram divididos por são Pacómio em 24 categorias, conforme a evolução da vida espiritual deles, mas todos eram dirigidos por um único abade. Cada mosteiro teve seus próprios superiores, chamados de "hegúmenos." Eles todos eram subordinados ao abade principal e o informavam sobre a vida nos respetivos mosteiros. Nos mosteiros também houve ecônomos com ajudantes, que cuidavam da parte econômica da comunidade. Todos os superiores eram obrigados a levar uma vida que servisse de exemplo para o resto dos irmãos. Guiados pelos superiores, os monges eram obrigados a levar uma vida austera, rezando, lendo livros de conteúdo espiritual, principalmente as Escrituras Sagradas, e também deviam trabalhar muito. As missas eram celebradas duas vezes ao dia — de dia e de noite. Após um determinado sinal os monges, sempre modestos e calados, se reuniam na igreja, liam as Escrituras Sagradas e orações e cantavam. Aos domingos — comungavam. Além disso, os monges deviam rezar individualmente antes de dormir e ao levantar. Após as orações ou após as missas, o superior conversava com eles sobre uma vida cristã. Os monges se dedicavam à leitura individualmente nas suas celas, nas horas livres de trabalho e da oração. Os livros lhes eram entregues pelo ecônomo, da biblioteca do mosteiro.

Os monges trabalhavam nas hortas, pomares, ferrarias, moinhos, curtiam o couro, eram marceneiros, tecelões, fabricavam cestas de vime. Saíam para o trabalho numa completa ordem e silêncio, guiados pelo seu superior. O silencio era obrigatório em quaisquer circunstâncias. Tudo isso devia ser cumprido com absoluta obediência. Sem a permissão do superior, nenhum irmão poderia nem só sair do mosteiro, mas nem poderia começar um outro trabalho. Todos os monges eram vestidos em roupas muito simples e iguais para todos. A roupa de baixo era de linho — uma túnica sem mangas, e por cima dela era usada uma roupa de couro, na cabeça eles usavam um gorro e nos pés — sandálias. Esta roupa não era tirada nunca, nem para dormir. Eles não tinham camas, somente assentos entre duas paredes; eles só podiam dormir numa esteira. Os monges se levantavam bem antes de amanhecer. A comida deles era a mais simples, uma vez por dia, geralmente ao meio dia. A comida deles consistia de pão, azeitonas, queijo, legumes e frutas. Nos sábados e domingos havia também uma refeição à noite. Todos comiam juntos, num absoluto silencio.

A pobreza é um dos principais votos monásticos no regulamento de são Pacómio. As pessoas que entravam para a comunidade eram proibidas de trazer qualquer objeto, mesmo as roupas usadas por elas na chegada eram distribuídas entre os pobres. O trabalho executado por um irmão pertencia a todos. Os monges recebiam tudo o que for lhes necessário do próprio mosteiro. Os ecônomos distribuíam aos monges a comida e as roupas, que foram produzidas no próprio mosteiro, ou então compradas com o dinheiro ganho com a venda de objetos feitos pelos irmãos. Para que estas regras fossem obedecidas, são Pacómio determinou, que as pessoas, que desejavam entrar para a comunidade, não podiam ser aceitas antes de serem postas a prova durante um ano.

Durante a vida do são Pacômio, o número dos monges na comunidade dele era de 7.000, e cem anos mais tarde — 50 000. A vida monástica, tanto eremítica como em comunidade se espalhou rapidamente por todo o Egito e de lá passou para outros países. Assim, Ammon fundou uma ordem de eremitas no monte Nitrio com o seu deserto adjacente, Makários do Egito — no deserto de Sceto, onde viviam muitos homens maravilhosos. Hilário, o discípulo predileto de Antônio, levou a vida monástica até a sua pátria, Palestina onde, perto de Gaza, fundou o seu mosteiro. Daí, a vida monástica se espalhou por toda a Síria e Palestina.

São Basílio Grande, que viajou pelo Egito e pela Palestina e conheceu a vida monástica de lá, difundindo-a na Capadócia (Ásia Menor, hoje Turquia), tanto para homens, como para mulheres. O seu regulamento que ele estabeleceu para os seus monges se espalhou rapidamente pelo oriente e virou comum a todos. No século V todo o oriente já era literalmente coberto por mosteiros. Os monges mais notáveis do século V são Isidoro Polusiota, Simão Stolpnik (que passou a vida encima de uma coluna) Eufímio, Sava Santificado, e muitos outros.

São Simão nasceu na Síria, passou muitos anos em orações encima de uma coluna, sem descer de lá, sofrendo de fome e das intempéries. Ele foi o fundador de uma nova forma de dedicação: a vida sobre uma coluna — uma espécie de torre ("stolpnichestvo" — da palavra "stolp" — coluna). Eufímio, fundador do mosteiro em Palestina, por sua dedicação recebeu de Deus o dom de fazer milagres. Sava, discípulo de Eufímio, entrou para a vida monástica aos 8 anos de idade e virou eremita. Ele fundou muitos mosteiros na Palestina e introduziu lá o regulamento sobre missas.

Além do "stolpnichestvo," no século V apareceu ainda um outro modo de dedicação nos mosteiros: os que não dormiam. O monge Alexandre organizou um mosteiro, onde as missas eram rezadas ininterruptamente, durante 24 horas por dia. Um rico habitante de Constantinopla, Studio, gostou desta ordem e fundou em Constantinopla um mosteiro igual, chamando para lá os que não dormiam nunca. Este mosteiro passou a se chamar de "Studiiski."

Notáveis santos viveram no século VI: Simão "Iuródivyi" (Desvairado) que, gozando de absoluta lucidez, se apresentava a todos como um que perdeu razão; este modo de vida, que ele empreendeu por amor à Cristo, lhe dava a possibilidade de ser constantemente humilhado, e desta forma ele chegou a completa impassibilidade, e também são João Clímaco, que passou muitos anos sobre o monte Sinai e escreveu a obra chamada de "Lestvitsa" (Escada), onde ele demonstrou como se aperfeiçoar espiritualmente até chegar à perfeição; no século VII — Alípio "Stolpnik" , que viveu encima de uma torre mais de 50 anos, sem nunca descer de lá. No fim do século VIII e começo de IX houve um outro representante de uma vida monástica rigorosa, que também era um fervoroso defensor de adoração dos ícones — Teodoro Studita. O seu mosteiro, que era famoso pelo seu regulamento rigoroso, deu ao mundo muitos monges santos, conhecidos pela austeridade de suas vidas, como, por exemplo, Nicolau, que foi torturado por causa da adoração dos ícones, Joaniquio, famoso pelo seu dom de clarividência, e outros.

No mesmo século IX apareceram eremitas no monte Atos, tais como são Pedro (século XI), que lá viveu em solidão por mais de 50 anos, e santo Atanásio, (século X), que fundou um mosteiro no Atos, onde mais tarde viveram muitos monges, que procuravam a perfeição.

O monacato russo alcançou grandes proporções e êxito espiritual, a começar pelos santos Antônio e Teodósio de Kievo-Petchersk e terminando com os santos de Optina. Infelizmente, aqui é impossível relatar a história do desenvolvimento e a experiência espiritual do monacato russo.

Nenhum passado de uma pessoa pode impedir a ela de entrar no mosteiro, porque a vida monástica consiste de penitencia, e o mosteiro é um hospital. No começo, a pessoa que entra no mosteiro se encontra no estágio de teste para determinar, até que ponto ela realmente deseja se dedicar à esta vida. Se o abade se convence, de que esta pessoa é realmente sincera na sua decisão, ele lhe concede a benção de usar "podriasnik" com cinto e "scufiá" ("podriasnik" consiste de uma veste preta, comprida, com mangas estreitas e a "scufiá" é um gorro, lembrando um cone). Este futuro monge, que está ainda em fase de teste, se chama de "poslúshnik" (obediente), porque o principal dever dele é obedecer.

O poslúshnik deve demonstrar toda a sua paciência e humildade na execução de todas as tarefas que lhe forem atribuídas, pois estas são as principais virtudes de um monge. "A obediência é mais importante do que jejum e a oração," — diz um ditado monástico, porque a obediência, baseada na humildade, ajuda a exterminar a doença principal da nossa alma — o orgulho, bem como o amor próprio, que é o berço de todas as paixões.

Quando, após um determinado período de tempo, o poslúshnik prova com a sua boa conduta a sinceridade o seu desejo de monacato, ele pode ser ordenado para o segundo grau, chamado de "riasofór." Ele ainda não faz nenhum voto, mas geralmente recebe um novo nome e tem direito de usar, por cima do "podriasnik" a "riasa" e a "kamilávka" ("riasa" é uma veste comprida, preta, com mangas largas, usada por cima do "podriasnik"; a "kamilávka" é uma espécie de chapéu sem abas, mais larga em cima). A ordenação para o "riasofór" é feita durante uma missa especial, que se chama de "Missa para vestir a ‘riasa’ e a ‘kamilávka’.

"O homem que não é casado é solícito das coisas do Senhor: cuida e agrada ao Senhor; mas o que é casado é solícito das coisas do mundo: cuida e agrada a mulher" (1 Cor. 7:32-34). Jesus disse ao jovem, que procurava a vida eterna: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu." Baseando-se neste ensinamento, os monges se recusam a possuir qualquer coisa, para que nada lhes possa impedir alcançar a perfeição espiritual.

São Gregório Teólogo diz: "Será que o monge deve ser preocupar para que não seja roubado (seqüestrado) ele mesmo? Porque ele não possui nada além do seu próprio corpo, coberto por uma roupa velha, rasgada. Deixa os outros, que possuem muito dinheiro, tomar as medidas necessárias contra o roubo. Todos os meus bens consistem de Deus, e este tesouro ninguém conseguirá roubar. No que se refere à outras coisas, podem levar tudo; a minha condição é a mais segura, pois aquilo que eu possuo, ficará comigo eternamente. Deus é a minha parte. Não quero possuir nada além de Deus; quando sirvo no altar, tenho comida e roupa, e estou satisfeito com isto; pobre seguirei atras de uma pobre cruz, para que possa subir sempre mais, sem impedimentos, voando, conforme a palavra do apóstolo, encima de uma nuvem para encontrar o Senhor nas alturas."

É natural que o maior número dos santos provem dos monges, pois a meta do monacato é a perfeição espiritual. Os santos monges são chamados de "prepodobnyi" — reverendo — (podobnyi — semelhante), pois eles mais se assemelharam à Cristo. A pessoa que sentiu, que tudo na vida é somente uma preocupação sem um valor real, e que queria se livrar destas preocupações fúteis para encontrar Deus, entra para o mosteiro. O caminho do monge é um caminho reto, o caminho mais curto entre duas extremidades — o homem e Deus.

Nos mosteiros surgiu uma rica literatura espiritual. Para a maioria dos leigos ela é algo incompreensível e inatingível. As condições espirituais lá descritas são inatingíveis para as pessoas que vivem no mundo secular. Porém, há coisas que são perfeitamente atingíveis à todas as pessoas que procuram a Deus. Os russos sempre gostavam de ler o livro chamado "Dobrotoliubie" ("Amor às coisas corretas"), onde em 5 volumes estão compilados os ensinamentos dos monges da antigüidade; "Lestvitsa" ("Uma escada") do João, abade do mosteiro no monte Sinai; "Uma luta invisível" do são Nicodemo Sviatogorets; "Ensinamentos úteis para as nossas almas" do abade Dorotéu; os ensinamentos dos anciões Varsonófio e João; contos sobre antigos monges compilados em "Lavsaík" do bispo Paládio Helenopolitano, e "Campina espiritual" do bem-aventurado João Mosque. Para os leitores de hoje, podemos recomendar uma literatura mais atualizada, que seriam as cartas do bispo Teófano Recluso, as obras do bispo Inácio Brianchaninov, os ensinamentos dos "startsy" (anciões) da Optina, conversas de são Serafim de Sarov com o amigo dele, Motovilov.

Na Rússia, antes da revolução, havia muitos mosteiros e conventos, e sua influencia sobre os costumes e a vida do povo, sobre a sua história, era enorme. Lá, nos mosteiros, os peregrinos achavam uma renovação moral e espiritual, tranqüilidade, forças para a luta com o pecado. Aqui eles achavam o seu ideal. Os mosteiros eram centros de recuperação moral para o país inteiro.