“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Comunhão com os Santos"

Protopresbítero Michael Pomazansky

A IGREJA ORA por todos aqueles que morreram na fé, e pede perdão pelos pecados deles, pois não há um só homem sem pecado, "ainda que tivesse vivido um só dia" (Jó 14:5 Septuaginta). "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós" (1 Jo. 1:8). Por isso, não importa quão justo um homem possa ser, quando ele parte desse mundo, a Igreja acompanha sua partida com orações por ele para o Senhor. "Irmãos, orai por nós.", pede o santo Apóstolo Paulo aos seus filhos espirituais (1 Tess. 5: 25).

Ao mesmo tempo, quando a Igreja testemunha a justeza de uma pessoa que partiu, os Cristãos, além de orar por ela, são ensinados pelo bom exemplo de sua vida e a colocam em um lugar para ser imitada.

E quando, além disso, a convicção comum sobre a santidade da pessoa que partiu é confirmada por testemunhos oficiais tais como martírio, destemida confissão, serviços com auto-sacrifício para a Igreja, dom de cura, e especialmente quando o Senhor confirma a santidade da pessoa que partiu com milagres depois da sua morte quando ele é lembrado em orações, então a Igreja a glorifica de maneira especial. Como a Igreja poderia não glorificar aqueles a quem o próprio Senhor chama de "Seus amigos"? "Vós sereis meus amigos... tenho-vos chamado amigos" (Jo. 15:14-15), a quem Ele recebeu em Suas mansões celestes em cumprimento das palavras, "para que onde Eu estiver estejais vós também" (Jo. 14:3). Quando isso acontece, orações para o perdão dos pecados daquele que partiu e para o seu repouso cessam; elas dão lugar a outra forma de comunhão da Igreja com ele, nomeadamente: primeiro, o louvor de suas lutas em Cristo, "pois nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa" (Mt. 5:15); segundo, são feitas petições para ele para que ele possa orar por nós, pela remissão dos nossos pecados, e pelo nosso avanço moral, e para que ele possa nos ajudar em nossas necessidades espirituais e em nossas angustias.

É dito: "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor" (Apoc. 14:13) e na verdade nós os bendizemos. É dito: "Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste" (Jo 17:22), e na verdade, nós damos a ele essa glória de acordo com o comando do Salvador.

Da mesma forma o Salvador disse: "Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo" (Mt. 10:41). "Porque, qualquer que fizer a vontade de Meu Pai Que está nos céus, este é Meu irmão e irmã e mãe" (Mt. 12:50). Por isso, nós também deveríamos receber um homem justo como um homem justo. Se ele é irmão do Senhor, então ele também será tal para nós. Os santos são nossos irmãos espirituais, irmãs e mães e pais, e nosso amor por eles é expresso por nossa comunhão em oração com eles.

O apóstolo João escreveu para seus companheiros Cristãos: "O que vimos e ouvimos isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo" (I Jo. 1:3). E na Igreja essa comunhão com os apóstolos não é interrompida; e ela segue em frente com eles para o outro reino da existência deles, o reino celeste.

A proximidade dos santos do Trono do Cordeiro e a elevação por eles de orações pela Igreja na terra são descritas no livro do Apocalipse de São João o Teólogo: E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do Trono, e dos animais e dos anciãos; e era o número deles de milhões de milhões e milhares de milhares.", que louvavam o Senhor (Apoc. 5:11).

Comunhão em oração é a concretização em fato real da ligação entre os Cristãos na terra e a Igreja Celeste da qual o Apóstolo fala: "Mas chegastes ao monte de Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoado" (Hb. 12: 22-23).

A Sagrada Escritura apresenta numerosos exemplos do fato que, enquanto ainda vivendo na terra, os justos podem ver, ouvir e saber muito mais do que é acessível ao conhecimento comum. Mais ainda, esses dons estão presentes com eles quando eles tiram a carne e estão no céu. O santo Apóstolo Pedro viu no coração de Ananias de acordo com o livro de Atos (5:3). Para Eliseu foi revelado o ato ilegal do servo Geazi (II Reis 5), e o que foi ainda mais notável, para ele foram reveladas todas as intenções secretas da corte síria, que ele então comunicou ao Rei de Israel (II Reis 6). Quando ainda estão na terra, os santos penetram em espírito no mundo acima; alguns deles viram coros de anjos, a outros foi concedido contemplara a imagem de Deus (Isaias e Ezequiel), e ainda outros foram exaltados ao terceiro céu e lá ouviram palavras místicas impronunciáveis. Além disso, quando eles estão no céu eles são capazes de saber o que está acontecendo na terra e de ouvir as petições daqueles que apelam a eles porque os santos no céu, pois são iguais aos anjos (Lc. 20:36).

Da parábola do Senhor sobre o homem rico e Lázaro (Lc. 16:19-31) nós sabemos que Abrahão, estando no céu, pôde ouvir o grito do homem rico que estava sofrendo no Inferno, apesar do "grande abismo" que os separava. As palavras de Abrahão sobre os irmãos do homem rico, "Têm Moises e os profetas; ouçam-nos." indicam claramente que Abrahão conhecia a vida do povo hebreu que estava acontecendo depois de sua morte; ele sabe de Moises e da lei, dos profetas e seus escritos. A visão espiritual das almas dos justos no céu, sem nenhuma dúvida, é maior do que era na terra. O Apóstolo escreve: "Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face: agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido" (I Co. 13:12).

A santa Igreja sempre manteve o ensinamento da invocação dos santos, estando inteiramente convencida de que eles intercedem por nós diante de Deus no céu. Isso nós vemos nas antigas Liturgias. Na Liturgia do santo Apóstolo Tiago é dito: "Especialmente nós celebramos o memorial da Santa e Gloriosa Sempre Virgem, a Bendita Theotokos. Lembra-Te Dela, ó Senhor Deus, e por Suas puras e santas orações preserva-nos e tem piedade de nós." São Cirilo de Jerusalém, explicando a Liturgia da Igreja de Jerusalém, destaca, "Então nós também comemoramos (oferecendo o Sacrifício sem Sangue) aqueles que partiram previamente em primeiro lugar: antes de todos, os patriarcas, profetas,apóstolos, mártires, para que por suas orações e intercessões Deus possa receber nossas petições."
Numerosos são os testemunhos dos Padres e professores da Igreja, especialmente do quarto século para diante, a respeito da veneração de santos pela Igreja. Mas já no começo do segundo século há indicações diretas na literatura Cristã antiga a respeito da fé na oração pelos santos do céu por seus irmãos na terra. O testemunho da martírica morte de São Inácio o Teóforo ( no inicio do segundo século) diz: "Tendo retornado para casa em lágrimas, nós tivemos a vigília de noite inteira ... A seguir, depois de dormir um pouco, alguns de nós subitamente vimos o abençoado Inácio em pé e nos abraçando, e outros o viram orando por nós." Relatos similares, mencionando as orações e intercessões por nós de mártires, são encontrados em outros relatos das épocas de perseguições contra os Cristãos.