Por São João (Maximovitch) de Shangai e São Francisco
Fonte:La Lumière du Thabor – Revue internacionale de théologie orthodoxe n]47-48
Fraternité Orthodoxe St. Grégoire Palamas / L´Age d´homme
Tradução: Manastir Sv. Apostola Petra I Pavla (BiH)
Fonte:La Lumière du Thabor – Revue internacionale de théologie orthodoxe n]47-48
Fraternité Orthodoxe St. Grégoire Palamas / L´Age d´homme
Tradução: Manastir Sv. Apostola Petra I Pavla (BiH)
Quem era Zaqueu? Um publicano de posição superior, “um chefe de publicanos”. O hábito que temos de opor as duas figuras do humilde publicano e do orgulhoso fariseu obscurece as coisas e impede nosso espírito de apreciar justamente estes dois tipos de personagens. Para melhor compreender o Evangelho torna-se indispensável saber claramente quem eles eram.
Os fariseus eram, a bom modo, justos. Hoje, este termo “fariseu” ressoa como sorte de reprovação; o que era completamente diferente na época de Cristo e durante as primeiros decênios do Cristianismo. Longe de ver um defeito, o Apóstolo Paulo confessa, contrariamente, com orgulho diante dos judeus:"Sou fariseu, filho de fariseu” (Atos 23, 6). Mais tarde ainda, dirigindo-se aos cristãos, aos seus próprios filhos espirituais, ele escreve: “Eu sou da raça de Israel, da Tribo de Benjamim, hebreu dentre os hebreus, no que concerne a Lei, fariseu” (Fp. 3,5). O Apóstolo Paulo não foi o único fariseu a abraçar o Cristianismo, houveram ainda muitos outros: José, Nicodemos, Gamaliel...
Os fariseus – em hebreu arcaico perushim, em aramaico pherisim, que significa “outros, aqueles que estavam a parte, separados, diferentes” – eram zelotas da Lei de Deus. Eles “se repousavam na Lei”, em outros termos, meditavam-na constantemente, amavam-na e se esforçavam em realizar exatamente as exigências; delas se faziam os predicadores e os intérpretes.
As admoestações do Senhor aos fariseus tinham por objeto adverti-los que todo o combate deles, todos os esforços verdadeiramente louváveis aos quais se entregavam eram anulados, perdiam todo preço aos olhos de Deus, e valiam não a bênção do Senhor, mas antes a condenação, desde que se glorificassem orgulhosamente de seus atos de justiça e, sobretudo, se julgassem seus próximos. Um exemplo comovedor deste gênero de atitude aparece no Fariseu da parábola, o qual declara: “Ó Deus, eu Te dou graças por não ser como o resto dos homens” (Lucas 18, 11).
Por outro lado, os publicanos eram pecadores revelados, que transgrediam as leis mais sagradas do Senhor. Estes coletores de taxas levantavam impostos sobre os judeus para a conta de Roma. Lembremos que os judeus, conscientes de seu papel único de povo eleito de Deus, gabavam-se de serem “a semente de Abraão” e de “não serem nunca escravos de ninguém” (Jo. 8, 33). Nesta época, todavia, como conseqüência de fatos históricos bem conhecidos, encontravam-se na sujeição, escravos de um povo orgulhoso e brutal, de um povo de “ferro” – os romanos pagãos. O jugo desta servidão os oprimia cada vez mais estreitamente e lhes tornava mais pesado e doloroso.
O sinal mais tangível e manifesto desta submissão, deste sujeitar-se aos romanos residia na obrigação feita aos judeus de deitarem, em tributo, todas sortes de taxas aos seus escravagistas. Para os judeus, como para todos os povos da antiguidade, pagar tributo era símbolo de sujeição. E os romanos, que tornam-se um povo vencido, não sentiam o menor castigo, exigiam imperiosamente e sem poupar-lhes, taxas ordinárias e extraordinárias.
Evidentemente, os judeus pagavam com raiva e desgosto. Os escribas sabiam o que faziam quando, ao desejarem comprometer o Senhor aos olhos de Seu povo, Lhe perguntaram: “É permitido pagar o tributo a César?”(Mat. 22, 17). Eles sabiam que se o Cristo respondesse negativamente, tornar-se-ia muito fácil acusá-Lo diante dos romanos, e que se Ele declarasse imperativo deitar o tributo, encontrar-Se-ia definitivamente comprometido aos olhos do povo.
Durante o tempo em que os romanos governavam a Judéia pelo intermediário de tetrarcas locais – como Herodes, Arquelau, Agripa e outros ainda – a sujeição à Roma, e notoriamente a obrigação e pagar taxas, torna-se pouco mitigada para os judeus na medida em que só eram sujeitos indiretos e pagavam o tributo aos seus reis, os quais tinham a posição de sujeitos e tributários de Roma. Ora, pouco tempo antes do início do ministério público de Cristo, uma mudança se produz no sistema de governo aplicado a Judéia. O recenseamento universal mencionado a propósito do Nascimento de Cristo constitua a primeira etapa de um processo visando estabelecer uma capitação – uma taxa pessoal, paga para cada indivíduo – sobre todos os sujeitos de Roma desta região.
Os fariseus eram, a bom modo, justos. Hoje, este termo “fariseu” ressoa como sorte de reprovação; o que era completamente diferente na época de Cristo e durante as primeiros decênios do Cristianismo. Longe de ver um defeito, o Apóstolo Paulo confessa, contrariamente, com orgulho diante dos judeus:"Sou fariseu, filho de fariseu” (Atos 23, 6). Mais tarde ainda, dirigindo-se aos cristãos, aos seus próprios filhos espirituais, ele escreve: “Eu sou da raça de Israel, da Tribo de Benjamim, hebreu dentre os hebreus, no que concerne a Lei, fariseu” (Fp. 3,5). O Apóstolo Paulo não foi o único fariseu a abraçar o Cristianismo, houveram ainda muitos outros: José, Nicodemos, Gamaliel...
Os fariseus – em hebreu arcaico perushim, em aramaico pherisim, que significa “outros, aqueles que estavam a parte, separados, diferentes” – eram zelotas da Lei de Deus. Eles “se repousavam na Lei”, em outros termos, meditavam-na constantemente, amavam-na e se esforçavam em realizar exatamente as exigências; delas se faziam os predicadores e os intérpretes.
As admoestações do Senhor aos fariseus tinham por objeto adverti-los que todo o combate deles, todos os esforços verdadeiramente louváveis aos quais se entregavam eram anulados, perdiam todo preço aos olhos de Deus, e valiam não a bênção do Senhor, mas antes a condenação, desde que se glorificassem orgulhosamente de seus atos de justiça e, sobretudo, se julgassem seus próximos. Um exemplo comovedor deste gênero de atitude aparece no Fariseu da parábola, o qual declara: “Ó Deus, eu Te dou graças por não ser como o resto dos homens” (Lucas 18, 11).
Por outro lado, os publicanos eram pecadores revelados, que transgrediam as leis mais sagradas do Senhor. Estes coletores de taxas levantavam impostos sobre os judeus para a conta de Roma. Lembremos que os judeus, conscientes de seu papel único de povo eleito de Deus, gabavam-se de serem “a semente de Abraão” e de “não serem nunca escravos de ninguém” (Jo. 8, 33). Nesta época, todavia, como conseqüência de fatos históricos bem conhecidos, encontravam-se na sujeição, escravos de um povo orgulhoso e brutal, de um povo de “ferro” – os romanos pagãos. O jugo desta servidão os oprimia cada vez mais estreitamente e lhes tornava mais pesado e doloroso.
O sinal mais tangível e manifesto desta submissão, deste sujeitar-se aos romanos residia na obrigação feita aos judeus de deitarem, em tributo, todas sortes de taxas aos seus escravagistas. Para os judeus, como para todos os povos da antiguidade, pagar tributo era símbolo de sujeição. E os romanos, que tornam-se um povo vencido, não sentiam o menor castigo, exigiam imperiosamente e sem poupar-lhes, taxas ordinárias e extraordinárias.
Evidentemente, os judeus pagavam com raiva e desgosto. Os escribas sabiam o que faziam quando, ao desejarem comprometer o Senhor aos olhos de Seu povo, Lhe perguntaram: “É permitido pagar o tributo a César?”(Mat. 22, 17). Eles sabiam que se o Cristo respondesse negativamente, tornar-se-ia muito fácil acusá-Lo diante dos romanos, e que se Ele declarasse imperativo deitar o tributo, encontrar-Se-ia definitivamente comprometido aos olhos do povo.
Durante o tempo em que os romanos governavam a Judéia pelo intermediário de tetrarcas locais – como Herodes, Arquelau, Agripa e outros ainda – a sujeição à Roma, e notoriamente a obrigação e pagar taxas, torna-se pouco mitigada para os judeus na medida em que só eram sujeitos indiretos e pagavam o tributo aos seus reis, os quais tinham a posição de sujeitos e tributários de Roma. Ora, pouco tempo antes do início do ministério público de Cristo, uma mudança se produz no sistema de governo aplicado a Judéia. O recenseamento universal mencionado a propósito do Nascimento de Cristo constitua a primeira etapa de um processo visando estabelecer uma capitação – uma taxa pessoal, paga para cada indivíduo – sobre todos os sujeitos de Roma desta região.
No ano 6 ou 7 depois de Cristo, depois da expulsão de Arquelau, a introdução de tal taxa pesando sobre todos os habitantes da Palestina desencadeia, da parte dos judeus, revoltas conduzidas pelo fariseu Sadduc e por Judas o Galileu (At. 5, 37). É com grandes esforços que o Sumo-Sacerdote Joazar consegue acalmar o povo. No lugar de reis locais, os romanos instalaram procuradores como governadores da Judéia e das províncias vizinhas. Para levantar as taxas com mais sucesso, os romanos introduziram o sistema dos publicanos. Esta instituição existia em Roma desde a alta antiguidade, mas enquanto em Roma e na Itália, os publicanos eram recrutados dentre os membros de uma classe prezada – aquela dos cavaleiros – na Judéia, os romanos viram-se constrangidos a empregar como publicanos homens sem-modos, desprezados da sociedade, judeus vergonhosos que consentiam com eles a colaborar em forçar seus irmãos a pagarem o tributo.
Aceitar tal estado significava a mais profunda decadência moral. Era tornar-se traidor à sua pátria e, acima de tudo, à sua fé. Para tornar-se, ao serviço de rudes pagãos, o instrumento da dominação do povo eleito de Deus, era necessário renunciar suas esperanças.
Além do mais, ao aceitar um posto, o publicano deveria prestar um sermão pagão de fidelidade ao imperador e oferecer um sacrifício pagão em honra de seu espírito, o genius do imperador. Os romanos não tinham respeito algum pelas convicções religiosas de seus agentes. Os publicanos, não contentes de servir os interesses de Roma levantando taxas sobre seus próprios compatriotas, saciavam seus próprios apetites mercenários e, se enriqueciam as custas de seus irmãos na escravidão, tornando ainda mais pesado o jugo da opressão romana. Tais eram os publicanos! Eis porque, a justo título, a raiva e o desprezo os rodeava; traidores de seu povo, não traíam simplesmente um povo, mais o povo escolhido de Deus, Seu instrumento no mundo, o único povo pelo qual o renascimento e a salvação deveriam vir ao mundo.
Todos estes traços que descrevemos se aplicam eminentemente a Zaqueu, que não era um publicano ordinário, antes um chefe dos publicanos, um architelones. Sem sombra de dúvidas, ele tinha feito tudo: oferecido sacrifícios pagãos, prestado um sermão pagão, extorquido brutalmente taxas a seus irmãos, aumentando mesmo para seu benefício próprio. Ele havia se tornado, como testemunha o Evangelho, um homem rico. Decerto, Zaqueu compreendia claramente que as esperanças de Israel estavam perdidas para ele. Toda predicação dos Profetas, todo amor sentido desde a infância, tudo o que fazia vibrar de alegria toda alma piedosa do Antigo Testamento, cada alma “conhecendo a jubilação” – tudo isto não existia mas para ele. Ele era um traidor, um renegado, um fora-da-lei. Ele não tinha mais parte com Israel.
Ora, eis que um ruído lhe sobrevêm: o Santo de Israel, o Messias anunciado pelos Profetas apareceu no mundo e, com um punhado de Discípulos, percorre os campos da Galiléia e da Judéia, pregando o Evangelho do Reino e operando grandes milagres. Nos corações fiéis, jubilosas esperanças se acendem. E Zaqueu? Como é que ele vai reagir? Para ele, pessoalmente, a vinda do Messias ressoa catastrófica. O reino dos romanos deve acabar e Israel triunfando não deixaria de se vingar dos estragos que ele havia lhe causado, dos abusos e das extorsões aos quais fora entregue. E mesmo se acontecesse de maneira diferente – pois que o Messias, testemunhado pelos Profetas, vinha como um justo, um portador de salvação, um homem humilde e doce (Zac. 9, 9) – o triunfo do Messias só pode lhe trazer, a Zaqueu, a vergonha total, a perda de toda fortuna de do posto social que adquirira a um terrível custo: aquele da traição de seu Deus, de seu povo, de todas as esperanças de Israel.
Talvez, no entanto, não era ainda assim. O novo predicador poderia não ser o Messias. Nem todos criam n´Ele. Fariseus e saduceus – os maiores inimigos dos publicanos e, em particular, do próprio Zaqueu – não criam n´Ele. Talvez esta história não passava de um rumor atiçado pelo povoado. Neste caso, poderíamos continuar a viver à pequena semana, tal como vivíamos até então... Mas Zaqueu não procura fortificar-se neste pensamento. Ele deseja ver Jesus para saber, para verdadeiramente saber: “Quem é Ele?“ Sim, Zaqueu quer que o predicador que vai passar seja verdadeiramente o Cristo, o Messias. Ele quer clamar com os Profetas: “Ó! Se fendesses os céus e descesses!” (Is. 64, 1). Que venha este tempo, mesmo se ele signifique ruína e decadência para ele, Zaqueu. Em sua alma, abre-se - o que parece – profundezas que ele mesmo não havia percebido até então; nele arde, flamba, devora, um amor totalmente desinteressado por Aquele que é “a Espera das Nações”, para a imagem do humilde Messias descrito pelos Profetas, “Que tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido” (Is. 53, 4). E quando se apresenta a ocasião de O ver, Zaqueu se esquece dele próprio. No triunfo do Messias reside, para ele pessoalmente, para Zaqueu, o desastre e a perdição. No entanto, ele não sonha. Ele deseja perceber, nem que seja do cantinho, Aquele que Moisés e os Profetas previram.
E então: o Cristo passa. A multidão o rodea. Zaqueu, em virtude de sua pequena estatura, não pode vê-Lo. Todavia, a sede de Zaqueu, a sede absolutamente livre e gratuita que ele tem de ver o Cristo, pelo menos de longe, é tão ilimitada, tão irresistível, que este homem rico e poderoso, oficial do Império, no meio da multidão que lhe reserva raiva e desprezo, não presta atenção a nada, consumido do desejo de ver o Cristo, desprezando todas as conveniências, abandona toda forma, e sobe numa árvore, num sicômoro que crescia nas margens do caminho. E os olhos deste grande pecador, deste chefe dos traidores e dos renegados, encontram os olhos do Santo de Israel, do Cristo o Messias e Filho de Deus. Jesus vê o que um olhar indiferente ou hostil não saberia ver. Amando de um amor desinteressado a imagem do Messias, Zaqueu é instantaneamente capaz de reconhecer o Senhor Cristo no doutor galileu que passa; e o Senhor, pleno de amor divino e humano, discerne o amor em Zaqueu que O perscruta lá dos ramos altos de seu sicômoro; o Senhor vê as profundezas espirituais desta alma, profundezas que o próprio Zaqueu até então nem desconfiava. O Senhor vê, neste coração de traidor, este amor ardente pelo Senhor de Israel, amor que não estanca numa suspeita de interesse pessoal, amor que pode regenerá-lo e renová-lo. A voz de Deus se faz ouvir: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje Me convém pousar em tua casa”. E o reconhecimento moral, a salvação, o renovo vêm a Zaqueu e à toda sua casa. Sim, o Filho do Homem veio verdadeiramente buscar e salvar o que estava perdido.
Senhor, Senhor, não Te traímos, Tu e a Tua obra, tal como Zaqueu o fez; nós nos privamos a nós próprios dentre uma parte de Israel; nós renegamos nossa esperança! Todavia, para que não se converta em nossa vergonha e confusão, bem como naquela de nossos semelhantes, que o Teu Reino venha! E a Tua vitória, e o Teu triunfo!
Sim, mesmo pelos nossos pecados, - e é justiça –
O Teu acontecimento nos deve portar ruína e condenação
Vem, Senhor, apressa-Te!
Mas dá-nos de ver, nem que seja de longe,
O triunfo da Tua justiça,
Mesmo até quando não sabemos dele participar.
E tem piedade de nós contra toda esperança,
Como outrora fizeste para com Zaqueu!