O sábado, vésperas desse domingo, é especialmente dedicado à comemoração dos fiéis defuntos. Existe uma ligação evidente entre essa comemoração e a evocação do julgamento final, evocação que é o tema principal desse domingo.
Da mesma forma que no domingo precedente, o jejum figura como um tema secundário na Liturgia. É chamado Domingo da Abstinência da Carne, pois é o último dia no qual o uso da carne é autorizado. A partir da manhã de segunda-feira, devemos nos abster de carne até a Páscoa. Lê-se, na Liturgia, uma parte da Epístola de São Paulo aos Coríntios (Co. 8, 8-9,2), na qual, em essência, o que se segue: comer ou não comer é uma coisa indiferente em si. Mas essa liberdade que temos não deve se constituir num escândalo, uma pedra de tropeço para os fracos. Um homem que crê no Deus Único e não crê nos ídolos pode comer em sã consciência a carne sacrificada aos ídolos; no entanto, se um irmão menos esclarecido puder pensar que isso é uma espécie de associação com o culto dos ídolos, é melhor que esse homem se abstenha de tal uso, para respeitar a consciência desses irmãos para quem também Cristo está morto. Da mesma forma, durante a Quaresma, se nós nos inspiramos na idéia de São Paulo, um homem que estime ter razões válidas para não jejuar ou jejuar menos, evitará tudo que possa escandalizar ou ofender consciências menos esclarecidas.
O Evangelho da Liturgia (Mt. 25, 31-46) descreve o julgamento final. “Quando o Filho do Homem vier em Sua Glória”, com os anjos, todas as nações serão reunidas diante do Seu Trono. Ele separará as ovelhas dos bodes, colocando os justos à Sua direita e os pecadores à Sua esquerda. Ele convidará a entrar no Reino do Pai àqueles que O tiverem alimentado, vestido, visitado, sob a forma humana de pobres, de prisioneiros, de doentes. Ele excluirá do Reino àqueles que tiverem agido diferentemente. Essa descrição do julgamento contém, evidentemente, uma parte de simbolismo. Nós pronunciaremos, nós mesmos, nosso próprio julgamento, conforme tenhamos voluntariamente aderido a Deus ou O tenhamos rejeitado. É nosso amor ou nossa falta de amor que nos situará entre os benditos, ou aqueles que serão apartados.Se nós não somos forçados a dar uma interpretação literal dos detalhes do julgamento, tal como o evangelista os descerve, nós devemos, ao contrário, entender de uma maneira muito realista, o que o Salvador diz de Sua presença entre àqueles que sofrem, pois é entre eles somente que nós podemos acorrer em ajuda ao Nosso Senhor Jesus Cristo.
As orações de Vésperas do sábado à tarde e das Matinas do Domingo, dão uma impressão geral de terror diante do julgamento de Deus. Há a questão de livros abertos, de anjos assustados, de rios de fogo, de tremores diante do Altar. Tudo isso é justo, e numerosas passagens dos Evangelhos nos apressam a convertermo-nos antes que seja tarde. Mas o lado das sombras, das trevas, onde o pecador obstinado pode escolher para se jogar, não deve fazer esquecer o lado da luz e da esperança. Eis aqui uma frase de um canto de Vésperas onde esse dois aspetos se encontram unidos como convém: “Ó, minh´alma, a hora se aproxima. Eu pequei, Senhor, eu pequei; mas conheço Teu amor e Tua misericórdia, ó Bom Pastor....”
“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”
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