“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sábado, 15 de dezembro de 2007

Cânon

Cânon do grego κανών. Esta palavra significa originalmente regra, medida. Os cânones, textos preparados entre outros pelos concílios e os Padres da Igreja, são em geral regras, padrões, destinados, sobretudo a excluir falsas aproximações sobre alguma questão. O termo cânon ou cânone se aplica, assim, a um grande leque de textos que se pode, de um modo geral, agrupar da seguinte maneira:

  1. regras de vida da Igreja (dogmáticas e disciplinares);
  2. listas, catálogos dos livros autênticos da Bíblia;
  3. coleções de odes e textos litúrgicos.

A coleção clássica dos cânones bizantinos que servirá de base para o direito canônico da Igreja Ortodoxa atual é o chamado Nomocânone em 14 capítulos. Como texto de origem puramente eclesiástica, ele compreende:
  • os cânones apostólicos;
  • os cânones dos concílios ecumênicos;
  • os cânones dos concílios locais;
  • os cânones dos santos Padres.
Os cânones consistindo de coleções de odes e textos litúrgicos são poemas litúrgicos compostos de nove partes ou estâncias chamadas odes. Cada ode consiste de, no mínimo, um irmos e quatro tropários. Um cânon pode ser laudatório, compuncional, penitencial etc. O cânon ocorre em Matinas após a leitura do Saltério e do Salmo 51 (aos domingos e festas após a Litania: Salva, Senhor, o teu povo....). Originalmente em Matinas os nove cânticos (odes) bíblicos eram cantados, com um pequeno refrão inserido entre os versos. Santo André de Creta (séc. VII-VIII) estabeleceu a prática de expandir estes pequenos refrãos em tropários celebrando algum tema particular: arrependimento (como em sua própria obra-prima, O Grande Cânon); os defuntos; etc. Com o passar do tempo o costume de ler o texto bíblico real desapareceu, embora ainda seja observado por muitas comunidades monásticas durante a Quaresma (também, ao longo do ano todo, em mosteiros do Monte Atos, Patmos, e em alguns outros lugares). Como resultado desta prática os tropários do cânon são, agora, recitados sozinhos, acompanhados por uma curta invocação como: “Glória a Ti, ó Deus, glória a Ti”; ou “Salva-nos, ó Santa Mãe de Deus”. O único cântico bíblico cantado em sua totalidade é o Magnificat: este nunca é omitido, exceto nas Grandes Festas. Na prática atual, não há a segunda ode no cânon, exceto na Quaresma: assim, o cânon que teoricamente possui nove odes, na realidade possui apenas oito. Os cânones de dia de semana na Quaresma possuem como regra duas, três, ou quatro odes.


Os cânones possuem um variado número de tropários em cada ode. Normalmente mais que um cânon é prescrito para ser lido em Matinas: aos domingos 4; em dias normais 3; nas Grandes Festas, normalmente 2. Para a leitura dos cânones as seguintes regras são observadas. Ode um do primeiro cânon é lida; então a ode um do segundo, terceiro, etc cânon; então a ode três do primeiro cânon, e etc. Os cânones devem ser combinados de tal modo que o número total de tropários em cada ode some, sempre, no máximo 14. Se os cânones previstos para serem lidos possuem tropários demais, então dois tropários são lidos juntos, como se fossem um só; ou, também, alguns dos tropários são omitidos. Se há poucos tropários, então, alguns tropários são repetidos duas ou mesmo três vezes de modo a somar o total exigido. Ao se determinar o número de tropários, a primeira estância de cada ode (o irmos) é incluída na contagem, mas não a katavásia do final.


Cânones não são lidos apenas em Matinas, mas também em Completas, e aos domingos no Ofício da Meia-noite; eles ocorrem também em outros ofícios, tais como unção de enfermos, ofício de defuntos, preparação antes da Sagrada Comunhão.