Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas
Os primórdios do cristianismo em Alexandria estão relacionados com a pessoa do Santo Evangelista Marcos. Que pregou no Egito e na província Sirenaica ( atualmente Líbia). Ele organizou a Igreja Cristã em Alexandria e tornou-se seu primeiro bispo. Ordenou os primeiros presbíteros, ente eles Milaios, Sabino e Kerdon, assim como 7 diáconos. Encontramos também testemunhos que afirmam que em Alexandria São Barnabé pregou ( aqui encontrou e batizou Clemente o futuro bispo de Roma) assim como São Lucas, Evangelista (fala sobre isso, entre outros, o cronista do século XIII Salomão de Bássora, afirmando que justamente aqui São Lucas morreu sob martírio). O desenvolvimento do cristianismo em Alexandria é quase rival do ocorrido em Jerusalém.Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas
No final do século II em Alexandria surgiu importante centro de estudo teológico cristão, a Escola Alexandrina de catequese. Sua fama e influência rapidamente cruzaram as fronteiras do Egito. A escola desempenhou importante papel na formação dos dogmas cristãos e abrigou muitos defensores da Ortodoxia.
O período das perseguições levou à divisão do cristianismo egípcio. O critério da divisão apoiava-se na nacionalidade. A elite cristã concentrava-se em torno do bispado e da escola de catequese e constituía-se de cristãos de procedência grega. Os cristãos procedentes da nação egípcia, chamados coptas, concentravam-se na devoção prática. A atmosfera entre ambos os grupos tornou-se várias vezes desagradável e frequentemente não amistosa.
O lugar de Alexandria na hierarquia das Igrejas ortodoxas foi determinado nos Concílios Ecumênicos. O 1º Concílio Ecumênico teve para a Igreja de Alexandria importância significativa – com o 6º cânon foi ratificada sua habilitação jurisdicional. O bispado de Alexandria foi elevado ao 2º lugar na hierarquia entre as Igrejas, logo após Roma. O 2º Concílio Ecumênico concedeu o segundo lugar a Constantinopla. Os alexandrinos a princípio não quiseram concordar com isso. O 4º Concílio Ecumênico com o cânon 28 ratificou a atual ordem das cátedras patriarcais. Infelizmente, neste concílio muitos cristãos de Alexandria não aceitaram o dogma sobre as duas naturezas de Cristo e pronunciaram-se a favor da heresia do monofisismo. Disputas dogmáticas por muitos anos consumiam a comunidade egípcia. Dividiram-se no momento em que mais precisavam se unir em face ao iminente perigo vindo do oriente.
Um período muito difícil da história do patriarcado de Alexandria foi o do domínio árabe nos anos 642-1517. Todos os cristãos independentemente do grupo a que pertenciam, sejam os ortodoxos ou heréticos, foram englobados no chamado “Sistema de Omar”. Este sistema dizia que os cristãos constituíam uma camada inferior da nação e que eram elemento estrangeiro no Egito. Foram determinados para eles impostos fixos e pesados, e eram ainda obrigados a pagar diversos tipos de impostos adicionais. Foram confiscados deles vários templos e foram privados da liberdade civil. Foram fechadas escolas, bibliotecas e até mesmo hospitais. Bizâncio não pode acomodar-se com a perda do seu celeiro (o Egito). Foram organizadas várias expedições com o objetivo de libertação do Egito, que terminavam sem sucesso e com novas sansões para os cristãos. Os cruzados também não conseguiram libertar o norte da África.
Depois do domínio árabe seguiu-se a dominação turca. Em 1517 o exército turco do sultão Selim I, o Magnífico (1512-1520) subordinou a si todo o Egito. Para os cristãos isto implicava em muitas mudanças. O califa turco concedeu ao patriarca de Alexandria, Joaquim (1487-1567) acordo reconhecendo sua dignidade e privilégios, assim como assegurando aos cristãos liberdade de desenvolvimento sob a condição de que os cristãos se tornassem súditos fiéis. Graças a essas mudanças e atividade do próprio patriarca, a Igreja começou a desenvolver-se. Foram construídas novas igrejas e reformadas as antigas. As estruturas administrativas da Igreja sofreram reformas. Foram restabelecidas as atividades educacionais e editoriais. Não significava, entretanto, que a vida dos cristãos na África tornava-se totalmente segura. Já em 1517, quando as forças reunidas de Veneza, Espanha e Roma derrotaram a frota turca, nos quadros da repressão revanchista foram fechados a maior parte dos templos, aumentados os impostos, limitados os direitos da população, o próprio patriarca temporariamente teve que mudar-se para Jerusalém.
Em 1590 Melecius Pigas tornou-se patriarca (até 1600). O endividamento junto aos turcos (cada patriarca tinha que pagar pesado imposto pela permissão para o exercício da atividade patriarcal) forçava-o a voltar-se para a Geórgia, Creta e Rússia com pedido de ajuda. Com objetivo de estabelecer relações de amizade com a Rússia, participou no sínodo endymus em Constantinopla, que concedeu o status de patriarcado à Igreja Russa.
O maior problema interno que o patriarca Melecius Piga teve que eliminar foi a atividade da ordem dos jesuítas, que foram convidados a Alexandria pelos coptas (monofisitas). O patriarca copta Gabriel VIII, a princípio contra qualquer contato com Roma em 1594 aceitou o primado do papa Clemente VIII. Os jesuítas tinham que apoiar os esforços coptas visando à conversão dos ortodoxos. Entretanto, os jesuítas rapidamente começaram a introduzir uma política própria. O patriarca Melecius conseguiu, então, estabelecer um acordo com os coptas, na força do qual os coptas desistiriam da atividade missionária com relação aos ortodoxos (não conseguiu, entretanto, realizar a unificação dogmática com os coptas, para que o patriarca envidou todos os esforços).
Em 1798 o Egito foi dominado pelo exército francês de Napoleão Bonaparte. Porém, já em 1805 os turcos novamente dominavam o leste da África. Neste mesmo tempo ocorreu o cisma entre os cristãos ortodoxos. Depois da morte do patriarca Hieroteu I, os cristãos do Egito, contra a tradição do século XVII de aceitação de novo patriarca indicado por Constantinopla, independentemente elegeram como patriarca o arquimandrita Hieroteus, aceito pelas autoridades locais. Os colonos gregos opuseram-se a tal comportamento. A pedido deles o patriarca de Constantinopla nomeou para a posição Artemius. Só depois de vários anos encerrou-se o litígio. Constantinopla aceitou a escolha de Hieroteus (Artemius desistiu da pretensão ao trono). O novo patriarca mostrou-se um bom pastor. Colocou muito esforço na elevação da importância da Igreja de Alexandria. Criou novos bispados e conduziu a abertura de representações da Igreja de Alexandria em outros países, por exemplo, Rússia e Romênia.
No ano de 1886 ocorreu a reforma organizacional a administrativa da Igreja, de maneira significativa aumentou a participação do laicato na vida da Igreja, por exemplo, a escolha do patriarca começou a ser decidida por uma assembléia geral do país. A segunda metade do século XIX trouxe também para o patriarcado de Alexandria uma série de outras mudanças. Depois da insurreição árabe de 1882 – sob o mote “Egito para os egípcios” – a cidade foi ocupada pelo exército inglês. O governo egípcio convocou-o com a participação de grande parte da população de origem árabe. Isto visava facilitar a “arabização” do patriarcado. Até, então, os gregos tinham maior influência na escolha do patriarca e na tomada de decisões. Os árabes começaram a exigir que fosse aceita e considerada também a opinião deles. O governo também queria ter influência na escolha do patriarca. Finalmente, foi decidido que a Igreja iria escolher três candidatos e as autoridades designariam um entre eles como patriarca. O primeiro patriarca escolhido desta maneira foi Melecius Metaksatis (1926-1935). Ele criou uma série de instituições, que melhoraram o trabalho do patriarcado: proibiu a ordenação de candidatos a sacerdote que não possuíssem formação teológica, fundou o seminário de Santo Atanásio, regularizou os direitos e privilégios do patriarca e aumentou-os, em 1934 e submeteu-os à aprovação nacional com o documento: “Regulamento do Patriarcado Grego-Ortodoxo de Alexandria”, dinamizou a atividade missionária e educacional. Tentou fazer de Alexandria o centro africano da ortodoxia. No tempo do patriarca Nicolau V(1936-1939) finalmente foi decidido a questão da escolha do patriarca. Ficou decidido, então, que a realização da escolha seria feita por um grupo composto, em igual número, de representantes do clero, leigos de origem grega e leigos de origem árabe (tinha por objetivos tornar a eleição independente da indulgência do governo).
A mais importante obra do patriarca Cristóvão (1939-1967) foi a dinamização da atividade missionária do patriarcado. Foram abertas duas novas dioceses fora das fronteiras do Egito. Foram enviados missionários ao Zaire, Quênia, Camarões e Gana; igrejas ortodoxas foram construídas em Uganda. Alexandria tornava-se a coordenadora da cristianização da África. Seus sacerdotes enfrentaram muitas dificuldades (várias vezes pagavam com a vida por seu fervor religioso) ao levar a luz espiritual a diversas tribos africanas.
O patriarcado de Alexandria atualmente constitui-se de 15 dioceses e aproximadamente 300.000 fiéis. A jurisdição estende-se por toda a África e Malta. O Santo Sínodo composto por 12 metropolitas auxilia o patriarca.
Desde outubro de 2004 o patriarca de Alexandria é Theodoros II. É o 116º patriarca de Alexandria, eleito em 09 de outubro de 2004.
O título oficial do patriarca de Alexandria é: “Sua Beatitude Papa e Patriarca da Grande cidade de Alexandria, Líbia, Etiópia, Todo o Egito e toda a África, Pai dos Pais, Pastor dos Pastores, 13º apóstolo e Juiz do Mundo”.