“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Em busca da felicidade"

Cada um de nós deseja para si a benção da felicidade. Deus nos deu a Terra para uma feliz permanência nela, para que nós vivamos em estado de graça, para que nós participássemos da glória de Deus. Porém freqüentemente somos obrigados a ouvir que a nossa vida não nos traz nenhuma alegria. Um dia após o outro nós acordamos, trabalhamos, cansamos, sempre a mesma coisa se repetindo, tudo nos cansa, é chato e tão cinza ao redor. De fato, se nós prestarmos atenção, nós trabalhamos o dia todo, ficamos preocupados, estressados, magoados, brigamos por causa de bobagens e sentimo-nos infelizes, inúteis e solitários. Dessa forma nós tornamo-nos verdadeiramente infelizes, pois somos escravos de coisas e vivemos mecanicamente e nos subordinamos a uma interminável corrente de fatos. Toda a nossa energia é colocada em coisas insignificantes, que hoje existem e talvez amanhã não existam mais.

A transitoriedade de nossa vida com suas mágoas, julgamentos e invejas, nós consideramos como nossa vida verdadeira. Irritando-nos e magoando-nos nós perdemos a paz interior em nosso coração e submergimos na escuridão. Para nós tudo é desagradável, os amigos parecem inimigos, até a luz do sol parece que não nos ilumina e os pássaros não cantam para nós. Neste estado está escondida de nós mesmos a fonte de nosso bem, de nossa alegria. Nós não conseguimos enxergar nada de bom dentro de nós e nem nos outros. Tudo para nós parece ruim. Por que isso acontece? O que está estragando a nossa vida? Nós estamos vivendo com um coração obscurecido. Nós aceitamos a posse temporária de nós pelas forças escuras — este estado em pecado de nossa alma — na realidade, por nossas culpas. Nós andamos na escuridão e quem anda na escuridão, tropeça. Colado a nós está o pecado e o mal: através da irritação, críticas, raiva e que nos tiram a paz. Relacionando-se com outras pessoas sem paz no íntimo, nós despertamos um estado de conflitos e estranhamento uns com os outros. Sentindo conflito, nós nos sentimos mal, infelicidade e de fato sofremos.

Onde está nos dias da semana o estado de graça e a alegria? Como iluminar a nossa vida? Como achar o caminho para a luz? Deus é a fonte da luz e da alegria, enquanto o mal nos traz a escuridão. Nós nos tornamos escravos do mal. O mal atrai a escuridão para o nosso coração e na escuridão nós enxergamos a vida erradamente. A escuridão de nosso coração distorce a nossa vida. Nós damos passos errados, falamos o que não devíamos, fazemos movimentos inadequados, até não enxergamos mais a aparência real das outras pessoas e avaliamos as pessoas incorretamente, acreditando que o seu estado de espírito temporário é de fato o definitivo. Aceitando a aparência como se fosse realidade, nós nos encontramos num estado que nos leva a uma infelicidade mútua e conflitos. Nossos longínquos antepassados foram criados sem pecado. Desde os tempos do pecado original, parece que o pecado faz parte do nosso estado natural, cola-se a nós e nos mantém como seus escravos. Tudo em nós vem misturado com o pecado e com o pecado nós perdemos a alegria da vida.

Nossa vida tumultuada é o caminho para a vida real de fato. Vamos transformar os meios em metas. Nossos passos reais, oriundos do irreal, carregam consigo o mal, a tristeza e o sofrimento. Nós caminhamos como se estivéssemos dormindo e submersos na escuridão dos pecados e tentações, olhamos e enxergamos somente a escuridão. O demônio impede-nos de ver a luz. Nós nos transformamos em armas cegas das forças escuras, daí sofremos. Nós nos tornamos não criadores da vida, mas seus escravos.

Como fazer? É necessário abrir os olhos. Conquistar e receber a graça do bem — é um fato possível. É necessário apenas esforçar-se para receber estas preciosidades. Este é um tesouro dentro de nós e ao redor de nós.

Nós queremos viver felizes e bem. Mas o que nós fazemos para conquistar isso? Até as orações matinais e noturnas não descortinam perante nós o nosso estado lamentável. É indispensável, que nós entremos no significado das orações e então encontraremos a consciência de nossos pecados e a certeza da misericórdia de Deus. Essas orações determinam toda a nossa vida e atividade e apontam o que devemos fazer e o que devemos evitar.

Nas orações noturnas e matinais nós estamos frente à face de Deus e examinamos a nós próprios. Essas orações nos mostram para nós mesmos. É importante que aquele pouco que é destinado a nós durante o dia, nós iluminemos com a razão de Deus.

Nossa alma existe para a eternidade e nós simplesmente não nos preocupamos com ela. Nós nos esforçamos em conquistar os mais diversos tesouros, menos o tesouro da eternidade. Nós somos maus negociantes e valorizamos muito pouco nossa alma. Mas não existe nada mais precioso que a nossa alma. Nós adquirimos somente o que não tem nenhum valor na eternidade, porém aquilo que é valioso na eternidade nós não adquirimos. Isso acontece porque, tudo em nós é confuso, todas as preciosidades desequilibradas: o pecado obscureceu nossa mais verdadeira harmonia das coisas. Quando nós de fato percebermos toda a ilusão e erros de nossa vida, então ocorrerá de verdade um ótimo acordo. O ser humano frente à luz de Deus começa a colocar ordem no tumulto de sua vida e esforça-se em direção ao bem e o eterno.

É importante para que cada dia não se encaminhe vazio para a eternidade; é necessário achar preciosidades no dia-a-dia de nossa vida. Cada dia nos é dado para extrairmos um mínimo daquela benção, daquela alegria, a qual na realidade é a eternidade e a qual irá conosco para a vida futura. Para extrairmos preciosidades de cada um dos dias, é necessário relacionarmo-nos criativamente com cada momento de nossa vida. Com criatividade nós podemos superar nossa inércia, livrarmo-nos da escuridão e das tentações que nos dominam. A vitória sobre o pecado leva a uma alegre percepção da vida, conhecimento de Deus e trás junto de nós a experimentação da real vida para a qual foi destinado o ser humano.

Como se aproximar desta vida criativa? A fonte de nossa vida é o coração. Nosso coração é a arena da luta do demônio com Deus e esta luta acontece a todas as horas e a cada minuto. É necessário o tempo todo com muita atenção sentir o coração, perceber as intenções do demônio e combatê-las. Então nós teremos um relacionamento criativo com cada momento de nossa vida. Nós o tempo todo estamos na divisa entre o bem e o mal. Em nossa vontade está inclinarmo-nos para o bem, ou fracos e sem forças submetermo-nos ao mal. O demônio quer nos dominar, mas nós devemos resistir a ele. O demônio nos empurra ao pecado com aparência de bem e nos estimula a coisas, que não são o bem para nós. Ele sob a imagem de felicidade nos empurra para o pecado.

Em cada ser humano há mais bem do que mal, só que o bem está misturado com o mal. Vocês vão dizer para mim: “Mas, como é isso? Por que nós vemos nos outros tanto mal? Um mar inteiro de mal.” O mal está sempre se esvaindo de nós, fica evidente aos nossos olhos, porém o bem está oculto em nós, não está reunido. O mal é agressivo, o bem é modesto. O mal é a escuridão, o pecado, a nossa fraqueza, desunião, infelicidade, morte. O bem é a luz, a união, força, ímpeto, alegria, a vida da alma.

É possível iluminarmos o apático passar de cada dia e horas, fazê-lo alegre, se nós extrairmos da vida o bem, a luz e o calor. Eu devo direcionar corretamente a minha atenção na vida que me rodeia. Se eu conduzir minha visão interna para a luz, então eu a vejo. A atenção concentrada é o maior ato da vida espiritual. Lute, reaja, obrigue-se a encontrar a luz e você a verá. Foi dito: “...Buscai e achareis” (Mateus 7:7). Nosso ser em seus dois terços é repleto de luz, porém essa luz interna não se revela somente a partir de nosso desejo. Vencendo a escuridão, nós trazemos luz ou Deus para o nosso coração. Esse momento já não é mais passivo, mas criativo. É necessário revelar-se criativo. Criando uma nova vida, nós podemos tocar a Fonte da luz, que a tudo ilumina.

O bem é eterno e vindo de Deus a Ele retorna. Esse movimento do bem na direção de Deus é a existência do Reino dos Céus na Terra. É necessário fazer força em relação ao bem e o bem irá na nossa direção. Eu caminho na direção do Deus Pai e o Deus Pai está vindo na minha direção (parábola do filho pródigo). Expulsando o demônio de nosso coração, nós liberamos lá um espaço para Deus. Deus entra em nosso coração e reina nele, com o que se estabelece o Reino dos Céus. Ele é uma benção real na Terra — essa alegria vem pelo Espírito Santo. Então em nós descortina-se a vida celeste e o ideal se torna real. Nós rezamos: “e venha a nós o Vosso reino” — pois isto é um fato real. A permanência no combate com o pecado é um estado na luz, na santidade, que tem como fonte o Espírito Santo que vem da Fonte da Luz — Deus. Por isso o apóstolo Paulo determina que “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e gozo no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Neste estado o ser humano une-se a Deus e sente a alegria pelo Espírito Santo com todo o seu ser. Isso é porque o ser humano está voltando para Deus — seu Pai, e o seu lar.

A felicidade não pode ser obtida desrespeitando as Leis da vida, através do pecado. Como então começar a combater o pecado? É necessário encontrar a força necessária, que destrói e enfraquece o pecado. É necessário unir-se com a fonte da força do bem — Deus — rezar a Ele pedindo ajuda a nós, pois a força que nos domina enfraquece nossas tentativas e sem a ajuda de Deus nós não temos condições de alterar nossa natureza pecaminosa.

Deus está sempre perto, imediatamente vem ao nosso encontro e nos ajuda. Por meio de uma pequena súplica a Deus, com as palavras: “ Senhor, me ajude,” no instante que estamos reféns da força escura, nós da não existência para a existência clamamos pela nossa vida. Voltar-se para Deus é um ato de vontade, dirigido a Fonte da luz. O pensamento de voltar-se para Deus no momento de escuridão no coração: (irritação, raiva, inveja ou outra tentação qualquer), demonstrada pelas palavras: “Senhor, me ajude,” atravessa o espaço entre a Terra e o céu. No momento do chamado, de lá do Céu, invariavelmente vem a força necessária ao coração e que por uma luz dispersa a escuridão. O pensamento em Deus é a ação do Espírito Santo em nós. Chamando por Deus, nós através da vontade nos encaminhamos para uma nova parte da existência, o que já é um esforço especial, mas ele, o pensamento, vem junto com a luz de Deus. Voltando-nos para Deus — com a Palavra, nós recebemos em resposta a luz Divina, que surge como uma estrela condutora em nossa vida. Essa Luz desperta a vida — a energia do bem e então o ser humano cria condições para germinar nesta terra indiferente e congelada.

O momento quando chamamos o nome de Deus é o condutor da luz para dentro de nossa alma. Parece uma coisa pequena falarmos: “Deus me ajude,” mas perante nós é como se abrisse o céu expondo a morada de Deus e lançando luz, transfere-se a nós, enquanto nós mergulhamos na eternidade. A própria eternidade penetra em nossa vida, como que num momento, nos aproximando da fonte de luz. Esta luz colhe em nós as sementinhas do bem — no caos existente entre o bem e o mal, característico da nossa vida habitual. Deus começa a reinar em nosso coração e com isso estabelece-se o Reino de Deus — a alegria e a paz.

No processo da luta com o pecado é como se nós renascêssemos: de irritadiços tornamo-nos calmos, de avarentos — generosos, de maus — bons, de cruéis — bondosos, de atormentados — ponderados. Em nós surgem novos sentimentos e preocupações. Em nós abre-se a visão. A escuridão de nosso coração é trocada pela luz e isso é um milagre que vem através da força de Deus. Isto é renovação, o afastamento do antigo ser humano (pecaminoso) e a construção do novo — nova criatura — transformada. O eterno, o celeste entra em nossa vida e nós exatamente com isso entramos na eternidade. Ao ser humano é dada uma força imensa - com a ajuda de Deus para transformar a vida de pecado numa nova, construir o Reino de Deus na Terra. O Espírito Santo começa a agir em nós, e o fruto do Espírito: “...a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a continência, a castidade...” (Gálatas 5:22). Cada ser humano então se torna como que milagroso, pois vencendo o pecado, ele faz um milagre, encontrando dentro de si, Deus. Nós começamos a perceber toda a miragem que antes envolvia nossa vida.

Sem chamarmos a Deus e seguí-Lo nós não conseguiremos escapar da escravidão das coisas e situações, das quais tornamo-nos servos. É necessário o mais freqüentemente possível iluminar nosso cotidiano com a luz de Deus, como que abrindo uma janelinha dentro do céu, para que a luz do céu derrame-se para dentro de nosso coração. Quanto mais nós tivermos momentos assim luminosos, mais freqüentemente a nossa vida será iluminada com a luz de Deus. O mundo irá adquirir a sua beleza verdadeira e o ser humano a sua vida real e desfrutar a alegria da vida. O cristianismo não é a religião do sofrimento, mas a religião da alegria e bênçãos. O apóstolo Paulo diz: “Estai sempre alegres” (Tessalonicences 5:16). Isso é o começo daquela benção da qual se diz: “Nem o olho o viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Corifeus 2:9).