“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

ok

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dormição da Toda Santa, Toda Pura Mãe de Deus e sempre Virgem Maria - 15/28 agosto

Eis o que a Igreja recebeu da antiga tradição patrística, em relação à Dormição da Toda Santa Mãe de Deus: Chegado o tempo em que era agradável a Nosso Senhor conduzir para junto de Si sua divina Mãe, Ele anuncia-lhe, através ao arcanjo Gabriel, três dias antes, de sua passagem desta vida transitória à vida eterna e bem-aventurada. Ouvindo a mensagem, a Virgem dirigiu-se ao monte das Oliveiras para orar e agradecer a Deus. Depois retorna à sua casa e prepara o necessário ao seu enterro. Entretanto, os Apóstolos, avisados pelo Espírito Santo e transportados em nuvens luminosas, reúnem-se – vindos das mais diferentes extremidades da terra, onde se encontravam, dispersos, a pregar o Evangelho – na casa da Santa Virgem. Ela lhes explica, então, a razão daquele chamado tão inesperado, os consola maternalmente e depois levanta as mãos aos céus, ora pela paz no mundo, abençoa os apóstolos e, subindo ao leito, cruza os braços e rende assim sua alma toda santa às mãos de seu Filho e seu Deus.

Os Apóstolos conduzem o seu santo Corpo e o enterram em Gethsêmani. Porém, três dias mais tarde, durante uma reunião onde, segundo o hábito, partiam o pão em nome de Jesus, a Virgem lhes aparece no Céu e lhes diz: “Salve!” Eles assim ficam sabendo que ela subira aos céus com o seu corpo.

A festa de hoje tem por origem o aniversário da dedicação de um Santuário da Virgem, situado entre Jerusalém e Belém, que comemorava, talvez, uma “estação” onde, segundo as tradições, a Virgem Maria, fatigada da viagem, teria repousado antes de chegar a Belém para dar a luz à criança.

A primeira evidência clara acerca dessa festa remonta à época do 3° Concílio Ecumênico em Éfeso (431). No entanto, essa evidência refere-se a uma festa pré-existente da Dormição de Maria. No início do V° século, por exemplo, uma antologia armênia chama o 15/28 de agosto “o dia de Maria, a mãe de Deus.” Porém, festas desse tipo tanto no Oriente quanto no Ocidente eram dedicadas à memória de Maria em geral e não à sua Dormição, em particular. Gradualmente, entretanto, essas festas começam a convergir para o dia presumível de sua morte, 15/28 de agosto, talvez como resultado indireto da construção, em Gethsêmani, de uma igreja em sua honra, que incluía seu próprio túmulo, segundo a Tradição. Ao final do século VI°, no entanto, a festa de Dormição foi estendida a todo império bizantino, pelo imperador Maurício.

Tropário da Dormição da Santa Mãe de Deus
“Conservando intacta a glória da Tua virgindade, Tu geraste e deste à luz o Verbo de Deus. Na Tua Dormição, Tu não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus. Tu foste transferida para a vida, sendo a Mãe da Vida e, pelas Tuas orações, Tu resgatas as nossas almas da morte”.
Boletim Interparoquial, agosto de 2007

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

OrtoFoto

Rússia
autor: Cosmin Nicu

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Sobre a Relação do homem com o Deus Pessoal"

O Senhor havia dito a Pilatos: “Eu vim ao mundo para testemunhar da Verdade”. Pilatos havia replicado, de forma curta: “O que é a verdade?”, e seguro de que não havia resposta a tal questão, nada esperando de Cristo, sai de Sua presença e dirige-se aos judeus que estavam do lado de fora. Em certo sentido, Pilatos tinha razão; se por verdade entende-se Verdade enquanto fonte de tudo aquilo que existe, a questão: “O que é a Verdade?” não pode ter resposta.

Mas, no entanto, referindo-se à Verdade primária ou a Verdade em si, se tivesse posto sua questão de forma como a qual deveria ter sido posta: “Quem é a verdade?”, ele teria recebido em resposta a palavra que, há pouco tempo então, prevendo a questão de Pilatos, o Senhor havia dito durante a Santa Ceia aos Seus Discípulos Bem Amados e, por eles, ao mundo inteiro: “Eu sou a Verdade” (Jo.14,6;18,327-38).

Enquanto a ciência e a filosofia põem em questão: “O que é a verdade?”, uma consciência autenticamente cristã está sempre orientada à verdade pessoal: “Quem é a Verdade?”.

Os representantes da ciência e da filosofia vêem, geralmente os cristãos como sonhadores e consideram-se, eles próprios, como fundamentos estabelecidos sobre uma base sólida, e, com isso nomeiam-se “positivistas”. Coisa estranha, eles não compreendem a que ponto sua concepção de verdade impessoal é negativa; eles não compreendem que a verdade autêntica e absoluta só pode ser uma Pessoa, um Sujeito, “quem?”, e não um objeto, “o que?”, porque a verdade não é uma fórmula ou uma idéia abstrata, mas a Vida em Si, “Eu Sou Aquele que é” (Ex.3,14).

De fato, o que poderia haver de mais abstrato e de mais negativo que uma verdade impessoal, um “que?” Nós encontramos esse paradoxo em todo o desenvolver histórico da humanidade após a queda de Adão. Fascinada pela sua razão, a humanidade vive uma espécie de vertigem. Desta forma, a ciência “positiva” e a filosofia não são, elas, as únicas a indagar, tal como Pilatos: “O que é a verdade?”, mas poderíamos observar esta mesma tendência na própria vida religiosa da humanidade. Mesmo lá, os homens estão constantemente inclinados à busca de uma verdade “objetiva”.

A razão humana presume que desde que ela tenha possessão desta verdade objetiva, desfrutará de poderes mágicos e tornar-se-á mestra da existência cósmica.

Na vida espiritual, o homem que emprega a via da busca racional cai inevitavelmente em uma forma de panteísmo. cada vez que um teólogo tenta conhecer a verdade sobre Deus pelas suas próprias forças, estando consciente ou não, ele cai fatalmente no mesmo erro que a ciência, a filosofia e o panteísmo; à saber: a busca de um princípio universal trans-pessoal.

A “Verdade-Pessoa” não pode, de forma alguma, ser conhecida pela razão. o Deus pessoal só pode ser conhecido por Revelação (Mt.11,27) e comunhão existencial, o que quer dizer, pelo Espírito Santo.

O próprio Senhor fala assim: “Se alguém Me ama, guardará a Minha Palavra, e meu Pai o amará, e viremos para Ele e faremos n`Ele morada” e ainda “mas aquele Consolador, o Espírito Santo que o Pai enviará em Meu Nome, Esse vos ensinará todas as coisas” (Jo.14,23e26). O starets Silouane reforçava constantemente isso.

A tradição ascética ortodoxa rejeita, como errônea, a via da contemplação abstrata. Aquela cuja meditação religiosa estaciona-se à contemplação abstrata do Bem, da Beleza, da Eternidade, do Amor, etc... Faz falsa rota, caminha por estrada falsa. Aquele que não rejeita todas as imagens e os conceitos empíricos ainda não encontrou a Via Verdadeira.

A contemplação ortodoxa não é uma contemplação abstrata do Bem e do Amor. Ela não é mais do que um simples rejeitar pelo intelecto todas as imagens e os conceitos empíricos. A verdadeira contemplação é concedida por Deus, pela Sua vinda à alma; e então a alma contempla Deus e vê que Ele Ama, que Ele é Bom, que Ele é Belo, que Ele é Eterno; ela vê Sua transcendência e seu caráter inefável.

A verdadeira via espiritual não se situa sobre o plano da imaginação. Ela é plenamente concreta e positiva. A verdadeira comunhão com Deus só pode ser buscada por uma oração pessoal dirigida ao Deus pessoal. A verdadeira experiência espiritual cristã é uma comunhão com um Deus absolutamente livre, ela não depende, então, somente dos esforços do homem, nem da sua vontade, tal como nas experiências não cristãs.

Nossas palavras eram impotentes a descrever aquilo que tanto nos tocava nos relacionamentos com o starets. Apesar de toda a sua simplicidade e a doçura da conversação, sua palavra era extremamente eficaz, tal como uma fonte que jorra de uma profunda experiência da existência, tal como a palavra de um homem que porta verdadeiramente o Espírito da Vida.

A aparição de Cristo ao starets Silouane foi um encontro pessoal, tal como sua orientação a Deus, tomou um caráter profundamente pessoal. Quando ele orava, ele orava com Deus face a Face. A percepção do Deus pessoal purifica a oração da imaginação e das especulações abstratas, e a faz penetrar ao interior de uma comunhão viva e íntima. Concentrando-se no interior, a oração deixa de ser um “apelo no espaço”, o espírito se recolhe e põe-se à escuta. Quando ele invocava a Deus pelos nomes divinos – Pai, Senhor e outros – o starets encontrava-se em um estado que “não convinha o homem falar” (IICo.12,4); mas aquele que já teve ele próprio a experiência da presença do Deus vivo, compreenderá.

Um venerável asceta do mosteiro, Padre Trófimo, observa este estado no starets Silouane; o que provocava nele tal temor e perplexidade, os quais ele nos fez saber após a morte do starets.

Tendo chegado a questão da oração “face à face”, que marca, à nosso parecer, o princípio da percepção no homem da “imagem de Deus”, parece-nos necessário aportar alguns esclarecimentos concernentes a este aspecto de nossa vida espiritual.

A última etapa da Revelação é aquela do Deus Pessoal, Hypostático. O Deus Hypostático só pode ser conhecido por Revelação, que toma forma através de uma manifestação de Deus ao homem em uma comunhão imediata “face à Face”. Normalmente, esta revelação é concedida ao homem em oração; na sua realidade, a mais profunda, uma tal oração é a energia do próprio Deus agindo ao interior do homem. É indispensável - a fim de retomar os termos do starets Silouane – que “Deus, é primeiramente quem nos procura e Se manifesta a nós”.

Quando o Deus Hypostático Se revela ao homem, não sendo ainda “como em um espelho” (IICo.3,18), surge, então, no homem, tal como uma nova luz, a tomada de consciência de seu próprio caráter hypostático, no qual se reflete, antes de tudo, “a imagem de Deus”.

Ao homem “revestido de carne e vivente no mundo” é dado principalmente a experiência de sua individualidade limitada. O surgimento nele de uma nova dimensão da sua consciência é pressentido como um “nascimento do Alto” (Jo.3,3), em virtude do qual sua oração franqueia os limites de tudo aquilo que é temporal e material, então o homem sente com força que ele é introduzido na Eternidade divina.

A manifestação do Deus Hypostático ao homem fá-lo tomar consciência de que o princípio hypostático é o modo de existência do Absoluto, do Eterno, que a Hipóstase não é uma dimensão limitativa, mas que ela é Aquele que vive realmente: “Eu Sou” (Ex. 3,14; Jo.8,58). Fora desta dimensão do Deus Hypostático, nada existe e nem pode existir. Em Deus não há “essência” que se situaria para além da Hipóstase. É por isso que a oração dirige-se ao Deus Hypostático. Ela não é uma busca orientada à uma essência trans-pessoal.

Este conhecimento nos revela que somos hipóstases criadas, dotadas da liberdade de uma autodeterminação que podemos exercer, seja negativamente, seja positivamente, à guisa do nosso Modelo primário. Neste caso presente fazemos referência à segunda hipótese.

Uma hipóstase livre, não determinada, só pode ser criada como uma pura potencialidade que deverá, atualizar-se. Desta forma, não somos nós ainda plenamente hipóstases; à partir de uma existência “atomatizada” passamos por um processo mais ou menos longo de atualização do modo hypostático de nossa existência. Não devemos confundir a noção de pessoa – hipóstase – com aquela de indivíduo. Pois que estes são os dois pólos opostos do ser humano. Um exprime o ponto extremo de finalização da divisão (em grego, indivíduo chama-se “átomo” – sendo um estado resultante da queda); o outro se refere à “imagem de Deus”, segundo a qual Adão foi criado e no seio do qual estava potencialmente concentrada toda a humanidade. É esta “imagem” que nos foi revelada pelo Verbo Encarnado. Em razão daquilo que vem a ser dito, quando pensamos em Deus, não projetamos o conceito limitativo do indivíduo sobre o Ser divino para, em seguida, negar n´Ele o momento hypostático e, por conseqüência, tender a um Absoluto suprapessoal. O movimento do nosso espírito se exprime na oração “face a Face”, o que quer dizer, da hipóstase criada dirigida à Hipóstase de Deus. Torna-se essencial desenvolver no homem seu princípio hypostático; iremos brevemente falar de vias que conduzem a estes objetivos.

Nós todos fomos chamados do nada à vida, somos postos em tempo e espaço relativos. Imagem do Deus Absoluto, o espírito do homem sente-se limitado no que concerne a este mundo material; ele se sente atado, tal como um prisioneiro condenado à morte. Os sofrimentos de seu espírito podem tomar a forma de um desespero, donde nasce uma oração que jorra com uma nova intensidade, com uma esperança para além de toda e qualquer esperança (Rm.4,8). Pode-se dizer que, para todos nós, filhos de nossa época, a experiência de um tal desespero é indispensável na realização do nosso nascimento para a eternidade*.

Após a sua vinda ao mundo, o homem se instrui junto de seus pais, seus amigos e seus mestres; tornando-se maior, ele procede com ardor em tudo aquilo que pode lhe aportar novos conhecimentos. Porém, mais cedo ou mais tarde, ele chega a conclusão de que o conhecimento “científico” não somente não o faz sair das dimensões do tempo e do espaço relativos, mas, ao contrário, sujeita mais estreitamente ainda sua consciência ao aspecto determinado da existência do mundo. O refúgio de nosso espírito em aceitar a morte como absurda, como retorno ao nada, faz nascer nele uma ardente oração e o incita a buscar nos livros sagrados o conhecimento do Eterno. Todavia nenhuma escola, sendo ela escola de teologia, nem um livro qualquer, mesmo a Santa Escritura, seriam suficientes, sem uma extrema tensão de nosso ser na oração pura, para levar o homem à certeza interior de que ele foi ouvido por Deus e admitido na Sua Eternidade.

Uma tal oração “desesperada” é seguramente um Dom de Deus. Ela nos transporta aos confins do tempo e da eternidade. O tempo, literalmente “esquecido” fica pára trás, e o olhar de nosso espírito volta-se inteiramente à eternidade. Uma tal transferência de nosso espírito ao “fim dos tempos”, na oração, abre nossa inteligência à compreensão de numerosas expressões da Santa Escritura que, até então, pareciam paradoxos. Eis aqui alguns exemplos: “Um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (IIpe.3,8); “...fostes resgatados... com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de nós” (IPe.1,18-20); “ora tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (ICo.10,11); “Como também nos elegeu n´Ele antes da fundação do mundo” (Ef.1,4); “Escrevo-vos porque conhecestes Aquele que é desde o princípio” (IJo.2,13).

Qual o sentido destas expressões: “Últimos tempos” ou “fim dos séculos”? ou ainda, qual é o significado nos textos litúrgicos das seguintes expressões: “E Tu nos fizeste dom de Teu Reino Eterno” (Cânone da Liturgia de São João Crisóstomo); “Nós vimos a imagem da Tua Ressurreição e fomos saciados da Tua vida sem fim” (oração de conclusão da Liturgia de São Basílio).

Em razão de sua proximidade imediata com a Hipóstase divina do Verbo, ainda em vida sobre a terra, os apóstolos permaneceram por seus espíritos igualmente na eternidade. Para eles, tal como para todos e qualquer outro homem que conheceu por experiência um estado semelhante, o tempo toma fim. A idéia neotestamentária do tempo difere da concepção do tempo de Newton, de Einstein ou de outros diversos tipos de filósofos e gnósticos. Para os apóstolos, o tempo torna-se semelhante a um “espaço” o qual podemos franquear e “onde” é possível o primeiro encontro como o Criador. Observamos que a certos homens foi concedido de “ver o Reino de Deus vindo com poder, antes que provassem a morte” (Mc.9,1). É precisamente a estes homens que pertencem as expressões já antes reportadas.

No início, é Deus, o primeiro a nos buscar e a nos revelar a Sua Face; sem exercer violência alguma, Ele atira o homem na Sua Eternidade, mas em seguida, pode, novamente, o fazer “retornar” aos limites do tempo. Não nos parece haver outra explicação a este “retorno” do que a possibilidade oferecida ao homem de manifestar no ato de sua vida terrestre seu conhecimento d´Aquele que é (IJo.2,13), de ser testemunha de Seu amor pelos homens. Quanto ao homem, ele vive seu retorno como um “exílio longe do Senhor” (cf.IICo.5,6), como uma retirada da Graça, a sede de encontrar a plenitude da união com Deus incita a um esforço quem, enquanto um agir humano, torna-se seguidamente uma ciência, uma arte e uma cultura ascéticas. Para muitos homens da nossa época, esta cultura está perdida, ela tornou-se-lhes estranha, incompreensível.

A cultura ascética ortodoxa reveste-se de muitos aspectos: entre os quais se encontra a obediência monástica, ou mais exatamente, cristã. Como complemento do que dizemos acerca da obediência em outras partes deste livro, tentaremos aqui formular alguns pontos essenciais relativos aos sentidos e aos resultados desta obra. Tal como toda grande cultura, a obediência conhece variados níveis segundo a estatura espiritual daquele que a observa. De início, ela pode revestir o caráter de um abandono, por assim dizer passivo, da vontade diante do pai espiritual, em virtude da confiança que temos nele e em vista de um melhor conhecimento da vontade divina. Em uma forma mais perfeita, ela é uma atividade positiva de nosso espírito do seu esforço para realizar os mandamentos de Cristo, o qual amou infinitamente o mundo. Podemos caracterizar as disposições interiores de um discípulo que fez progressos, dizendo que ele deve tender sua atenção e sua vontade a fim de satisfazer o mais profundamente possível o pensamento ou a vontade de uma outra pessoa, e em seguida, de realizar, um ato de amor espiritual, o ideal ou a vontade de seu irmão. Por um tal ato de obediência, o coração daquele que obedece abre-se, seu espírito enriquece-se; uma nova vida penetra em sua alma. A um estado último, a obediência leva a compreender com mais sutileza cada homem, a perceber nele a imagem de Deus, o que denota no próprio discípulo a maturação de sua “humanidade”. São João o Evangelista escreve: “Se alguém diz: eu amo a Deus e aborrece seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu irmão” (IJo.4,20-21). “Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos” (Jo.14,15).

A mesma estrutura é encontrada sobre o plano da obediência. Aquele que tem amor pelo seu irmão, deseja naturalmente realizar sua vontade, apagando-se diante dele; mas se nós não somos humildes diante de nosso irmão e não somos obedientes nas coisas relativamente secundárias, como seríamos então humildes diante de Deus e O obedeceríamos nós o mandamento de amar nosso próximo como à nós mesmos, ou de amarmos nossos inimigos? Desta forma, a ascese da obediência é indispensável não somente em relação a Deus, mas ainda em relação ao nosso irmão, quando este nos pede algo de possível e que não se oponha ao espírito dos mandamentos de Cristo. A crucificante ascese da obediência ao irmão afina igualmente em nós a capacidade de perceber mais profundamente a vontade de Deus, E isto nos torna semelhante ao Filho Único do Pai; o espírito do homem torna-se capaz de assumir toda a humanidade, quer dizer, torna-se universal à semelhança da universalidade divina de Cristo. Sem esta cultura da obediência, o homem permanecerá inevitavelmente egoísta, sempre miserável diante da face da Eternidade. Qualquer que seja o nível de educação de um homem, sem obediência evangélica o acesso ao seu mundo interior é solidamente barrado, e o amor de Cristo não pode aí penetrar nem o impregnar de Sua presença.

O homem psiquicamente doente não é capaz de satisfazer o pensamento nem a vontade de uma outra pessoa. Por conseqüência, a ausência de disposição a obedecer em um homem é o mais seguro indício de sua doença psíquica*. Sem obediência o homem permanece sempre no sulco estreito de seu individualismo egoísta, oposto ao princípio da pessoa. Fora da cultura cristã da obediência, o princípio hypostático não se desenvolve nos homens, e eles ficam surdos e cegos à Revelação divina que nos foi dada pela Encarnação do Logos, que manifesta sobre o plano histórico nossa imagem pré-eterna. A partir disto podemos dizer que fora da cultura cristã da obediência a teologia verdadeira habita inacessível em suas últimas profundezas. Nós temos em vista a teologia compreendida como um estado de comunhão com Deus e não como uma erudição que pode estar extremamente afastada da vida verdadeira*.

Grande é a ciência da santa obediência. É nos indispensável orar, para que nossos olhos espirituais abram-se e possam ver a sua grandeza e sua santidade. Lembramo-nos como o starets Silouane, quando falava desta via oculta nos mandamentos de Cristo, saciava-se de um humilde sentimento de ternura diante da grandeza da vida que nos é dada em Deus.

Eis ainda uma remarcável conseqüência da ascese da obediência; aprendendo a perceber tanto os pensamentos como as vontades das outras pessoas, o discípulo aprende simultaneamente a viver seus diversos estados não somente como “os seus” próprios (individuais), mas ainda como uma forma de revelação daquilo que se passa na humanidade. Cada um dos seus confrontos, de suas dores, de seus sofrimentos físicos ou morais, tal como cada um dos seus sucessos ou de suas alegrias, ele as vive não somente nele próprio, egoisticamente, mas em espírito, ele se transporta nos sofrimentos ou nas alegrias de todos os homens; pois a cada instante, milhares de homens encontram-se em um estado semelhante ao seu. Isto o conduz naturalmente à oração pelo mundo inteiro. Orando pelos vivos, ele partilha a alegria de seu amor ou de suas assustadoras trevas.

Estando enfermo, ele ora por todos os doentes do mundo, sofre os leitos daqueles que estão imersos na solidão e indefesos diante da frieza da morte. Lembrando-se dos mortos, ele se transporta em espírito na noite dos séculos passados ou pôe-se sobre a invisível, mas temível, via pela qual passam, a cada dia, centenas de milhares de almas que deixaram seus corpos, na maioria dos casos, após uma dolorosa agonia. Desta forma, desenvolve-se na alma do discípulo a compaixão cristã por toda a humanidade; do Adão total, quer dizer “hypostático”, à imagem da oração de Cristo no Getsêmani. Através de uma tal oração, ele ressente sua unidade como toda a humanidade, e amar ao seu próximo, quer dizer, a cada ser humano, torna-se para ele natural. Este gênero de oração contribui ativamente para a salvação do mundo; cada cristão deve assim tender, mais em particular aqueles que estão nas ordens sagradas aquando da celebração da Divina Liturgia.

Não percamos de vista que a vida de ascese e de oração está ligada de uma maneira mais estreita à nossa consciência dogmática, quer dizer, à uma contemplação correta da Revelação que nos foi feita do Deus Uno em Três Hypóstases. Nós somos criados à imagem do Deus Trinitário e somos chamados à uma livre auto-determinação. Deus revela-Se ao homem e “espera” dele uma resposta ao Seu amor; Ele espera que nós mesmos, nós queiramos ser semelhantes a Ele. Do caráter de nossa resposta depende toda a nossa eternidade. Eis que nosso propósito era a obediência, retornemos ao nosso tema. Nós estimamos necessário sublinhar que a perda da teologia ortodoxa concernente ao princípio da Pessoa conduz inelutavelmente, ao conceder a pré-eminência ao “comum” sobre o “particular”, a buscar algum “princípio trans-pessoal”. Neste caso não usaríamos de obediência em relação a um homem, à uma pessoa, mas uma submissão “à lei”, à “regra”, à “função”, à “instituição”, etc... Refleti sobre aquilo que vos foi dito e vereis que com uma tal maneira impessoal de abordar a estrutura da sociedade humana se perde o autêntico sentido da obediência cristã expressa nos Mandamentos de Cristo, e que no seu lugar intervém a “disciplina”. esta última é indispensável e inevitável quando os homens vivem juntos, mas somente a um certo limite. A perda da obediência cristã não será compensada por nenhum sucesso.

Ensinamento do Staretz Silouane
pelo Arquimandrita Sofrônio
Boletim Inerparoquial, setembro 2002

OrtoFoto

Mosteiro de Ostrog - Montenegro
autor: Иван Петровић

sábado, 9 de agosto de 2008

História Resumida do Patriarcado de Moscou

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas

O batismo da Rússia em 988 não foi o início de sua cristianização, mas o começo de um processo bastante longo de penetração do cristianismo na região às margens do rio Dniepr. Segundo a tradição da Igreja o primeiro anunciador da fé em Cristo no território da futura Rússia foi o apóstolo André. Ele teve que assentar a cruz nos montes de Kiev e predizer que chegariam os dias em que lá reluziriam as cúpulas de numerosas casas de Deus. Claro que não possuímos nenhum monumento do cristianismo dos primórdios deste tempo (sabemos ser verdade que foram enviados para a Criméia no tempo das perseguições muitos cristãos, entre outros São Clemente, o terceiro bispo de Roma). Entretanto, a costa norte do Mar Negro sempre esteve na órbita dos interesses do Império Bizantino. Enviaram uma missão cristã sob a supervisão de São Constantino (Cirilo) para o país dos tártaros, que se estendia desde os Cárpatos até depois dos Montes Urais. Particular importância também merece o batismo dos russos efetuado nos anos 60 do século IX, no governo dos príncipes Askold e Dir. Provavelmente, entretanto, limitou-se a unicamente ao cortejo dos príncipes. Sob o governo dos príncipes Oleg e Igor (primeira metade do século X) o cristianismo começa cada vez mais intensamente penetrar abaixo do rio Dniepr. Depois da morte de Igor em 945 assume o poder na Rússia a princesa cristã Olga (batizou-se me Constantinopla, embora antes já tivesse seu capelão pessoal). No governo de seu neto Vladmir em 988 a Rússia finalmente aceitou o cristianismo. Nas mais importantes cidades foram estabelecidos bispados e foram conduzidas missões internas. No decurso de menos de um século cristianizaram os mais distantes recantos do país.

Período importante, embora muito difícil na história da Igreja Russa foi o domínio dos mongóis. Depois de três devastadoras expedições (1237-1241) eles conquistaram toda a Rússia, com exceção dos principados mais ao norte. Kiev e outras cidades maiores foram totalmente incendiadas. Milhares de pessoas foram assassinadas ou levadas em escravidão. Salvaram-se unicamente Nowogród e Psk. Os mongóis depois da finalização da conquista mostraram uma relativa tolerância com a Ortodoxia. Libertaram os metropolitas de Kiev com a condição de pagarem impostos e permitiram a eles andar livremente por todo o país. Ao mesmo tempo para a cátedra metropolitana convocaram de igual modo russos e gregos. Um deles de nome Teognost (1325-1352) no ano de 1328 decidiu trazer definitivamente a sede da metropolia da destruída Kiev para Moscou, o que iniciou a formação da metropolia de Moscou. Desde metade do século XIV Moscou tornou-se o principal centro de renascimento religioso e nacional.

No reinado do príncipe Demétrio de Moscou (1359-1389), na batalha de Kulikowy Polu (1380) o exercito tártaro-mongol sofreu uma derrota. A vitória, entretanto, não pôs fim ao domínio tártaro. Os mongóis continuamente mostravam-se fortes e impuseram à Rússia sua soberania. A vitória na batalha de Kulikowy Polu desempenhou um importante papel na história da Rússia, porque abalou a convicção da impossibilidade de derrotar os invasores.

O século XV foi para a Rússia tempo de renascimento espiritual. Nesta época foi iniciada a construção de muitas igrejas e o restabelecimento da vida monástica. Desenvolveram-se, então, os estudos teológicos, enquanto a arte da iconografia atravessou seu século de ouro. Os mosteiros russos mantinham constante contato com Constantinopla e com os mosteiros do Monte Atos.

No ano de 1448 a metropolia moscovita obteve o status de Igreja Autocéfala. Sob o reinado do príncipe Ivan III (1462-1505), no ano de 1480, Moscou libertou-se do domínio tártaro. A partir deste momento o estado moscovita transformou-se em potência. Isto favoreceu o desenvolvimento da Igreja Ortodoxa. Fundaram novos mosteiros, junto aos quais surgiram oficinas de iconografia, asilos, hospitais e oficinas de artesanato.

Em 1589, por decisão dos patriarcas do oriente a Igreja Russa é elevada ao status de Patriarcado. O patriarcado constituía-se de 4 metropolias, 6 arcebispados e 8 bispados. Nas solenidades de proclamação do patriarcado participou o Patriarca de Constantinopla Jeremias II. O primeiro a tornar-se patriarca foi Job, metropolita de Moscou.

A transição do século XVI para o século XVII, apesar do sucesso religioso, não foi um período vantajoso para a história do patriarcado. Nos anos 1598 a 1613 a Rússia experimentou grandes abalos políticos. O fim do governo da dinastia Ruryk e a morte do czar Teodoro levaram à guerra civil e à anarquia. As invasões polonesas e suecas pioraram a situação. Novamente a Rússia subsistiu unicamente graças aos esforços do Patriarca Hermógenes e dos monges do mosteiro de São Sérgio. A Assembléia nacional no ano de 1613 elegeu como czar Miguel Romanov de 16 anos, o que causou uma lenta estabilização da situação no país.

Em 1652 Nikon (1652-1681) tornou-se patriarca de Moscou, e com objetivo de uniformização dos livros litúrgicos com os originais gregos recomendou traduzi-los de novo e ordenou aplicar os ritos gregos em todos os lugares onde os ritos locais estavam diferentes. Parte do clero, com o protopresbítero Habacuque na liderança, recusou obediência ao patriarca. Os adversários de Nikon formaram uma comunidade própria de fiéis ao rito antigo. Nos anos 1666-1667 foi convocado um concílio em Moscou, no qual estiveram presentes Paisios, o patriarca de Alexandria e Macário, o patriarca de Antioquia. O concílio condenou os seguidores do rito antigo e julgaram também o Patriarca Nikon.

Um importante acontecimento do período citado foi a incorporação ao império moscovita das terras da parte ocidental da Ucrânia, que encontravam-se nas fronteiras com a Polônia. Em virtude do tratado de união em Krew, o grande principado da Lituânia uniu-se à Polônia, e em 1569 foi formado a partir deles um único país, a Polônia. Em 1596 ocorre a chamada “união de Brest” que tentou subordinar ao papa católico romano a Igreja Ortodoxa na Polônia. Isso deu origem a um dos motivos da explosão do levante cossaco na Ucrânia sob a liderança de Bogdan Chmielnicki em 1648. Buscando ajuda do czar Aléxis em 1654 em Perjaslaw, a assembléia dos cossacos aceitou a autoridade dos soberanos moscovitas. A guerra moscovita-polonesa, iniciada em conseqüência deste acordo, durou até 1667. Nenhum dos lados conseguia alcançar supremacia que caracterizasse uma vitória. Em virtude do conteúdo do acordo chamado “paz eterna” (1686), a Ucrânia foi dividida - a regiões à esquerda da Ucrânia incluindo Kiev entraram na composição do estado moscovita, enquanto as regiões à direita permaneceram com a Polônia. Em resultado dessas decisões, a partir de 1685 a metropolia de Kiev passou a estar subordinada ao Patriarcado de Moscou (o patriarca de Constantinopla Dionísio IV expressou sua anuência ao acordo em 1686).

O governo do czar Pedro, o Grande (1682-1725) teve influência desvantajosa para a Igreja Ortodoxa. No seu governo foram elaboradas reformas ao interior da Igreja, que tinham como objetivo subordinar a Igreja ao estado. No ano de 1700 morre o patriarca Hadrian, e o trono patriarcal é assumido, então, por Stefan Jaworski. Entretanto, ele não é elevado à dignidade de patriarca. Pelos próximos 20 anos o czar Pedro plantou nas sedes episcopais pessoas escolhidas por si. Sob supervisão do czar, o bispo Teofan Prokopowicz elaborou o “Regulamento clerical” publicado em 1721, que modificava a situação legal da Igreja. A mais importante deliberação deste novo regulamento foi a extinção do patriarcado e sua substituição por conselho administrativo fixo composto de clérigos e chamado de Santo Sínodo. O Sínodo compunha-se de um superior ou líder e dois substitutos, e outros oito membros indicados entre os bispos, monges e sacerdotes. O Sínodo não era um órgão formado por eleição, mas cada um dos seus membros era indicado pelo czar e ele mesmo podia destituir do cargo. Isto significava, é claro, a subordinação da Igreja às autoridades seculares e o cerceamento de suas atividades. Em face ao despotismo das autoridades, toda e qualquer oposição terminava com a morte ou aprisionamento dos insatisfeitos.

A limitação da influência e da liberdade da Igreja alcançou o seu ápice sob reinado da czarina Catarina II (1762-1796), quando foram tomadas terras da Igreja e fechados muitos mosteiros. Esta situação provocava protestos de muitos bispos. O mais conhecido foi Arsênio Matsiewicz, metropolita de Rostov, que no ano de 1772 a czarina mandou matar de fome, porque ele havia criticado sua política. Outros bispos foram enviados para a prisão ou privados do direito de usar os paramentos clericais. Neste tempo, apesar da difícil situação surgiram na vida da igreja sinais de renascimento espiritual. Estes indicativos estavam relacionados com a atuação de pessoas notáveis como São Tikon Zadonski (1724-1783) e São Paisios Wieliczkowski (1722-1794). Os maiores deles foram: São Serafim de Sarov, Metropolita Filaret (Drozdow), o bispo Teofan, o Recluso (Zatwornik), o bispo Inácio Branczaninow assim como os anciãos do eremitério de Optina com destaque para São Ambrósio de Optina.

No começo do século XX na igreja russa aparecia um anseio cada vez mais forte em direção ao restabelecimento do patriarcado. No dia 15 de agosto de 1917 foi aberto o Sínodo Local da Igreja Russa, cuja mais importante decisão foi a reabertura do patriarcado. Para patriarca de Moscou e de toda a Rússia foi eleito Tikon (Biellajewa), o metropolita de Moscou.

Infelizmente, eram já os turbulentos tempos pré-revolucionários. Em outubro de 1917, depois da revolução bolchevique, o Governo Provisório assume a autoridade no país, a Igreja fica privada de identidade legal. Confiscam, então, todo o seu patrimônio e inicia-se a perseguição ao clero. Até 1939 foram assassinados 130 bispos, milhares de padres e monges, e centena de milhares de fiéis. Um número ainda maior de pessoas foi condenado à deportação e a trabalhos forçados. A repressão, entretanto, não conseguiu destruir a Igreja.

As perseguições foram parcialmente interrompidas com a eclosão da II Guerra Mundial. Stálin buscando o pleno apoio da sociedade muda a política religiosa no país. Chega um tempo de tolerância para a Igreja. As autoridades comprometeram-se a cessar a propaganda anti-religiosa. Permitiram a eleição de um patriarca que foi o metropolita Sérgio (Starogorodski). Foram restituídas à Igreja 20 mil templos e 70 mosteiros, assim como permitiram a abertura de um seminário clerical. Nesta ocasião muitos clérigos foram libertados da prisão.

Depois da morte do Patriarca Sérgio em 1944, foi eleito patriarca Aléxis I (1944-1970), que pretendeu um amplo renascimento da vida da igreja. Entretanto, quando Nikita Kruchev assumiu o governo da URSS, novamente caiu sobre a Igreja terríveis perseguições. Dezenas de bispos, milhares de clérigos e dezena de milhares de simples fiéis alimentava os campos de trabalhos forçados, postos de trabalho e prisões. A destruição de igrejas cresce a um ponto inesperado, até então. A vida monástica passa a ser totalmente proibida. As atividades editoriais e educativas são rigidamente controladas.

Somente no governo de Michail Gorbaczow ocorreram mudanças significativas. A Rússia começa a caminhar em direção à Europa e tinha que rever sua relação com a religião. Passam a permitir a abertura de templos e mosteiros. Até o ano de 2000 foram restituídos à Igreja 60 mosteiros, 4000 igrejas e abertas mais de 2000 novas paróquias. As necessidades, entretanto, eram significativamente maiores. Sentia-se sensivelmente a falta de clero, igrejas e literatura religiosa. E o pior é que se aproveitando da situação de “fome de clero”, algumas confissões religiosas e seitas começaram aqui intensa agitação e proselitismo. Isto levou ao enfraquecimento da, até então, ativa participação do Patriarcado de Moscou no movimento ecumênico e esfriamento das relações com a Igreja Católica Romana (principalmente pelo seu retomado apoio ao revitalizado greco-catolicismo).

Atualmente o Patriarcado de Moscou possui 12 metropolias e 115 bispados, em torno de 500 mosteiros e 20 mil paróquias. Na composição do clero entram 151 bispos, 17500 padres e 2275 diáconos. Os fiéis estão em torno de 70 milhões. Na composição do patriarcado entram a Igreja Ortodoxa Ucraniana (5 metropolias, 32 bispados), a Igreja Ortodoxa da Bielo-Rússia (1 metropolia e 9 bispados), a Igreja Autônoma do Japão e várias dioceses na Europa e América do Norte. O chefe da Igreja atualmente é o Patriarca de Moscou e toda a Rússia, Aléxis II, que é o 15o. patriarca desde a formação do patriarcado. O atual patriarca nasceu a 23 de fevereiro de 1929 em Tallin. No dia 3 de setembro de 1961 teve lugar sua quirotonia para bispo. No dia 7 de julho de 1990 o Concílio local da Igreja Ortodoxa Russa elegeu o metropolita Aléxis para patriarca. A intronizaçao ocorreu a 10 de julho de 1990. O patriarca de Moscou usa oficialmente o título: “Sua Santidade, Patriarca de Moscou e toda a Rússia”. A residência do patriarca e sua catedral dedicada à Teofania situam-se em Moscou.



Sua Santidade ALEXIS II
Patriarca de Moscou e toda Rússia

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

OrtoFoto

Arquimandrita Simeão, Herzegovina
autor: Radoje Zivkovic

Oração de São João Crisóstomo

Creio e confesso, Senhor, que Tu és em verdade, o Cristo, Filho de Deus Vivo, vindo a este mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. Creio, também, que estes Dons são o Teu santíssimo e puríssimo Corpo e o Teu Sangue precioso.Eu Te peço, pois: tem piedade de mim e perdoa-me todas as faltas voluntárias e involuntárias, cometidas por palavras e atos, consciente ou inconscientemente e torna-me digno de participar, sem incorrer de condenação, nos Teus puríssimos Mistérios, para a remissão dos meus pecados e para a vida eterna. Amém.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

OrtoFoto

Mosteiro de Hancu, Moldávia
autor: Cosmin Nicu

terça-feira, 5 de agosto de 2008

História Resumida do Patriarcado de Antioquia

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas
O primeiro anunciador da Boa Nova no território do futuro Patriarcado de Antioquia foi o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Evangelistas Mateus e Marcos relembram como o Salvador tendo cruzado as fronteiras de Tiro e Sidônia cura a filha da mulher de origem sírio-fenícia, possuída por demônios (Mt 15, 21; Mc 7, 24). Entre os sete primeiros diáconos é citado Nicolau de Antioquia. Este fato testemunha que desde os primeiros momentos de existência do cristianismo atuava ali uma comunidade em expansão, da qual um de seus membros foi um colaborador dos Santos Apóstolos. Também está relacionada com Antioquia a atividade do Apóstolo Paulo, originário da cidade de Tarso não muito distante de Antioquia. Ainda como fervoroso perseguidor de cristãos, Saulo (o futuro Paulo) desejou ir a Damasco, a fim de perseguir os confessores de Cristo do local. Durante a viagem ocorreu a sua milagrosa conversão. Em Damasco aceitou o batismo das mãos de Ananias, superior da comunidade local. Deve-se lembrar também do apóstolo Pedro que significativamente contribuiu para a cristianização da cidade e é considerado seu primeiro bispo.

Os Atos dos Apóstolos falam muito da cristianização do território do atual patriarcado. Depois da morte do Arcediago Estevão cristãos em massa fugiram das perseguições: “... espalharam-se até a Fenícia, Chipre e Antioquia pregando a Palavra só aos judeus” (Atos 11, 19). Particularmente nesta última localidade a quantidade de convertidos foi tão grande que, “... a notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé a Antioquia. Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos de Cristo, pela primeira vez foram chamados de cristãos” (Atos 11, 22-26)

Antioquia nos primeiros séculos do cristianismo foi uma das mais importantes cidades da região. Cruzavam-se aqui duas vias comerciais e chocavam-se correntes filosóficas de regiões de todo o império. O ensino cristão local dinamizava a cidade. Existia nesta cidade uma escola catequética nos mesmos moldes da existente em Alexandria, que desempenhava um importante papel na formação ortodoxa do ensino da Igreja.

Hierarcas da igreja local opuseram-se ao arianismo – heresia que questionava a divindade do Filho de Deus e proclamada por um padre de Alexandria chamado Ário. O concílio local em 324 expressou este repúdio. Ativamente participaram também nos trabalhos do I Concílio Ecumênico, no qual os bispos de Antioquia, Damasco, Irenópolis, Selêucia, Sodoma, Sidônia, Tiro e muitas outras cidades do Oriente Próximo assinaram a decisão condenando a heresia do arianismo. As heresias que apareceram no século V – nestorianismo e monofisismo – violando a unidade da Igreja trouxeram muita confusão na vida da sociedade antioquina.

O período dos Concílios Ecumênicos foi um tempo de formação das fronteiras do patriarcado. No começo do século III o bispo de Antioquia era já, não apenas Metropolita, mas exarca de toda a Síria. O sexto cânon do I Concílio Ecumênico fala: “Que também sejam conservadas as prerrogativas da Igreja em Antioquia e outras eparquias” O lugar definitivo do patriarcado de Antioquia no díptico das igrejas foi determinado no 4o. Concílio Ecumênico (451) e no Concílio de Trullo (692).

No ano de 638 a Síria toda foi ocupada pelos árabes. Por motivos políticos a Igreja Jacobita (monofisita) os apoiou e os árabes perseguiram a Igreja Ortodoxa (Melquita), dificultando com isso a atuação do patriarcado. Havia chegado o tempo da intensificação da islamização. O idioma dominante passa a ser o árabe. Foi proibida a construção de novas igrejas cristãs e a realização de discussões religiosas com os mulçumanos. Limitações foram impostas à vida dos mosteiros. Seguiu-se, então, gradual enfraquecimento da Igreja de Antioquia.

Em 969 Antioquia foi resgatada por Bizâncio. Foi declarada a liberdade religiosa, revitalizada a vida espiritual dos cristãos e cresceu significativamente a importância do patriarcado. Infelizmente, já em 1084 Antioquia foi novamente conquistada pelos árabes. Seu poderio foi de curta duração desta vez e não causou à Igreja grandes prejuízos.
Em 1098 foi conquistada pelos cruzados, o que contribuiu para uma significativa influência da Igreja Ocidental no território do patriarcado.Os cruzados fundaram aqui um bispado latino com o patriarca Bernardo a frente do mesmo. Nesta época os patriarcas antioquinos orientais permaneciam em Constantinopla. De lá, também, sagravam os bispos e os enviavam para Antioquia. A situação se complicou ainda mais depois da ocupação de Constantinopla pelos cruzados em 1204. Dois anos mais tarde o governante de Antioquia Bohemund IV permitiu ao Simeão II voltar a Antioquia. Isto provocou ácidos protestos do papa e do patriarca latino Pedro. Apesar destes protestos o patriarca Simeão II permaneceu na sua cátedra até o ano de 1214. Finalmente, o patriarca ortodoxo foi obrigado a fugir e refugiou-se no reino de Nicéia onde morreu em 1235.

No ano de 1268 o sultão do Egito Mameluk Beibars el Bondogary (1261-1277) ocupou toda a Síria junto com Antioquia. Este cativeiro não foi, entretanto, tão incômodo quanto a liberdade sob o cetro dos cruzados. Nesta época, devido à destruição de Antioquia a sede do patriarcado foi transferida para Damasco. A Igreja pode, até certo ponto, desenvolver-se tranqüilamente.

Em 1517 o território da Ásia Menor foi dominado pelos turcos otomanos. Foi concedido ao patriarca local o direito de vigilância sobre a população cristã da Síria com a objeção de que com a vida ele deveria responder pela lealdade deles face às autoridades. Em troca poderia ter relativa liberdade em questões religiosas e a possibilidade de determinar os próprios impostos. Entretanto, a manutenção da paz não era devida a simples tarefas. Os gregos queriam lutar por sua liberdade, e isto significava perseguições. Outro grande problema da Igreja de Antioquia era as tentativas de forçar os ortodoxos à união com Roma. Isto teve lugar no período de declínio do império bizantino e intensificou-se após a queda de Constantinopla. Muitos esforços de propagação da união aconteceram em 1583 quando os jesuítas chegaram à Síria. Em resultado da atuação deles surgiu a Igreja Católico-Árabe Uniata na Síria. A atividade dos uniatas não arregimentou muitos confessores da Ortodoxia. Além disso, em 1846 muitos uniatas retornaram para a Igreja Ortodoxa (entre outros o bispo Amidy junto com seus fiéis). No tempo do patriarca Hieroteu este processo se intensificou ainda mais. Para a Ortodoxia voltaram milhares de fiéis do Egito e Síria. Em 1860 foi editada a encíclica dos quatro patriarcas do oriente, na qual aceitavam o retorno deles para a Igreja. O patriarcado contava, então, com 4 metropolias e 15 dioceses, mantinha 14 mosteiros e um seminário clerical.

Depois da I Guerra Mundial em 1918, parte da Síria foi anexada ao território do reino do Iraque. Na parte restante, no dia 25 de julho de 1922 foi ratificada pela Liga das Nações o mandato francês, o que de todo não contribuiu para a melhora da situação da Igreja Ortodoxa.

Depois da II Guerra Mundial foram tomadas iniciativas para a aproximação com as Igrejas Ortodoxas Irmãs. Foram aprofundados também os contatos com outros cristãos pela participação no movimento ecumênico. No final dos anos 40 o movimento de jovens revitalizou-se significativamente.

O número de fiéis pertencentes ao patriarcado, hoje, ultrapassa 3 milhões (não apenas na Ásia). Em sua maioria são árabes. O patriarcado compõe-se de 19 metropolias, das quais: 6 encontram-se na Síria, 6 no Líbano, 3 na Turquia, 1 no Iraque, uma em Bagdá, uma no Kwait, uma na Austrália assim como 5 nas Américas do norte e do sul. Paróquias independentes do patriarcado encontram-se no território: do Brasil, Argentina, Arábia Saudita, Austrália e Nova Zelândia. A Igreja possui ainda a Academia de Teologia São João Damasceno (desde 1988 ela constitui um departamento da universidade em Balamand).

A partir de julho de 1979 o patriarca de Antioquia é Inácio IV, que é o 166o patriarca de Antioquia. Nasceu em 1920 na Síria. Foi elevado a dignidade de bispo em 1961. No dia 2 de julho de 1979 foi eleito patriarca de Antioquia e sua entronização ocorreu a 9 de julho do mesmo ano. O título oficial do patriarca é: “Sua Beatitude Patriarca da Grande Antioquia, Síria, Cilícia, Mesopotâmia e todo o Oriente”


A residência do patriarca e sua catedral dedicada à Dormição da Santíssima Virgem Maria encontram-se em Damasco.

Sua Beatitude INÁCIO IV
Patriarca de Antioquia e Todo o Oriente

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Santa Mirófora, Maria Madalena, Igual aos Apóstolos (+Séc.I) - 22 jul/04 ago

Nasceu em Magdalena (de onde surge o seu nome), uma vila a 4 km ao Norte de Tiberíade, na Síria. Na juventude foi possuída por forças do mal, mas quando recebida na fé cristã tornou-se sã. O Evangelho narra que Cristo passou pelas cidades e vilas proclamando a Boa Nova sobre o Reino dos Céus e iam com Ele os doze apóstolos e algumas senhoras, as quais Ele curou dos espíritos malignos e de doenças: “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios, Joanna, esposa de Cuza, procurador de Herodes e Suzana e muitas outras que O serviam com seus bens (Lc. 8,3)”.

Maria Madalena foi zelosa cristã cuja fé e amor por Cristo nada podia derrotar ou abalar no mundo. A Santa, como fiel discípula, foi com Seu Senhor, acompanhou-O até o Gólgota e foi a primeira a encontrar o túmulo vazio “... dois anjos vestidos de branco, sentados...” os quais anunciaram-na a Ressurreição de Cristo. Assim como foi a primeira para quem o Senhor Ressuscitado se manifestou e enviou-a aos discípulos com a Boa Nova.

Depois disso em toda a sua vida, Maria Madalena foi exemplo de devoção e serviço a Igreja. A Tradição relata que pregando em Roma, ela chegou ao palácio do imperador Tibério. Na audiência com o imperador ela lhe contou sobre o Senhor Jesus Cristo sobre seu ensinamento e ressurreição dos mortos. O imperador duvidou do milagre da ressurreição e pedia provas a Maria Madalena. Então ela pegou um ovo cozido que estava em cima da mesa e entregando-o ao imperador disse “Cristo Ressuscitou!” Durante estas palavras o ovo branco ficou vermelho carmim nas mãos do imperador.

Depois, como os apóstolos, viajou pregando a Boa Nova aos países entre a Itália e a Ásia Menor. Quando aportou em Éfeso, uniu-se ao Apóstolo João, o teólogo, a fim de junto com ele propagar a Fé Cristã, e assim até o fim de sua vida. Morreu em Éfeso e as sua relíquias em 899 foram trazidas pelo Imperador Bizantino Leão VI, o sábio, para Constantinopla.

Conforme a tradição Maria Madalena foi chamada “igual aos apóstolos”, e seu culto é, em geral, na Igreja Ortodoxa como na Igreja Romana.

A memória de Santa Maria Madalena, a Igreja comemora em 22 julho/4 agosto e no Domingo das Miróforas (III Domingo da Páscoa.)

As Santas Mulheres – Pequeno dicionário bibliográfico, Jaroslaw Charkiewicz
Mosteiro Ortodoxo da Dormição da Mãe de Deus
Boletim Interparoquial agosto de 2004

domingo, 3 de agosto de 2008

História Resumida do Patriarcado de Alexandria

Calendário Litúrgico da Igreja Ortodoxa da Polônia de 2003
Tradução do Rev. Ighúmeno Lucas

Os primórdios do cristianismo em Alexandria estão relacionados com a pessoa do Santo Evangelista Marcos. Que pregou no Egito e na província Sirenaica ( atualmente Líbia). Ele organizou a Igreja Cristã em Alexandria e tornou-se seu primeiro bispo. Ordenou os primeiros presbíteros, ente eles Milaios, Sabino e Kerdon, assim como 7 diáconos. Encontramos também testemunhos que afirmam que em Alexandria São Barnabé pregou ( aqui encontrou e batizou Clemente o futuro bispo de Roma) assim como São Lucas, Evangelista (fala sobre isso, entre outros, o cronista do século XIII Salomão de Bássora, afirmando que justamente aqui São Lucas morreu sob martírio). O desenvolvimento do cristianismo em Alexandria é quase rival do ocorrido em Jerusalém.

No final do século II em Alexandria surgiu importante centro de estudo teológico cristão, a Escola Alexandrina de catequese. Sua fama e influência rapidamente cruzaram as fronteiras do Egito. A escola desempenhou importante papel na formação dos dogmas cristãos e abrigou muitos defensores da Ortodoxia.

O período das perseguições levou à divisão do cristianismo egípcio. O critério da divisão apoiava-se na nacionalidade. A elite cristã concentrava-se em torno do bispado e da escola de catequese e constituía-se de cristãos de procedência grega. Os cristãos procedentes da nação egípcia, chamados coptas, concentravam-se na devoção prática. A atmosfera entre ambos os grupos tornou-se várias vezes desagradável e frequentemente não amistosa.

O lugar de Alexandria na hierarquia das Igrejas ortodoxas foi determinado nos Concílios Ecumênicos. O 1º Concílio Ecumênico teve para a Igreja de Alexandria importância significativa – com o 6º cânon foi ratificada sua habilitação jurisdicional. O bispado de Alexandria foi elevado ao 2º lugar na hierarquia entre as Igrejas, logo após Roma. O 2º Concílio Ecumênico concedeu o segundo lugar a Constantinopla. Os alexandrinos a princípio não quiseram concordar com isso. O 4º Concílio Ecumênico com o cânon 28 ratificou a atual ordem das cátedras patriarcais. Infelizmente, neste concílio muitos cristãos de Alexandria não aceitaram o dogma sobre as duas naturezas de Cristo e pronunciaram-se a favor da heresia do monofisismo. Disputas dogmáticas por muitos anos consumiam a comunidade egípcia. Dividiram-se no momento em que mais precisavam se unir em face ao iminente perigo vindo do oriente.

Um período muito difícil da história do patriarcado de Alexandria foi o do domínio árabe nos anos 642-1517. Todos os cristãos independentemente do grupo a que pertenciam, sejam os ortodoxos ou heréticos, foram englobados no chamado “Sistema de Omar”. Este sistema dizia que os cristãos constituíam uma camada inferior da nação e que eram elemento estrangeiro no Egito. Foram determinados para eles impostos fixos e pesados, e eram ainda obrigados a pagar diversos tipos de impostos adicionais. Foram confiscados deles vários templos e foram privados da liberdade civil. Foram fechadas escolas, bibliotecas e até mesmo hospitais. Bizâncio não pode acomodar-se com a perda do seu celeiro (o Egito). Foram organizadas várias expedições com o objetivo de libertação do Egito, que terminavam sem sucesso e com novas sansões para os cristãos. Os cruzados também não conseguiram libertar o norte da África.

Depois do domínio árabe seguiu-se a dominação turca. Em 1517 o exército turco do sultão Selim I, o Magnífico (1512-1520) subordinou a si todo o Egito. Para os cristãos isto implicava em muitas mudanças. O califa turco concedeu ao patriarca de Alexandria, Joaquim (1487-1567) acordo reconhecendo sua dignidade e privilégios, assim como assegurando aos cristãos liberdade de desenvolvimento sob a condição de que os cristãos se tornassem súditos fiéis. Graças a essas mudanças e atividade do próprio patriarca, a Igreja começou a desenvolver-se. Foram construídas novas igrejas e reformadas as antigas. As estruturas administrativas da Igreja sofreram reformas. Foram restabelecidas as atividades educacionais e editoriais. Não significava, entretanto, que a vida dos cristãos na África tornava-se totalmente segura. Já em 1517, quando as forças reunidas de Veneza, Espanha e Roma derrotaram a frota turca, nos quadros da repressão revanchista foram fechados a maior parte dos templos, aumentados os impostos, limitados os direitos da população, o próprio patriarca temporariamente teve que mudar-se para Jerusalém.

Em 1590 Melecius Pigas tornou-se patriarca (até 1600). O endividamento junto aos turcos (cada patriarca tinha que pagar pesado imposto pela permissão para o exercício da atividade patriarcal) forçava-o a voltar-se para a Geórgia, Creta e Rússia com pedido de ajuda. Com objetivo de estabelecer relações de amizade com a Rússia, participou no sínodo endymus em Constantinopla, que concedeu o status de patriarcado à Igreja Russa.

O maior problema interno que o patriarca Melecius Piga teve que eliminar foi a atividade da ordem dos jesuítas, que foram convidados a Alexandria pelos coptas (monofisitas). O patriarca copta Gabriel VIII, a princípio contra qualquer contato com Roma em 1594 aceitou o primado do papa Clemente VIII. Os jesuítas tinham que apoiar os esforços coptas visando à conversão dos ortodoxos. Entretanto, os jesuítas rapidamente começaram a introduzir uma política própria. O patriarca Melecius conseguiu, então, estabelecer um acordo com os coptas, na força do qual os coptas desistiriam da atividade missionária com relação aos ortodoxos (não conseguiu, entretanto, realizar a unificação dogmática com os coptas, para que o patriarca envidou todos os esforços).

Em 1798 o Egito foi dominado pelo exército francês de Napoleão Bonaparte. Porém, já em 1805 os turcos novamente dominavam o leste da África. Neste mesmo tempo ocorreu o cisma entre os cristãos ortodoxos. Depois da morte do patriarca Hieroteu I, os cristãos do Egito, contra a tradição do século XVII de aceitação de novo patriarca indicado por Constantinopla, independentemente elegeram como patriarca o arquimandrita Hieroteus, aceito pelas autoridades locais. Os colonos gregos opuseram-se a tal comportamento. A pedido deles o patriarca de Constantinopla nomeou para a posição Artemius. Só depois de vários anos encerrou-se o litígio. Constantinopla aceitou a escolha de Hieroteus (Artemius desistiu da pretensão ao trono). O novo patriarca mostrou-se um bom pastor. Colocou muito esforço na elevação da importância da Igreja de Alexandria. Criou novos bispados e conduziu a abertura de representações da Igreja de Alexandria em outros países, por exemplo, Rússia e Romênia.

No ano de 1886 ocorreu a reforma organizacional a administrativa da Igreja, de maneira significativa aumentou a participação do laicato na vida da Igreja, por exemplo, a escolha do patriarca começou a ser decidida por uma assembléia geral do país. A segunda metade do século XIX trouxe também para o patriarcado de Alexandria uma série de outras mudanças. Depois da insurreição árabe de 1882 – sob o mote “Egito para os egípcios” – a cidade foi ocupada pelo exército inglês. O governo egípcio convocou-o com a participação de grande parte da população de origem árabe. Isto visava facilitar a “arabização” do patriarcado. Até, então, os gregos tinham maior influência na escolha do patriarca e na tomada de decisões. Os árabes começaram a exigir que fosse aceita e considerada também a opinião deles. O governo também queria ter influência na escolha do patriarca. Finalmente, foi decidido que a Igreja iria escolher três candidatos e as autoridades designariam um entre eles como patriarca. O primeiro patriarca escolhido desta maneira foi Melecius Metaksatis (1926-1935). Ele criou uma série de instituições, que melhoraram o trabalho do patriarcado: proibiu a ordenação de candidatos a sacerdote que não possuíssem formação teológica, fundou o seminário de Santo Atanásio, regularizou os direitos e privilégios do patriarca e aumentou-os, em 1934 e submeteu-os à aprovação nacional com o documento: “Regulamento do Patriarcado Grego-Ortodoxo de Alexandria”, dinamizou a atividade missionária e educacional. Tentou fazer de Alexandria o centro africano da ortodoxia. No tempo do patriarca Nicolau V(1936-1939) finalmente foi decidido a questão da escolha do patriarca. Ficou decidido, então, que a realização da escolha seria feita por um grupo composto, em igual número, de representantes do clero, leigos de origem grega e leigos de origem árabe (tinha por objetivos tornar a eleição independente da indulgência do governo).

A mais importante obra do patriarca Cristóvão (1939-1967) foi a dinamização da atividade missionária do patriarcado. Foram abertas duas novas dioceses fora das fronteiras do Egito. Foram enviados missionários ao Zaire, Quênia, Camarões e Gana; igrejas ortodoxas foram construídas em Uganda. Alexandria tornava-se a coordenadora da cristianização da África. Seus sacerdotes enfrentaram muitas dificuldades (várias vezes pagavam com a vida por seu fervor religioso) ao levar a luz espiritual a diversas tribos africanas.

O patriarcado de Alexandria atualmente constitui-se de 15 dioceses e aproximadamente 300.000 fiéis. A jurisdição estende-se por toda a África e Malta. O Santo Sínodo composto por 12 metropolitas auxilia o patriarca.

Desde outubro de 2004 o patriarca de Alexandria é Theodoros II. É o 116º patriarca de Alexandria, eleito em 09 de outubro de 2004.

O título oficial do patriarca de Alexandria é: “Sua Beatitude Papa e Patriarca da Grande cidade de Alexandria, Líbia, Etiópia, Todo o Egito e toda a África, Pai dos Pais, Pastor dos Pastores, 13º apóstolo e Juiz do Mundo”.


S. Beatitude THEODOROS II,
Papa e Patriarca de Alexandria e toda África.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Descoberta das Relíquias de São Serafim de Sarov (1833) - 19 jul/01 ago

São Serafim (no mundo como: Prohor Mochnin) nasceu em 1759 na cidade de Kursk, em uma família comerciante. Aos 10 anos de idade ele ficou seriamente enfermo. Durante sua doença ele viu em sonho a Mãe de Deus, a Qual prometeu curá-lo. Alguns dias depois acontecia uma procissão em Kursk com o ícone de veneração local e milagroso da Virgem, Mãe de Deus . Devido ao mau tempo a procissão seguiu um caminho mais curto que passava diante da casa dos Mochnin. Depois que a mãe trouxe Serafim para junto da imagem milagrosa ele recuperou-se rapidamente. Na adolescência ele precisava ajudar seus pais na loja da família, porém o comércio pouco o atraía. O jovem Serafim gostava de ler a vida dos santos, freqüentar a Igreja e se isolar para rezar.

Aos 18 anos de idade Serafim decidiu firmemente tornar-se monge. Sua mãe o abençoou com um grande crucifixo de cobre, o qual ele usou durante toda a vida, por cima de suas vestes. Em seguida ele entrou para o mosteiro de Sarov como noviço.

Desde o primeiro dia no mosteiro, a abstinência excepcional de alimentos e sono tornou-se particularidade característica de sua vida. Ele se alimentava apenas uma vez ao dia, e assim mesmo de muito pouco. Às quartas e sextas-feiras não comia nada. Após pedir a benção de seu "staretz" (superior espiritual), ele passou a se embrenhar na floresta com freqüência para oração e meditação religiosa. Daí a pouco tempo ele adoeceu gravemente, e durante três anos foi forçado a ficar acamado a maior parte do tempo.

E mais uma vez ele foi curado pela Santíssima Virgem Maria. Ela apareceu para ele acompanhada por vários santos. Apontando para o venerável Serafim, a Virgem Santíssima falou ao apóstolo João o Teólogo:"Este é da nossa linhagem." Depois, tocando seu flanco com o bastão, Ela o curou.

A tonsura monástica realizou-se em 1786 (quando ele tinha 27 anos). Deram-lhe o nome de Serafim, o que em hebraico significa "ardente, ígneo." Logo ele foi feito hierodiácono. Ele justificava seu nome através do ardor extraordinário da oração. Todo o tempo, exceto um breve descanso, ele passava na Igreja. Através dessa oração e dos serviços religiosos, São Serafim foi digno de poder ver anjos servindo e cantando na Igreja. Durante a liturgia da quinta-feira Santa ele viu o próprio Senhor Jesus Cristo na forma do Filho do Homem, seguindo para a Igreja junto com uma legião celestial e abençoando a todos que rezavam. Assombrado com esta visão o Santo não conseguiu falar por um longo tempo.

Em 1793 São Serafim foi ordenado hieromonge, após o que durante um ano ele oficiou e tomou a Santa Comunhão todos os dias. Após esse tempo, São Serafim começou a retirar-se para sua "ermida distante" - uma floresta afastada cinco quilômetros do Mosteiro de Sarov. Grande foi a perfeição alcançada por ele nesse tempo. Animais selvagens como ursos, coelhos, lobos, raposas e outros - se aproximavam da cabana do asceta. A "staritza" do mosteiro de Diveevo, Matrona Plescheiva, viu pessoalmente São Serafim dando de comer de suas mãos a um urso que veio até ele. "O rosto dele me pareceu excepcionalmente maravilhoso; estava radiante e iluminado, como o de um anjo," - ela descrevia. Enquanto vivia em sua ermida, certa vez São Serafim sofreu muito nas mãos de bandidos. Sendo muito forte fisicamente e estando de posse de um machado, São Serafim não opôs resistência a eles. Em resposta às ameaças e as exigências de dinheiro, ele colocou o machado no chão, cruzou os braços sobre o peito e obedientemente se rendeu a eles. Eles começaram a golpeá-lo na cabeça com o cabo do seu próprio machado. O sangue começou a escorrer de sua boca e ouvidos, e ele caiu sem sentidos. Depois disto eles começaram a bater nele com um pedaço de madeira tosca, davam pontapés e o arrastavam pelo chão. Eles pararam de golpeá-lo somente quando pensaram que ele havia morrido. O único tesouro que os bandidos acharam em sua cela foi o ícone do Enternecimento da Mãe de Deus, diante do qual ele sempre orava. Quando, após algum tempo, os bandidos foram capturados e julgados, o Santo monge tomou a defesa deles diante do juiz. Após as agressões físicas dos bandidos, São Serafim ficou encurvado pelo resto da vida.

Logo depois disso começa o período "pilar" da vida de São Serafim, quando ele passava os dias sobre uma pedra próxima à sua "ermida," e as noites - na espessura da floresta. Quase sem intervalos, ele orava com os braços erguidos para o céu. Essa façanha dele continuou por mil dias.
Por causa da visão especial da Mãe de Deus, ao final de sua vida São Serafim tomou para si a incumbência de tornar-se um "staretz" (ancião). Ele começou a receber todos que vinham procurá-lo atrás de um conselho ou orientação. Muitos milhares de pessoas, de todo tipo de vida e condição, começaram a visitar Serafim, o qual as enriquecia do seu tesouro espiritual adquirido por ele pelos feitos (ou atos) de muitos anos. Todos o viam como uma pessoa dócil, alegre, meditativamente cordial. Ele saudava os que chegavam com as palavras: "Minha alegria"! A muitos ele aconselhava: "Adquire a paz de espírito e milhares se salvarão a teu redor." Não importa quem viesse até ele, ele se inclinava diante de todos até o chão e os abençoava, beijando-lhes as mãos. Ele não necessitava de que os visitantes lhes contassem a seu respeito, pois sabia de antemão aquilo que cada um tinha na alma. Ele dizia ainda: "Alegria - não é pecado. Ela afasta o cansaço, pois, do cansaço surge o desânimo, e não há nada pior do que isto."

"Ah, se você soubesse, - dizia ele certa vez a um monge, - que alegria, que doçura aguardam a alma do justo no Céu, você decidiria suportar com gratidão qualquer tristeza, aflição, perseguição e calúnia nesta vida passageira. Se esta nossa própria cela estivesse cheia de vermes, e se esses vermes estivessem comendo nossa carne no decorrer de toda nossa vida na terra, deveríamos concordar com isso, com todas as nossas forças, afim de não perdermos de forma alguma a alegria celestial que Deus preparou para aqueles que O amam.

Um acontecimento milagroso da transfiguração da face do santo foi descrito por um admirador próximo e discípulo de São Serafim - Motovilov. Aconteceu no inverno, num dia nublado. Motovilov estava sentado sobre um tronco na floresta. São Serafim estava acocorado diante dele falando sobre o sentido da vida cristã, explicando, por que motivo nós, cristãos, vivemos na terra.
"É preciso que o Espírito Santo penetre em nosso coração, - dizia ele. - Tudo aquilo de bom que nós fazemos por Cristo, nos é dado pelo Espírito Santo, porém mais do que tudo a oração, a qual está sempre em nossas mãos."

"Batiushka"(padre) - respondeu Motovilov, - como é que eu posso ver a graça do Espírito Santo; como posso saber se Ele está comigo ou não?"

São Serafim começou a dar-lhe exemplos da vida dos santos e apóstolos, porém Motovilov ainda não entendeu. O santo então tomou-o com firmeza pelo ombro e disse: "nós dois agora, meu caro, estamos no Espírito Santo. Foi como se os olhos de Motovilov se abrissem, e ele viu que o rosto do santo brilhava mais do que o sol. Em seu coração Motovilov sentiu alegria e paz, seu corpo estava cálido, como no verão e ao redor deles se espalhava uma doce fragrância. Ele se apavorou com esta mudança extraordinária, principalmente com o fato de que o rosto do staretz resplandecia igual ao sol. Mas São Serafim disse-lhe: "Não tenha medo, meu caro. Você nem poderia estar me vendo se você mesmo não estivesse na plenitude do Espírito Santo. Agradeça ao Senhor por Sua misericórdia para conosco." Foi assim que Motovilov compreendeu, na mente e no coração o que significava a descida do Espírito Santo e Sua transfiguração no homem.

A descoberta das relíquias santas de São Serafim de Sarov no dia 19 de julho de 1903 foi assistido por muitos milhares de fiéis, clero e a realeza.O Czar Nicholas II era um dos portadores das relíquias em procissão e na ocasião, a Duquesa Elizabeth escreveu um depoimento testemunhando muitos milagres atribuídos ao santo.

São Serafim é comemorado 2 de janeiro/15 de janeiro